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G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História | ||
UM HERÓI PARA SERGIPE: ESTRATÉGIAS DA CONSAGRAÇÃO DE FAUSTO CARDOSO | ||
Giliard da Silva Prado 1 (giliardprado@yahoo.com.br) e Terezinha Alves de Oliva 2 | ||
(1. Departamento de História, Universidade Federal de Sergipe - UFS; 2. Departamento de História, Universidade Federal de Sergipe - UFS) | ||
INTRODUÇÃO:
Em 1906 ocorreu um dos principais movimentos políticos da História de Sergipe. Trata-se da revolta liderada pelo deputado federal Fausto Cardoso contra a oligarquia dominante. Os revoltosos chegaram a assumir o poder. Contudo, as autoridades depostas solicitaram que o Governo Federal interviesse no Estado. A operação militar da força interventora marcou com o assassinato de Fausto Cardoso o desfecho da revolta. Logo após o trágico acontecimento, os filhos do deputado, procurando vingar a morte do pai, assassinaram o senador Olímpio Campos – chefe da oligarquia. As mortes dos dois principais líderes políticos daquela época – um oposicionista, outro situacionista – causaram enorme repercussão em todo o Estado. Durante um bom tempo as opiniões e interesses dos sergipanos dividiram-se em função das lutas entre os dois grupos políticos. Nas hostes oposicionistas, teve início um amplo movimento para consagrar a memória do líder assassinado. Trabalhando com o imaginário, os valores e os interesses que marcaram a sociedade sergipana na Primeira República, este estudo ocupou-se do processo de construção de uma imagem heróica em torno da memória de Fausto Cardoso. |
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METODOLOGIA:
A partir da análise do noticiário da época, do discurso veiculado pela imprensa, da documentação referente às manifestações em torno da figura de Fausto Cardoso e da produção historiográfica acerca do processo político da revolta, foi examinado o movimento para consagrar a memória do deputado. Essas fontes foram analisadas levando-se em conta o lugar social ocupado pelos autores, sendo os seus discursos interpretados como tentativas de construção do real. Na pesquisa foi empregada uma abordagem que atenta para os usos do cultural pelo político, ou mais precisamente, para as representações simbólicas como formas de manifestação de poder. |
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RESULTADOS:
Um eficaz movimento de propaganda política apresentou Fausto Cardoso, desde a campanha pela sua eleição, como o indivíduo capaz de libertar Sergipe do jugo do governo oligárquico. No entanto, foi após a revolta que foram construídas as principais significações em torno de sua imagem. As homenagens póstumas tiveram início com a encomenda de missas fúnebres, as quais foram seguidas de práticas de elevado poder de significação simbólica: as romarias cívicas ao seu túmulo. A propagação da memória de Fausto Cardoso contou ainda com diversas representações, de que são exemplos: a sua efígie aposta em objetos de louça, broches e gargantilhas, as fotografias e, também, o grande número de ruas, praças e escolas às quais seria dado o seu nome. Contudo, o principal feito para a entronização do herói foi a inauguração, em 1912, de seu monumento na praça que era, a um só tempo, sede dos poderes políticos do Estado e importante espaço de sociabilidade. Na mobilização para a construção do monumento, cuja receita foi proveniente de subscrição popular, notou-se um verdadeiro congraçamento de políticos, intelectuais e populares. Merece destaque, sobretudo, a marcante participação feminina em todos os momentos da glorificação. Os discursos veiculados pela imprensa contribuíram para a construção dos sentidos de mártir e de herói atribuídos ao deputado morto, privilegiando em torno de sua imagem os elementos indicadores de sua heroicidade: coragem, abnegação, sacrifício e patriotismo. |
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CONCLUSÕES:
O processo de glorificação da memória de Fausto Cardoso deu-se sob um clima de intensa rivalidade entre dois grupos políticos antagônicos. A luta pelo direito à lembrança, de um lado, e a tentativa de imposição do silêncio, de outro, compuseram a tônica desse confronto no campo da memória. Apesar de toda a perseguição política a que esteve submetida, a construção da heroicidade de Fausto Cardoso contou com uma grande diversidade de meios: representações textuais, representações imagéticas, oralidade, rituais e cerimônias. Nesse movimento de consagração estava subjacente um projeto político dos faustistas que, derrotados em 1906 pela força das armas, procuraram, através da glorificação de seu líder, assinalar uma vitória simbólica sobre o grupo oligárquico. Apresentaram-se como os herdeiros políticos de Fausto Cardoso e através de uma consciente e habilidosa manipulação de símbolos conseguiram atingir o imaginário social, contando com a apropriação desses símbolos, ou seja, com o reconhecimento, pela população, da imagem heróica do líder assassinado. |
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Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Fausto Cardoso; Representações; Memória. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |