IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
GESTÃO PÚBLICA E DESENVOLVIMENTO URBANO: CONHECENDO FORTALEZA ATRAVÉS DE SEUS BAIRROS
João Bosco Feitosa dos Santos 1, 2 (boscofeitosa@rapix.com.br), Maria Eliana Nobre Sampaio 2, Lígia Alves Viana 2, Carlos Vinicius Frota de Albuquerque 1, 2, Cimara Rodrigues Alves 1, 2, Hidis Helena Peixoto Cabral 1, 2, Julio Hercio Magalhães Cordeiro 1, 2, Maria das Graças Lessa 1, 2, Natalia Pinheiro Xavier 1, 2 e Rosana Lima Rodrigues 1, 2
(1. Departamento de Ciências Sociais - UECE; 2. Núcleo de Estudos Gestão Pública e Desenvolvimento Urbano/GPDU)
INTRODUÇÃO:
O Núcleo de Estudos Gestão Pública e Desenvolvimento Urbano/GPDU, fundado em 1998, é formado por professores e alunos que fazem parte do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará. O Núcleo é composto por três Laboratórios: Memória e Capital Social, Trabalho e Economia Solidária, Conflitualidade e Violência, cujo objetivo é o de conhecer Fortaleza através de seus bairros, abordando as temáticas consideradas.
O pressuposto orientador de suas pesquisas é o de que a cidade é constituída tanto pela sua materialidade, base sobre a qual se desenvolvem as dinâmicas visíveis do espaço urbano – a sua vida cotidiana, o seu fazer diário cravado no ir e vir dos seus habitantes e as estruturas concretas que, continuamente, emergem como objetivação dessas relações, quanto pelo que isso significa para seus moradores, objetivado através do imaginário social e seu poder instituinte.
Neste sentido, os espaços concretos da cidade moldam seus habitantes e por eles são moldados, como o familiar colchão em que se dorme. Relação que cria lugares comuns e os lugares de cada um, onde visões de mundo são estruturadas ao mesmo tempo em que estruturam territórios, imprimindo-lhes significados. Convém, portanto, na apreensão das complexidades da cidade, perceber o modo de sentir, de pensar e de agir dos grupos sociais, a partir do qual os territórios – lócus da reprodução material e simbólica dos seus habitantes – vão se constituindo, seja como um fato, seja como representação dele.
METODOLOGIA:
Por este motivo, a estratégia metodológica geral do GPDU é a de partir do entendimento local dos bairros como forma de compreensão da cidade. Ao longo destes anos, os percursos de pesquisa do GPDU têm conjugando dados de natureza quantitativa e qualitativa dos bairros.

Na abordagem quantitativa, é utilizada como fonte de pesquisa os dados do IBGE e de outras fontes estatísticas. Na qualitativa são utilizadas entrevistas individuais e Grupos Focais com moradores locais, visando a reconstituição da história oral local; visitas à instituições governamentais e não governamentais; uso da observação participante e da etnografia, conhecida como etnografia rua-a-rua, como recurso para a descrição minuciosa dos equipamentos sócio-culturais, econômicos, políticos e religiosos dos bairros, bem como para apreender os significados que lhes são atribuídos pelos grupos sociais locais. Também se busca captar as percepções desses grupos de suas formas de criatividade cotidiana como táticas de reprodução da vida material e simbólica. Após o processo de sistematização das informações adquiridas através da checagem, retorna-se à comunidade para apresentação e discussão aos moradores dos resultados preliminares. Com isto, é realizada uma sucessão de consultas-confronto que possibilitaram o alargamento das informações, ao mesmo tempo em que fomenta a mobilização da opinião dos moradores e o fortalecimento de ações dos grupos já organizados ou seu nascedouro, sobre a realidade dos bairros.
RESULTADOS:
O resultado destes procedimentos objetiva-se, em termos de produto final, em uma produção textual de informações sobre o bairro, chamado de Caderno do Bairro, que também tem sua versão informatizada. Estas duas formas de visualização constituem um banco de dados contendo levantamentos estatísticos e dados etnográficos do bairro, que podem circular de mãos em mãos e possibilitarem diferentes modos de acesso de dados locais, inclusive o de ser alimentado sistematicamente com novas informações. Entre os bairros trabalhados constam Serrinha, Itaoca, Fátima, Dias Macedo, Benfica, Parreão e o território do Grande Bom Jardim.
Foi na comparação entre os dados oficiais coletados com os dados efetivamente existentes que a realidade emergiu em sua forma mais imediata. De qualquer modo, o confronto dessas informações é o que parece de mais revelador para o aprofundamento do debate com a comunidade. Disparidades e contradições sobre equipamentos sociais, tais como escolas, áreas de lazer etc, políticas públicas, funções dos órgãos governamentais, limites geopolíticos entre outras questões, são reveladores de significados de natureza política na sua dimensão pública.
CONCLUSÕES:
A produção do diagnóstico possibilita um referencial na análise da realidade, gerando informações de natureza sócio-econômicas, políticas e culturais do bairro. A produção de conhecimento de modo orgânico e cooperado, e os processos de circulação desse conhecimento constituem um dos mecanismos capazes de qualificar o modo de sentir, pensar e agir das populações marginalizadas. Neste sentido, pode-se apreender os territórios de Fortaleza, tanto pela óptica dos problemas sociais decorrentes do crescimento desordenado da cidade, como, simultaneamente, pela óptica de suas potencialidades. Um aspecto importante na pesquisa é o de apreender as estruturas e manifestações reveladoras do capital social dos segmentos populacionais da região, acumulado ao longo dos enfrentamentos experimentados na esfera pública como, também, nas estratégias de sobrevivência engendradas no cotidiano ordinário.
Instituição de fomento: CNPq, FUNCAP, IC-UECE
Palavras-chave:  Gestão Pública; Desenvolvimento Urbano; Poder Local.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005