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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA CARREIRA DOCENTE
MARIA AURICÉLIA GADELHA REGES 1 (auriceliagadelha@ibest.com.br) e MARCÍLIA CHAGAS BARRETO 1
(1. CENTRO DE EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho analisamos aspectos relacionados ao desenvolvimento profissional de professores do II Ciclo do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal, localizada em Russas-Ce. O interesse por este trabalho nasceu diante dos desafios vivenciados em cursos de qualificação de professores. Percebia-se que, via de regra, a depender do tempo de serviço que o docente já detinha, eles assumiam perspectivas diferentes frente às novas teorias ou propostas apresentadas em sala de aula. Decidiu-se, então, recorrer a Huberman para trabalhar com a sua perspectiva de desenvolvimento profissional, considerado como um processo que se inicia mesmo antes da formação inicial do docente e o acompanha por toda a sua trajetória profissional. A partir de um mapeamento que o autor realizou acerca dos ciclos de vida do ser humano, ele efetivou uma correspondência com os ciclos da carreira profissional, afirmando que ela se compõe de sete fases, organizadas de forma não linear que podem levar o professor à fase final de carreira denominada de desinvestimento com características amargas ou não. A partir da análise da trajetória profissional de dois professores entrevistados, objetivou-se captar a presença/ausência de elementos destas fases em sua carreira profissional. Os dados revelaram que os professores estão na fase de “questionamento” vivendo uma certa monotonia no cotidiano da sala de aula, sem contudo, visualizar a possibilidade de deixar a função docente.
METODOLOGIA:
Esta é uma pesquisa de cunho qualitativo em que se buscou captar as vivências profissionais específicas de professores do II Ciclo do Ensino Fundamental. Foi realizada em uma escola pública municipal, na qual já se vem realizando uma pesquisa mais ampla, com estes mesmos sujeitos, de modo que foi dispensado o momento de aproximação entre entrevistador e entrevistado. Foram pesquisados dois professores que se ofereceram espontaneamente para participar do trabalho. Com eles foi realizada uma entrevista semi-estruturada, através da qual eles tiveram a oportunidade de narrar a sua trajetória profissional, no ambiente da escola. Os dados coletados foram analisados à luz da teoria de Huberman que divide a trajetória profissional nas seguintes fases: 1) a entrada na carreira – fase de sobrevivência e de descoberta; 2) fase da estabilização; 3) fase da diversificação; 4) fase do questionamento; 5) fase da serenidade e do distanciamento afetivo; 6) fase do conservantismo e das lamentações; 7) fase do desinvestimento. Buscou-se captar elementos que evidenciassem se havia a correspondência proposta por Huberman entre os tempos de magistério e as fases da carreira docente.
RESULTADOS:
Os depoimentos dos professores indicam que nos primeiros anos na profissão,o professor vivenciou os dois tipos de reações: o estado de sobrevivência, “a primeira experiência foi árdua” e o estado de descoberta, “eu era criativo, dedicado, responsável”. A professora revelou-se no estado de descoberta, “eu tinha mais entusiasmo pelo trabalho, era muito criativa e pesquisava”.
Os professores também passaram pela fase de estabilização, sentindo-se mais confiantes. A professora sentia-se segura e recebia muitos elogios; o professor assumiu outras disciplinas por ser muito dinâmico. Ambos ampliaram a carga horária de trabalho e passaram a se preocupar mais com as tarefas pedagógicas.
A fase de diversificação começou muito cedo. A professora afirma que “era mais divertida, gostava de participar de cursos e usava mais material didático” e o professor revela que “dedicava-se muito à profissão, procurava conhecer mais”. Os professores confessam que, hoje, não fariam opção pelo magistério. A professora mostra-se desanimada ao falar sobre as dificuldades enfrentadas atualmente na ação docente. O professor, apesar de se considerar disposto ao trabalho docente, ao se referir aos alunos da 4a. série, mostra-se desestimulado, “pois são muitos alunos e apresentam muitas dificuldades de leitura”. Esses relatos nos mostram o descontentamento dos professores para com a sua função. Diria que eles se encontram na fase do questionamento, com alguns sinais da fase do conservantismo (queixas dos alunos, dos pais e do sistema).
CONCLUSÕES:
Esta investigação nos mostra que apesar de não existir uma seqüência linear de “comportamentos esperados” dos professores em sua carreira, algumas características e sentimentos são normalmente vivenciados pelos professores.
No caso dos professores pesquisados, não podemos considerar todas as fases da carreira docente, pois a professora e o professor têm, respectivamente 19 e 12 anos de profissão. No entanto, poderia afirmar que, os dois professores apresentaram, no início da carreira, mais momentos de entusiasmo do que de insegurança. Que, ainda nos primeiros anos de profissão, se dedicaram muito ao trabalho docente e procuraram diversificar o modo de ensinar, através de suas participações em cursos de capacitação e das buscas constantes de apoio. Porém, percebemos também que os professores atualmente se encontram com dificuldades para lidar com os alunos e queixam-se das mudanças exigidas pelo sistema educacional, da falta de apoio dos pais e do desinteresse dos alunos. Essas características dos alunos nos apontam a fase do conservantismo, segundo Huberman, e são consideradas por Ponte como “desresponsabilização”. Enfim, todas essas queixas, juntamente com a revelação de que, se pudessem, optariam por outra área de trabalho, nos mostram as insatisfações dos professores. Podemos dizer que estão na fase que Huberman considera de “se pôr em questão”, (embora, até o momento, não demonstrem disposição para se aventurar num outro campo profissional), com alguns sinais da fase de conservantismo.
Instituição de fomento: FUNDAÇÃO CEARENSE DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
Palavras-chave:  FORMAÇÃO DE PROFESSORES; DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL; CARREIRA DOCENTE.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005