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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
O DESEJO PELA AMANDA NOS POEMAS DE MANUEL BANDEIRA
Cláudia Simone Brum 1 (claudx2004@yahoo.com.br) e Maria das Dores Teixeira Raggi 1
(1. Departamento de Letras e Artes, Universidade Federal de Viçosa, UFV)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho realizou uma análise dos contos “Estrela da Manhã” e “Balada das três mulheres do sabonete Araxá” do autor Manuel Bandeira.
Objetivou-se realizar uma comparação entre os dois contos citados acima e uma breve análise da definição do “amor” segundo Platão em seu livro Banquete para que se possa diferenciar o que seria o verdadeiro amor e o que é o desejo pela mulher amada nos poemas de Bandeira.
Definiu-se também segundo Marilena Chauí o que podemos entender por “Desejo” e a origem da palavra.
METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizou-se a seguinte metodologia:
a) levantamento de dados: leitura e fichamento das abordagens teóricas, para embasamento do trabalho; coleta de dados, essencialmente os textos literários e históricos;
b) análise crítica dos dados coletados;
c) discussão das conclusões preliminares;
d) elaboração do texto;
e) redação final e comunicação.
RESULTADOS:
No poema “Estrela da Manhã” a sexualidade começa a ser exibida ao leitor no instante em que o protagonista fala “Ela desapareceu, ia nua” demonstrando que não encontramos uma mulher virgem e casta. O eu-lírico não demonstra ser preconceituoso, pois ele se iguala aos assassinos, suicidas, pulhas, ladrões, falsários, que são homens que já possuiram a “estrela da manhã”, para provar que também é merecedor de possuir a amada. A mulher é descrita como uma “virgem mal-sexuada”, “Atribuladora de aflitos” e é isso que ela faz com eu-lírico, pois ele a deseja de tal maneira que não é relevante o fato dela pertencer a todos, “pecai por todos pecai com "todos", pecai de todas as maneiras (...) depois comigo”.
Já no poema “Balada das três mulheres do sabonete Araxá” o eu-lírico deseja três mulheres que estão em um anúncio vulgar de um sabonete barato, e o desejo de possuí-las é tão forte que ele passa a confundir o desejo com o amor, uma obsessão que só tê-las já é o suficiente. Não encontramos uma individualidade de uma mulher e sim o desejo pelas três ”A mais nua é doirada borboleta. Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava para beber e nunca mais telefonava. Mas se a terceira morresse... Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!”.
As mulheres dos dois poemas são inalcansáveis, mesmo que a primeira aparentemente pertença a “todos”. Já as do segundo poema estão mais distantes ainda, pois são apenas uma fotografia de um sabonete barato.
CONCLUSÕES:
Segundo Chauí (AUTORES, 1990; 22-24) a palavra desejo (...) deriva-se do verbo desidero que, por sua vez, deriva-se do substantivo sidus (mais usado no plural, sidera) significando a figura formada por um conjunto de estrelas. (...) se, como amor, o desejo se alça à plenitude, como desejo o amor é cada vez mais sospirar: lamento, ância, nostalgia e vem depositar-se nessa palavra que apenas a língua portuguesa teve o engenho e a arte de inventar, saudade(...). Desiderium é o desejo ou apetite de possuir alguma coisa cuja lembrança foi conservada.
Platão em seu livro relata que o amor só pode ser considerado assim, pois se deseja o que não se tem, e que se a tivesse não desejaria. Então há sempre uma busca pelo amor, pela sua “cara metade”, um amor verdadeiro que não seja vulgar, que não prefira o “corpo ao espiríto, pois o seu amor não é duradouro por não se dirigir a um objeto que perdure. A flor do corpo que ama vem um dia a murchar” (PLATÃO, 2003,111) e não resistirá.
A mulher é vista como “um materialismo demolidor, um ceticismo tornado 'elegante' pela degradação dos princípios fundamentalistas, pela mais chocante obsessão, pelo exibicionismo de uma conduta sexual livre(...)”. Dessa forma o todo instante o eu-lírico por não poder possuir a mulher “amada”, passa a desejá-la ainda mais, aumentando assim o seu sofrimento, a sua dor, a sua angústia, sua loucura.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Desejo; Amor; Mulher.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005