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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
O DISCURSO EVOLUCIONISTA EM EUCLIDES DA CUNHA
Elizabeth Christina de Andrade Lima 1 (ecalima@terra.com.br), Jordânia de Araújo Souza 1, José Enilson Fernandes 1, José Marciano Monteiro 1, José Márcio da silva Vieira 1 e Lucivânia Figueiredo de Souza 1
(1. Depto. de Sociologia e Antropologia, Univ. Federal de Campina Grande)
INTRODUÇÃO:
A Guerra de Canudos (1896-1897) foi uma das mais importantes rebeliões messiânicas ocorridas no Brasil. Consistiu no ataque das tropas da República aos sertanejos do arraial de Canudos, que estavam aglutinados em torno da figura carismática do beato Antonio Conselheiro. Enviado por um jornal paulista para cobrir os acontecimentos do combate, o engenheiro militar Euclides da Cunha (1866-1909) testemunhou o quadro social existente nas áreas sertanejas do Nordeste, o que resultou naquela que é considerada uma das principais obras da língua portuguesa, “Os Sertões”. Ele não só descreve detalhadamente o conflito, como também os aspectos geográficos da região e, principalmente, os aspectos sociológicos daquelas populações. O objetivo específico deste trabalho é demonstrar quais as correntes teóricas utilizadas por Euclides da Cunha para explicar a religiosidade, a etnicidade e as condições de miséria vividas pelos sertanejos de Canudos.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada foi a análise do discurso do referido autor, contida em duas diferentes edições de “Os Sertões” (na 3ª e 27ª edições). Tal análise advém de estudos realizados no Pet-Antropologia, sobre a corrente de pensamento denominada Evolucionismo Vitoriano. Os autores evolucionistas defendiam que as sociedades se desenvolvem passando por diferentes estágios evolutivos (selvageria, barbárie e civilização). Isso implica, em última análise, em dizer que existem povos mais “evoluídos” ou mais “civilizados” do que outros. Este pensamento influenciou a obra de Euclides da Cunha, a ponto dele adotar o viés evolucionista como referencial teórico. Então, o escolhemos como objeto de estudo, por ser ele relevante para o entendimento de como esta teoria foi compreendida pela intelectualidade brasileira.
RESULTADOS:
Euclides da Cunha deixa transparecer em seu discurso uma compreensão da sociedade sob o prisma racial e do determinismo biológico. Para ele, há claramente um desnivelamento qualitativo entre as raças humanas, no sentido de que, biologicamente e, por conseqüência, culturalmente, uma raça é superior às demais, sendo a miscigenação entendida como um fator negativo para a sociabilidade. Os termos utilizados, tais como, “raça menos favorecida”, “retrocesso”, “estigma da fronte escurecida”, entre outros, denotam um radicalismo teórico que termina por recair em um etnocentrismo exacerbado. Isso porque Euclides tende a ver o europeu como o modelo a ser seguido, tanto pela questão de raça, como pelo desenvolvimento intelectual alcançado. A doutrina positivista também influenciou sobremodo a sua análise. Por isso, ele não aceita a religiosidade sertaneja enquanto uma manifestação cultural, mas sim, como algo fruto do “atraso mental”, da “ingenuidade”, numa noção de “alienação”. Porque, de acordo com os positivistas (que influenciaram a criação da República), a ciência é o estágio mais alto do pensamento humano. Outra doutrina muito presente no pensamento do autor de “Os Sertões” é o determinismo geográfico. Isso transparece no momento em que ele escreve que o homem do sertão é rústico e miserável, porque a região que ele habita o faz assim. Embora importantes enquanto produzidas em um determinado contexto histórico (séc. XIX), tais teorias já foram superadas.
CONCLUSÕES:
O autor Euclides da Cunha, no livro “Os Sertões”, utilizou um conjunto de teorias da Sociologia e, principalmente, da Antropologia natural de sua época para explicar e compreender o fenômeno social da Guerra de Canudos. Essas teorias centravam-se nos determinismos e nas teses evolucionistas do final do século XIX, bem como no positivismo de Auguste Comte (1798-1857), sendo, assim, teorias produzidas pela elite pensante da Europa, e aplicadas na tentativa de explicar a realidade brasileira. O discurso euclidiano caracteriza-se por uma visão fortemente etnocêntrica, típica da escola evolucionista, pois, entende como inferior toda a sociedade que não segue os padrões da sociedade européia.
Palavras-chave:  evolucionismo; raça; etnocentrismo.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005