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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 3. Sociologia do Desenvolvimento | ||
DE MIGRANTES À SUJEITOS POLÍTICOS? ANALISANDO MIGRAÇÃO E ADAPTAÇÃO ENTRE FAMÍLIAS DE PESCADORES ARTESANAIS RESIDENTES NA TRAVESSA DO FURO DO MAGUARI, EM ICOARACI (BELÉM/PA) | ||
Natasha de Jesus Veloso 1 (natashaveloso@yahoo.com.br) e Maria Cristina Alves Maneschy 1 | ||
(1. Departamento de Sociologia, Universidade Federal do Pará - UFPA) | ||
INTRODUÇÃO:
Partindo-se do pressuposto de que as transformações políticas, econômicas e sociais desencadeadas pelas intervenções estatais, intensificadas em meados da década de 1960 através dos grandes projetos desenvolvimentistas, pretende-se compreender e analisar como famílias de pescadores artesanais “reagem”, experimentam e interpretam tais mudanças de ordem macro-estrutural. Nesse sentido, delimitou-se o campo de pesquisa empírica na Travessa do Furo do Maguari, no Distrito de Icoaraci, em Belém, estado do Pará, porque nesse espaço há expressiva concentração de famílias de pescadores artesanais migrantes, estudadas aqui enquanto representantes de modos de vida pautados em práticas e relações sociais tradicionais. Este trabalho se propôs a examinar feições da migração empreendida pelas famílias de pescadores que residem na referida travessa, enfatizando aspectos da situação de vida e trabalho no local de origem, as peculiaridades do deslocamento espacial e os arranjos sociais empregados neste processo. Destacou-se, também as condições atuais de vida e trabalho, considerando as formas tradicionais e “novas” de adaptação à área urbana e às mudanças em curso no contexto sócio-econômico regional. |
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METODOLOGIA:
Para auxiliar a análise de conceitos e teorias pertinentes ao estudo sobre migração e associativismo, realizou-se levantamento bibliográfico e documental. A pesquisa in loco foi efetuada em duas etapas: primeiramente coletou-se de dados em formulário, com amostra representativa de 25 domicílios, visando reter dados sobre idade, sexo, estado civil, grau de escolaridade, local de origem, se residiram em outros municípios, as razões da migração para Icoaraci; posteriormente, executou-se entrevistas em profundidade em sete lares, de modo a captar elementos da história de vida dos indivíduos que iniciaram a migração. Procurou-se indagar sobre aspectos que possibilitassem reconstituir a trajetória ocupacional dos pescadores na cidade, identificar em que condições se mantêm na atividade pesqueira, considerando os “projetos” de vida ou expectativas de mudanças, aspectos relativos às condições de propriedade dos meios de trabalho, destino dos filhos, escolaridade e padrão de vida (habitação e saúde), verificar a importância dos laços familiares, de vizinhança e conterraneidade no cotidiano e trabalho, a participação nas entidades associativas profissionais e de moradores. |
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RESULTADOS:
Dos 49 domicílios, 19 são de pescadores artesanais. São famílias provenientes de áreas de ocupação antiga do Pará, como Ilha de Marajó, Zona Bragantina e do Baixo Tocantins. Migraram, sobretudo, em busca de melhores condições de vida e trabalho, de melhores áreas para pescar e comercializar o pescado, por conta da possibilidade de emprego, por causa da ausência e/ou precariedade dos serviços públicos nas áreas rurais e semi-urbanas do Estado. Articulou-se a migração de modo que os maridos viessem antes e a esposa com os filhos depois; antes da migração constituiu-se redes de informações e ajuda mútua da família, de parentes e conterrâneos. A inserção ocupacional do migrante na cidade e da sua adaptação social na sociedade de destino relaciona-se à luta pela permanência na atividade de pesca e do associativismo que favorece a organização social desses pescadores. De um lado, os laços sociais tradicionais, como o parentesco e conterraneidade, se fazem presentes na comunidade. De outro lado, verificou-se que alguns moradores são vinculados às associações profissionais, como associações de pescadores e a Colônia de Pescadores, e à incipiente associação de moradores do bairro. Tais entidades procuram não somente resolver, parcialmente, problemas no trabalho e cotidiano da categoria, como também obter financiamentos e parcerias para compra de barcos e instrumentos de pesca e desenvolver atividades que gerem renda. |
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CONCLUSÕES:
A migração pode ser percebida como uma alternativa de sobrevivência e reprodução social de famílias de pescadores artesanais, em meio às precárias condições de vida e trabalho nos locais de onde migraram. Contudo, a migração se deu para um local de possível adaptação, onde a pesca fosse desenvolvida para continuarem na pesca. Nos relatos das famílias de pescadores começamos a entrever que a situação de vida em Icoaraci esta um pouco melhor, sendo possível realizarem as atividades chamadas de bico, seus filhos têm mais oportunidades para ingressar na educação formal e após a chegada no distrito, alguns se tornaram donos de embarcação de pesca artesanal, outros passaram a pesca com parentes e amigos e outros passaram a ser proprietários de instrumento de pesca. Percebeu-se que os laços sociais tradicionais como o parentesco e o recente associativismo local, são importantes na organização dos trabalhos na pesca e nas lides quotidianas. Formam uma comunidade, fazendo-se presente os laços de parentesco, de conterraneidade e vizinhança. Recentemente, novos laços começaram a ser estabelecidos com as associações profissionais e de moradores que procura adentrar nos novos canais de acesso aos recursos públicos e às condições de trabalho na atual conjuntura política, social e econômica, apontando caminhos para formação desses migrantes enquanto sujeitos políticos. |
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Instituição de fomento: PIBIC/CNPq | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Migração e adaptação; Famílias de pescadores; Laços tradicionais e novo associativismo. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |