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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
ELETRICIDADE NÃO DÁ CHOQUE
MARCO AURELIO DUQUE ESTRADA VIEIRA 1, 2 (madevieira@ibest.com.br)
(1. INSTITUTO DE CIENCIAS DE LA EDUCACIÓN, UNIVERSIDAD DE EXTREMADURA-UNEX-ESPANHA; 2. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL - SEDF-BRASIL)
INTRODUÇÃO:
A quase totalidade dos alunos de EJA são trabalhadores. Com sacrifício, acumulando responsabilidades profissionais e domésticas ou reduzindo seu pouco tempo de lazer, estes alunos freqüentam os cursos noturnos, na expectativa de melhorar suas condições de vida. A maioria nutre a esperança de continuar seus estudos, e ter acesso a outros níveis de ensino e habilitações profissionais, além é claro de conseguir um emprego melhor.
Promover a Escolarização, de adultos que não tiveram a oportunidade de cumpri-la na época certa é importante para cada um deles, para responder aos imperativos do presente e também para garantir melhores condições educativas para as próximas gerações.
Um ensino de Física que não ensine a pensar, a refletir, a criticar, que substitua a busca de explicações convincentes pela fé na palavra do mestre, pode ser tudo menos um verdadeiro ensino de Física. “É antes de tudo um ensino de obediência cega incorporada numa cultura repressiva” (Medeiros, 2000).
Neste trabalho desenvolvemos com alunos de EJA do 3° segmento um estudo de Eletricidade voltado para a o dia-a-dia associado a questões que permeiam o cotidiano. Utilizando-se da pedagogia de projetos o objetivo foi alcançado.
METODOLOGIA:
Este projeto de pesquisa foi e é desenvolvido no Centro Educacional n° 2 de Taguatinga-DF em 3 turmas de EJA – 3° nível do 3° segmento com aproximadamente 90 alunos adultos com idade variando de 21 a 59 anos.
Com a possibilidade de abstrair da teoria de eletricidade os fatos do cotidiano, o aluno adulto se envolve de tal forma, que a riqueza do conhecimento de toda uma vida é desenhado em situações observacionais. Assim, o aluno adulto aprendiz da teoria da eletricidade, passa a ser um observador de ciências em tempo integral. Uma lâmpada não é mais vista como um objeto que ilumina, mas uma parte de um circuito elétrico que consome energia elétrica, e que também pode ser calculado seu gasto presente e futuro.
Utilizando como fundamentação a Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire e a Andragogia de Knowles, somado às idéias da pedagogia de projetos, o aluno observador de ciências pode ao terminar este módulo de EJA, observar o mundo com outros olhos. Como dizia Einstein: “A mente que se abre ao novo conhecimento, nunca mais voltará a ter o mesmo tamanho”.
Os temas utilizados neste projeto foram: “O apagão 2000”; “Visita a AHE
Corumbá IV”; “A tradução das etiquetas de aparelhos elétricos em um Hipermercado, e seus custos (compra do aparelho mais a energia consumida durante sua vida útil) ”.
Com a pedagogia de projetos cada grupo de 6 alunos desenvolveu um subtema, ligado a cada tema principal com duração de um mês, ligados ao ensino de eletricidade.
RESULTADOS:
O rendimento dos alunos no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) no componente curricular
Física melhorou sensivelmente, em comparação com as metodologias tradicionais, utilizadas por outros professores (aumento de cerca de 50% na aprovação).
O aluno tornou-se agente de seu conhecimento, utilizando a pedagogia de projetos.
Os alunos ficaram conscientes de que são capazes de serem observadores de ciências e aplicando seus novos conhecimentos de eletricidade, passaram a olhar o mundo de forma diferente, tornado-se assim cidadãos mais exigentes de seus direitos.
A ida ao Hipermercado, mostrou à maioria deles que colher dados, fazer contas e decidir o
que querem comprar e não o que a mídia ou o vendedor sugerem, na maioria das vezes fazem economizar muito dinheiro, e se valorizam como cidadãos mais respeitados, valorizando assim a própria auto-estima.
Alguns professores do Centro de Ensino onde ocorre o projeto foram influenciados e já se fala em passar este projeto para o âmbito da Educação Ambiental.
CONCLUSÕES:
Avaliando os projetos realizados e já concluídos (para a realização deste trabalho) e comparando-os com os novos (estamos na 2ª edição do mesmo), podemos observar um significativo aumento na auto-estima do aluno-trabalhador tantas vezes iludido pelo governo, pela mídia, pela sociedade dominante, de tal forma que o sentimento de cidadania aflora fortemente em situações que até então passavam despercebidas pela maioria destes alunos. O direito de entrar num hipermercado e nada comprar, saber que uma usina hidrelétrica do porte de Corumbá IV está sendo construída com recursos dos impostos que nós pagamos e que temos o direito de visitá-la, bem como saber que fomos vítimas do terrorismo do apagão na era FHC, fez com que a maioria deles passasse a ver a Física, não mais como um terror, mas como uma ferramenta fundamental para entender o cotidiano.
Palavras-chave:  Eletricidade; Ensino de Física; Pedagogia de Projetos.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005