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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
OS PROVÉRBIOS DE BASE CORPORAL EM ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
Francimá Campos Rocha 1 (fcrocha@secrel.com.br)
(1. Curso de Letras da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, UECE / FECLESC)
INTRODUÇÃO:
A teoria aristotélica da metáfora, iniciada no século IV a.C., considerada um fenômeno de linguagem apenas, ou seja, um ornamento lingüístico sem nenhum valor cognitivo, vigorou durante vinte e três séculos como um dogma inquestionável e, no presente,é ela que a maioria das pessoas têm em mente quando ouvem ou se referem à metáfora. Mas a partir de 1970 começa a se dar de forma mais ampla e marcante a mudança paradigmática do dogma retórico da metáfora com todas as suas implicações, sobretudo no que diz respeito aos pressupostos da ausência do valor cognitivo e da determinação do significado. Lakoff e Johnson (2002), ao fazerem um oposição à teoria cartesiana, argumentam que corpo e mente não são mais vistos como separados, pois compreendemos o mundo por meio de metáforas construídas com base em nossa experiência corporal. Nossa corporeidade e nossa mente interagem para dar sentido ao mundo. Da mesma forma, a razão não seria algo que pudesse transcender o nosso corpo: ela é também corporificada, pois origina-se tanto da natureza de nosso cérebro, como das peculiaridades de nossos corpos e de suas experiências no mundo em que vivemos. Com isso, desconstrói-se o dualismo cartesiano entre corpo e mente. A partir dessa visão de uma mente corpórea, nosso objetivo é mostrar que os provérbios, além se serem aceitos universalmente como sabedoria popular, são criados e aplicados a experiências pessoais e situações sociais diferentes porque conceitualizamos nossas vidas, em grande parte, em termos figurativos, metafóricos.
METODOLOGIA:
Com base nos pressupostos teóricos de Lakoff e Johnson destacados acima, procedemos à realização do estudo. Primeiramente, fizemos, mais de uma vez, a leitura do livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. Ao logo das leituras fomos destacando e digitalizando todos os provérbios encontrados na obra, para construir nosso corpus. Encontramos, ao todo, cinqüenta e nove expressões proverbiais. Depois de termos destacado e digitalizado os provérbios, nossa próxima etapa foi fazer a separação daqueles que tinham base corporal dos que não tinham. Para fazermos essa separação, seguimos a classificação de Votre e Rocha (1996).
RESULTADOS:
Dos cinqüenta e nove provérbios encontrados, verificamos que quinze faziam referência a alguma parte do corpo e, destes, doze faziam menção aos olhos (a visão). Podemos dizer que do total geral de provérbios encontrados (cinqüenta e nove), vinte e cinco vírgula quatro por cento (25,4%) referiam-se a alguma parte do corpo, enquanto que destes, oitenta por cento (80%) mencionavam os olhos (a visão).
CONCLUSÕES:
Os resultados da análise indicaram que a maioria dos provérbios relativos a alguma parte do corpo fazem alusão aos olhos (a visão). Isso provavelmente ocorre porque a obra trata de uma cegueira que não é necessariamente a cegueira de alguém que já nasceu sem ver (cego) por algum tipo de deformação ou má formação de seus olhos / cérebro ou que, com o passar do tempo, foi acometido por um mal (alguma doença) que atingiu sua visão. Mas de uma cegueira mental, na qual, a partir dela, podemos perceber as qualidades e defeitos da humanidade representada pelos diversos tipos de pessoas, independente de posição social, religião e raça entre outras.
Palavras-chave:  Lingüística; Cognição; Provérbio.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005