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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
ÍNDIOS, TERRITÓRIO E MEMÓRIA COLETIVA: A EMERGÊNCIA INDÍGENA CARIJÓ NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-ANTROPOLÓGICA
Alexandre Evangelista da Silva 1 (arquivope@yahoo.com.br) e Eraldo Gomes de Oliveira 1
(1. Depto. de Letras e Ciências Humanas - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
INTRODUÇÃO:
A pesquisa trata da emergência da identidade étnica indígena, a partir do segundo período do Império e início da República. Emergência que surgiu da necessidade de auto-afirmação indígena, oral, coletiva e simbólica, de ser índios e, daí, reinvindicar seus direitos de posse da terra e de cidadania, direitos que lhe foram negados na criação do Estado Brasileiro, no início do Império. A origem dessa emergência de identidade étnica aparece nos litígios pela posse da terra, entre grandes proprietários e indígenas, apontados como roceiros e não mais silvícolas, aos quais se refere o documento "A situação das terras do extincto aldeamento de Ipanema". A questão vem sendo estudada à luz da teoria relativista que mostra contradição no pensamento antropológico-biológico-culturalista, por tratar isoladamente aspectos fisiológicos humanos e a cultura material, negando a importância do sentimento coletivo da memória histórica. Por haver poucos estudos sobre a emergência indígena na perspectiva histórico-antropológica, referente aos indígenas da Região Nordeste, este estudo tem como objetivo reconstituir o passado coletivo-simbólico do grupo indígena dos Carijós, de Águas Belas (PE), que têm como remanescentes o grupo dos Fulni-ôs, ainda fixados na região. Busca-se entender os fatores históricos que contribuiram para a permanência do pertencimento coletivo e da memória simbólica do grupo e de sua resistência, de modo especial após a Lei Nº 601, conhecida por Lei de Terras (1850).
METODOLOGIA:
Para o levantamento de informações sobre o antigo aldeamento dos Carijós, estão sendo utilizadas fontes históricas e para estabelecer o quadro conceptual da pesquisa, fontes teóricas, justificadas em fontes históricas, como os Pareceres dos drs. Andrade Bezerra, diretor do antigo Departamento Estadual do Trabalho e Imigração e João Paes de Carvalho Barros, procurador geral, do Estado de Pernambuco reunidos na publicação "A situação das Terras do extincto aldeamento de Ipanema, em Aguas Belas" [1925?]. O quadro conceptual tem como base os seguintes teóricos relativistas: Fredrick Barth (1968), Max Weber (1993) e João Pacheco de Oliveira Filho (2004).
RESULTADOS:
A pesquisa referente aos fatos históricos traz à tona que os Carijós foram destituídos do direito a possuir seu lugar sagrado e a sua identidade étnica pelos proprietários locais associados ao poder público, tendo sido forjada uma categoria antropológica de índios misturados, roceiros, e transformado em terras devolutas o aldeiamento de Ipanema, como exemplo. Quanto à base conceptual, as teorias relativistas estudadas demonstram a relativização da Antropologia Histórica para explicar a atual situação da comunidade dos Carijós, por relacionar tempo e espaço, saindo de uma perspectiva material para simbólica de pertencimento memorial indígena, através da solidariedade mostrada no ritual do toré. Essa identidade simbólica manifesta-se nas cerimônias religiosas do toré, ritual simbólico que aproxima os indivíduos associados por uma história coletiva, por rituais que reafirmam a solidariedade do grupo. Existe uma grande diferença entre os antigos Carijós e os atuais Fulni-ôs, mas que não estão bem explicados pleas teorias raciais-biológicas ou culturalista-material, até hoje influentes nesse tipo de pesquisa, em que não se pode entender as necessidades sociais dos índios do Nordeste, apenas na ancestralidade ou por terras como questão central, que abortam a possibilidade do pertencimento e memória coletiva, o que realmente resistiria a destruição cultural e ao processo do tempo histórico discorrido, do século XIX ao XX.
CONCLUSÕES:
Buscou-se reconstituir, numa visão relativa, o passado dos Fulni-ôs, negados de forma disfarçada para não aceitar seus direitos, tão pouco afirmação grupal, identitária. Da análise documental realizada até o momento, pode-se concluir que, a transformação da idéia de índios misturados no Nordeste, tomando-se como exemplo o caso dos Fulni-ôs, remanescentes dos Carijós, passou por um processo histórico de extinção de identidade, numa construção elitista de mistura, e que podia se apoiar em concepções antropológicas, biológico-culturalistas. Apontou-se no período histórico desde a lei de Terras (1850) até a criação do Serviço de Proteção ao Índio, em 1910, a identidade étnica sobrevivente pela resistência da memória coletiva, da auto-afirmação enquanto povo indígena, que permeiam seus rituais, a exemplo do toré, e visão de uma cultura memorial, de que trata a teoria antropológica relativista, que mostra esses indígenas como identificados por uma cultura de pertencimento solidário, resistente às sanhas aculturadoras-civilizatórias das elites, bem como a complacência governamental com atitudes que beneficiavam judicialmente os litígios de terras para grandes proprietários.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  ÍNDIOS-NORDESTE; TERRITÓRIO INDÍGENA; ANTROPOLOGIA HISTÓRICA.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005