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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 10. Psicologia Hospitalar e Psicossomática
O CONCEITO DE CORPO NA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO E DO MÉDICO: UM ESTUDO QUALITATIVO JUNTO A PROFISSIONAIS DE UM HOSPITAL PÚBLICO
Raul Max Lucas da Costa 1 (raulmax@edu.unifor.br), Gabrielle Bessa Pereira Maia 1 e Leônia Cavalcante Teixeira 1
(1. Mestrado em Psicologia, Universidade de Fortaleza - UNIFOR)
INTRODUÇÃO:
Elaborar um discurso sobre o corpo, na história da Medicina, implica delinear novas condutas terapêuticas e diagnósticas. No Ocidente, o cientificismo moderno possibilitou uma nova linguagem médica, ocupando o corpo um lugar central nas investigações acerca da etiologia patológica. A biomedicina ou Medicina Ocidental destaca-se por sua particularidade frente a outras modalidades médicas ao ressaltar o caráter biológico, sendo o corpo concebido em sua concretude orgânica passível de delimitação em componentes e em sistemas. Em outra perspectiva, o campo “psi”, enquanto heterogêneo e conflituoso, abrange múltiplos olhares sobre o corpo: a psicanálise surge quando Freud supera a noção biológica do corpo revelando seu estatuto simbólico e erógeno; a psicossomática propõe uma síntese entre soma e psique, destacando a implicação do doente no seu adoecimento e a Psicologia da Saúde vincula o corpo a uma perspectiva holística próxima das medicinas orientais. O hospital, lugar tradicionalmente privilegiado do exercício médico, vem acolhendo novas disciplinas, dentre elas a Psicologia. Este trabalho objetiva analisar o conceito de corpo para os profissionais médicos e psicólogos que trabalham em instituições públicas de saúde. Tal estudo possibilita um olhar amplo acerca do paciente, bem como um repensar da formação e das práticas médicas e psicológicas dos profissionais que atuam em hospitais públicos.
METODOLOGIA:
O local escolhido para a pesquisa de campo foi o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), por ser uma instituição de saúde pública que oferece um espaço para pesquisa, extensão, ensino e prática profissional. É um hospital de referência no Estado do Ceará ao prestar serviços de âmbito geral na área de saúde, tais como: emergência, ambulatório, enfermaria e cirurgia em diversas especialidades médicas, acolhendo residentes que concluíram a graduação em medicina e psicólogos que atuam em todos esses setores. Abordamos médicos residentes da referida instituição por serem profissionais que estudaram concepções psicológicas na sua formação, assim como os psicólogos, independentemente de sua abordagem teórica. Verificamos os saberes psicológicos que foram adquiridos na academia e analisamos os sentidos que estes os atribuem, assim como a maneira como se apropriam desses conhecimentos em sua prática. Utilizamos um questionário semi-estruturado baseado nos conceitos de formação acadêmica, saúde/doença, corpo/mente, morte, dentre outros, a partir dos quais rastreamos os aspectos relacionados a categoria principal de investigação: corpo.
RESULTADOS:
Observamos na formação médica a primazia do orgânico sobre o psicológico eclodindo concepções restritas à biomedicina nas quais o corpo seria um conjunto de sistemas harmônicos. A formação do psicólogo não contempla disciplinas da área hospitalar, dificultando a apreensão satisfatória do corpo adoecido fazendo com que esses profissionais recorram a conceitos da psicologia social para embasar sua prática no hospital público. O corpo, para os médicos, estaria ligado a mente, estando ambos mutuamente influenciados; a doença seria uma alteração metabólica e desequilíbrio da harmonia mente/corpo. Para os psicólogos o corpo é sede de uma linguagem representativa do sofrer, sendo o adoecer orgânico definido a partir da mente, predominando a perspectiva de interferência desta no adoecimento; o corpo estaria vinculado ao psicológico, não havendo separação entre ambos. Saúde para ambos os profissionais traria os sentidos da Organização Mundial de Saúde mas, o psicólogo vai além remetendo-se a conceitos referentes as práticas sociais as quais estariam sujeito em sua inserção numa instituição pública. O conceito de corpo ganha relevância quando os médicos são questionados sobre a morte, que seria a falência do organismo e da terapêutica, revelando o fracasso da formação acadêmica. Os psicólogos referem-se a morte como categoria na qual a falência orgânica também seria premente considerando que perdas cotidianas seriam não só de aspectos fisiológicos mas, de um processo normal do viver.
CONCLUSÕES:
Concluímos que a biomedicina ainda é o principal fundamento teórico adquirido na formação acadêmica dos residentes. Este modelo de compreensão corpórea foi constatado nas entrevistas realizadas com os médicos, onde mais uma vez a perspectiva anátomo-fisiológica é contemplada. Chamamos atenção, porém, para o fato de surgirem referências à categoria de mente e como esta é indissociável da dinâmica corporal do sujeito. Podemos nos interrogar quais os fatores que levam os profissionais de medicina, mesmo tendo uma formação tão arraigada do ponto de vista dos preceitos biomédicos, a admitirem a existência de outra instância – a mente - que se liga ao corpo concreto, embora esta não sendo um campo de atuação passível de compreensão para eles e, imaginariamente, possa ser descartada quando das intervenções relativas ao adoecimento orgânico. O saber psicológico revelaria uma tendência reducionista da influência unilateral da mente sobre o corpo sendo este apenas sede das representações da instância psíquica. O corpo é a fala de um enigma, um saber que apenas o psicólogo estaria capacitado para decifrar. Os psicólogos cairiam na malhas da psicologização dos sintomas, espaço perigoso para elaborações sobre o adoecer que não pode ser visto como casuístico precisando ser questionado em suas raízes sociais e familiares. As conceituações sobre o corpo de ambos profissionais repercutem nas práticas junto ao paciente, situando-o em universos fragmentários e reducionistas.
Instituição de fomento: PROGRAMA DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - PROBIC - UNIFOR
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  CORPO, HOSPITAL PÚBLICO; PSICOSSOMÁTICA, PSICOLOGIA, MEDICINA; FORMAÇÃO ACADÊMICA.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005