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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 6. Fundamentos e Crítica das Artes | ||
MELODRAMA E A CONSTRUÇÃO TIPIFICADA DE SEUS PERSONAGENS | ||
Aureliano Lopes da Silva Junior 2 (aurelianolopes@gmail.com) e Claudia Mariza Braga 1 | ||
(1. Depto. de Letras, Artes e Cultura, Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ.; 2. Depto das Psicologias, Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ.) | ||
INTRODUÇÃO:
Parte do projeto de pesquisa Do Melodrama à Telenovela: dramaturgia popular no Brasil, desenvolvido no GETEB - Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro, o presente trabalho analisa a construção das obras de cunho melodramático a partir da tipificação de seus personagens. A arte dramática se constrói e é caracterizada pela ação. A fábula nos é apresentada pela presença viva de atores em cena, ou seja, uma peça é construída através da ação, que só se efetiva, entretanto, através da relação que os personagens estabelecem entre si. No melodrama encontramos personagens tipificados, constituídos de forma fixa e bem definida. Este gênero caracterizou-se por alcançar uma grande popularidade desde o século XVIII e acreditamos poder afirmar que grande parte desta se deve exatamente ao fato do melodrama lidar com personagens estereotipados e oferecer ao público um conhecimento prévio de ações e reações, sendo a tipificação, então, apontada como uma das bases de sua boa recepção pelo público. Objetiva-se aqui, portanto, uma análise da construção destes tipos e de como os mesmos se relacionam, buscando chegar a uma compreensão de como o texto melodramático é construído. |
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METODOLOGIA:
Um dos pontos basilares estabelecidos em nossa metodologia de trabalho foi o recorte do corpus, formado tão somente de peças produzidas e/ou encenadas no Brasil. Explica-se, assim, a escolha da obra ora analisada: apesar de ser um melodrama francês, O Trapeiro de Paris, de Felix Pyat, foi traduzido para o português e levado à cena em nossos palcos em inúmeras ocasiões, nos séculos XIX e XX. No desenvolvimento do trabalho, utilizamos como metodologia um embasamento prévio de textos teóricos e estudos sobre o personagem já publicados. Após este momento inicial aplicou-se o conhecimento adquirido em análises de melodramas diversos, no caso específico deste trabalho, em O Trapeiro de Paris, de modo a efetuar um confronto entre a estrutura e características encontradas nesta peça e os estudos anteriores. |
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RESULTADOS:
Os resultados nos mostram que a estrutura melodramática se constrói basicamente através do embate entre núcleos de personagens opostos, uns representando o vício e outros a virtude. Esta estrutura é desenvolvida através de uma ação extremamente dinâmica, que trabalha com situações de extremo e transita entre dois pólos, indo da desolação e do desespero à serenidade ou euforia. Por serem também construções extremadas, os tipos são capazes de sustentar tal estrutura de forma exemplar. O enredo melodramático apóia-se sobre quatro tipos principais. O mais atuante deles é o vilão, movido pela ambição, que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Dominado por este sentimento, o vilão persegue os personagens considerados “bons”, na medida em que estes se constituem em obstáculos para a realização de suas metas. No melodrama o vilão é aquele que age, enquanto os personagens ligados à virtude sofrem e reagem a esta ação. Outro tipo basilar do gênero é o da inocente perseguida, personagem pura e virtuosa, personificação da honra e da moral. Em favor desta está o herói, modelo de virtude masculino. O amor e a honra compõem o desenho deste personagem, que será principalmente o guardião do direito. Contrapondo-se à intensa emoção gerada pela ação melodramática está o bobo, ou niais. Este personagem zomba de valores instituídos e apesar de ser movido por boas intenções, sempre se atrapalha na execução das ações, criando novas confusões e embaraçando-se de forma cômica. |
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CONCLUSÕES:
Concluímos que o melodrama é geralmente associado a um forte apelo emocional, trabalhando de forma intensa a emoção no palco. Esta emoção está presente na construção de seus tipos, é ela quem norteará as ações dos personagens. Estes são identificados com sentimentos que os estruturarão e os moverão durante toda a peça. Cada personagem é coerente com este sentimento que o caracteriza, efetivando ações ou demonstrando outros sentimentos relacionados a este principal. Sua mobilidade é reduzida, estereotipada, previsível. A tipificação permite ao espectador um rápido reconhecimento de determinado personagem e do que pode se esperar dele e esta fácil identificação pode ser apontada como uma das bases da enorme popularidade do melodrama junto ao público. Os personagens tipificados estão presentes no melodrama tanto nos papéis principais quanto nos secundários. Percebemos que este gênero se apóia nestes personagens para se construir e estes estereótipos por sua vez são constituídos fundamentalmente de sentimentos, de emoção. Concluímos, portanto, que a ação melodramática consiste no embate de emoções levadas ao palco, personificadas em personagens padronizados e que as bases do gênero se encontram, assim, na emoção produzida durante o espetáculo; que passa necessariamente pelo crivo do personagem. |
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Instituição de fomento: FAPEMIG | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Melodrama; Personagem; Tipificação. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |