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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
A IMFLUÊNCIA DA VARIANTE "SÓCIO-SEXUAL" NAS RELAÇÕES SOCIAIS E PROFISSIONAIS DA MULHER: NA CIDADE DE BARREIRAS-BA
Suely da Cruz do Nascimento 1 (helena.ass@uol.com.br), Joaão Bosco Pavão 1 e Zoraíde Magalhães Felício 1
(1. Depto. de Ciências Humanas do estado da Bahia, UNEB, Campus IX)
INTRODUÇÃO:
(INTRODUÇÃO) Há um mito de que no Brasil existe uma “única” Língua Portuguesa. A maioria das pessoas percebe com facilidade a diferença dialetal na fala de individuo advindo de diferentes contextos. Muitos lingüistas (pre)ocupados com os estudos dialetais buscam apresentar diferentes variantes, na perspectiva semântica, sintática e fonética presentes na fala de cada indivíduo. Essa diversidade dialetal está relacionada com os mais variados fatores sociais, econômicos, culturais, regionais, sexuais a que o Indivíduo é submetido. Esta pesquisa pretende observar as peculiaridades presentes na variante de gênero que, independente de qualquer fator contextual, interfere sobremaneira na fala do Indivíduo, apresentando uma relação de poder e submissão que causa forte interferência nas relações sociais e profissionais da mulher. Tal observação foi fundamentada em princípios teóricos de Citelli (1999), Epstein (1993), Coulthard (1991) Gnere (2000), Mollica/Braga (2003) e Priore (2000).
METODOLOGIA:
(METODOLOGIA) A opção pelo estudo de caso originou-se do interesse pela variante “sócio-sexual”, despertada através de uma abordagem feita pelo orientador, em sala de aula, a respeito de pressupostos ideológicos de variantes lingüísticas. Foram entrevistados oitos casais, de diferentes contextos sociais, intencionalmente, em suas respectivas casas, sobre questões do cotidiano, o que possibilitou autenticidade comunicativa e uso de uma linguagem menos elaborada, apesar da presença (logo esquecida) do gravador. A técnica utilizada foi a observação intensa dos gestos, entonações, risos, interjeições (próprios da oralidade informal) a transcrição e a análise/interpretação dos dados que foram confrontados à luz do referencial teórico mencionado.
RESULTADOS:
(RESULTADOS) Pôde-se constatar nas 16 pessoas entrevistadas independente da classe social o uso constante de uma variante de gênero culturalmente machista. Nos casais de classe mais baixa a variante surge explicitamente, naqueles de classes mais elevadas aparece dissimulada na escolha vocabular. Observou-se na fala dos homens um índice bastante acentuado de expressões lingüísticas carregadas de “machismo”: “tem que” “eu posso” “não deve” “é dever da mulher”. Proporcionalmente essa variante, também, se apresenta no falar das mulheres, entretanto, de maneira mais ponderada: “é preciso colaborar” “eu gostaria”, “eu acho”, “se ele deixar”. Tal discurso é igualmente machista, porém, em condição submissa. Todas as mulheres entrevistadas trabalham, administram a casa e cuidam da educação dos filhos, mesmo quando são (ou estão) responsáveis pela manutenção do lar. Quanto à escolha profissional, quatro mulheres afirmaram ser feita pela possibilidade de maior aceitação no mercado de trabalho e não por vocação e/ou realização pessoal. Dentre essas, duas confessaram já ter sido preteridas em cargo de chefia por ser mulher, independente de critérios de capacitação e competência. Cinco homens disseram que a esposa só trabalha em lugar adequado para mulher escola, casa de família, empresa conceituada... e “durante o dia” onde ela não seja exposta a assédios “masculinos”.
CONCLUSÕES:
(CONCLUSÃO) Verificou-se com o estudo que a supremacia da variante lingüística masculina, ideologicamente estabelecida, influencia nas atividades sociais e profissionais da mulher. A predominância lingüística masculina, socialmente referendada por uma retórica persuasiva, autoritária, competitiva e dominadora versus o discurso cooperativo, socializado, integralizado e pacífico feminil, subjuga e limita a atuação da mulher desde o convívio familiar até as relações sociais e profissionais. Apesar de inúmeras conquistas no mercado de trabalho, a desvalorização da variante feminina incorre em prejuízos, frente à variante funcional masculina feita pelo homem e para o homem que persiste em atribuir às atividades femininas um caráter filantrópico, maternal, cooperativo, e quando muito de suplemento orçamentário. Mesmo quando em exercício profissional idêntico o prestígio e/ou remuneração são diferenciados, (cozinheiro/cozinheira, copeiro/copeira, costureiro/ costureira...). A despeito da situação confortável do homem, causada pela “imposição” da variante masculina, atualmente o discurso “passivo” feminino tem sido muito bem utilizado na arte de conciliar trabalho, administração da casa, educação dos filhos e qualificação pessoal, necessária à promoção da igualdade social e profissional da mulher.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Variante; A variante lingüísitca masculina; A influência da variante feminina.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005