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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: ANÁLISE DO ENSINO DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NUMA ESCOLA PÚBLICA
Camila Farias Martins de Sousa 1 (camilafms81@yahoo.com.br) e Epitácio Macário Moura 1
(1. Depto. de Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
Uma análise histórica da educação brasileira nos prova o quanto o ensino de disciplinas eminentemente comprometidas com a crítica da realidade e com a busca da emancipação humana a partir do desenvolvimento do pensar autêntico dos alunos (dentre as quais destacamos a Filosofia e a Sociologia) vêm passando por dificuldades em vários níveis. Se fizermos referência ao período ditatorial (1964 a 1985), por exemplo, perceberemos que a legislação vigente na época previa a supressão dessas disciplinas dos currículos, por considerá-las um ameaça ao então regime de Estado. E o que temos atualmente, em termos legais, é uma Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que, embora admita a importância do conhecimento filosófico e sociológico para os alunos do Ensino Médio, não prevê o modo como deve ser materializado tal saber (ou seja, não torna obrigatório o ensino, propriamente dito, de Filosofia e Sociologia, deixando a cargo das Secretarias Estaduais de Educação definir tal questão). Diante desse quadro, a presente pesquisa (desenvolvida de junho de 2004 a fevereiro de 2005) propôs-se a investigar sobre os limites e as possibilidades da educação pública no tocante à formação crítica dos educandos das camadas populares (formação que seja capaz de servir-lhes como instrumento na luta por sua emancipação), a partir da inserção das disciplinas citadas na grade curricular das escolas de Ensino Médio de Fortaleza.
METODOLOGIA:
O Governo do Estado do Ceará conta, hoje, com cerca de 530 escolas de Ensino Médio sob sua gerência. O processo de seleção da escola na qual realizou-se a pesquisa deu-se de acordo com o interesse em estudar a realidade educacional do bairro da Serrinha, já que através de documentos disponibilizados pela Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC), percebemos a existência de apenas uma escola de Ensino Médio no bairro (a saber, Escola Jáder Moreira de Carvalho), que não consegue sequer suprir as demandas locais por matrículas. A metodologia utilizada compôs-se, fundamentalmente, de pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A análise teórica centrou-se no pensamento de autores como Antonio Gramsci, Dermeval Saviani e Paulo Freire. Os principais documentos utilizados foram: Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Escola Viva (documento do Governo do Estado, que visa relacionar as diretrizes propostas nos PCN à realidade de vida dos educandos), Projeto Político Pedagógico da escola, além de resoluções e pareceres que versam sobre a regulamentação do ensino de Filosofia e Sociologia. Em campo, optou-se pelo uso dos seguintes instrumentais: entrevistas com os professores de Filosofia e Sociologia das turmas de Ensino Médio, questionários aplicados a uma amostra de 20% do total de alunos desse nível de ensino, além de conversas informais com a diretoria e coordenadores da escola.
RESULTADOS:
A partir das entrevistas com os professores pôde-se perceber que estes, embora procurem integrar-se organicamente às atividades da escola (visto que demonstram valorizar bastante o trabalho que desenvolvem), terminam submetendo-se à realização de práticas ativistas, devido à própria condição salarial que possuem (chegando a lecionar durante os três turnos do dia em escolas diferentes), e isso acarreta problemas diversos, como: falta de tempo para o planejamento das aulas, utilização de metodologias pouco atrativas aos alunos, e, conseqüentemente, um baixo nível de participação por parte destes. As respostas contidas nos questionários, respondidos pelos alunos, confirmam tais dados (37% declaram que as aulas se dão de forma expositiva e, por isso, são “chatas”), e acrescentam outros: 35% não consideram o professor acessível (devido à pouca vinculação que os docentes fazem entre os conteúdos das disciplinas e a realidade cotidiana dos alunos), e 58% apontam como principal dificuldade do ensino de Filosofia e Sociologia a ausência de material didático (indicando um problema estrutural). Outra informação disponibilizada pelos questionários diz respeito ao quadro crítico em que se encontra grande parcela dos alunos, já na etapa final da educação básica que é o Ensino Médio quanto ao aprendizado das noções básicas de Língua Portuguesa (os erros de escrita e concordância são assustadores).
CONCLUSÕES:
Os dados supracitados apontam para a falta de condições objetivas necessárias ao bom funcionamento da escola (que Saviani considera como os motivos da “não-materialidade da ação pedagógica”). Assim, consideramos serem, sobretudo, a ausência de recursos específicos para a compra de material escolar do Ensino Médio (ao contrário do Ensino Fundamental, que possui um fundo de financiamento próprio – o FUNDEF), associada aos baixos salários pagos aos professores, ao atraso no repasse de materiais como papel, tinta para copiadora e impressora às escolas, dentre outros fatores, os principais motivos dos problemas levantados por alunos e docentes (que, como vimos, vão desde a utilização de métodos pouco atrativos até a falta de vinculação entre conteúdos clássicos, indispensáveis, e o cotidiano vivenciado pelos educandos). Em síntese, o que podemos concluir é que, para além do objetivo de formar indivíduos conscientes, críticos, que se encarem como sujeitos transformadores da realidade, é necessário (é, na verdade, imprescindível) à política de educação a existência do compromisso real para com a qualidade dos serviços prestados à população (cuja falta, comprovadamente, conduz a falhas imensas).
Instituição de fomento: Programa de Educação Tutorial
Palavras-chave:  EDUCAÇÃO; EMANCIPAÇÃO; SOCIABILIDADE.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005