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A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 10. Geociências
IMPACTOS AMBIENTAIS DA AGRICULTURA IRRIGADA: IRRIGAÇÃO E SALINIZAÇÃO DO SOLO NO PERÍMETRO CURU-PENTECOSTE
Cristiane Alencar Lima 1 (cristianegeografia@yahoo.com.br), Maria Cléa Brito Figueiredo 2, Fábio Perdigão Vasconcelos 1, Morsyleide Freitas Rosa 2 e Lúcia de Fátima Pereira Araújo 2
(1. Depto. de Geociências, Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA)
INTRODUÇÃO:
O perímetro público irrigado Curu-Pentecoste está localizado no médio curso do rio Curu, no Estado do Ceará, sob a planície fluvial deste, abrangendo porções dos municípios de Pentecoste e São Luiz do Curu. A fruticultura é a principal atividade desenvolvida, em que o cultivo de coco e a banana se destacam. Inicialmente foi chamado de Curu-Recuperação devido à infra-estrutura de irrigação ter sido destinada à agricultura irrigada privada. Entretanto, com o passar dos anos os irrigantes particulares não realizaram a manutenção necessária dos canais, resolvendo então o governo estatizar o projeto. No ano de 1974, foi dado início à operação de recuperação do perímetro que atualmente beneficia 175 irrigantes devidamente cadastrados no projeto. O perímetro é composto por 9 núcleos, divididos em dois grandes setores: General Sampaio (A, B, C, D, E e F) e Pereira de Miranda (G, H, I). Destes núcleos, apenas o “I” encontra-se fora da produção oficial, estando hoje ocupado por moradores que não têm nenhum vínculo com o perímetro. O principal objetivo desta pesquisa é avaliar o dimensionamento da irrigação, bem como a qualidade da água utilizada e sua contribuição para o processo de salinização do solo. Essa avaliação é essencial para se obter um diagnóstico da área e posteriormente fomentar o manejo racional dos recursos água e solo de forma a minimizar a depreciação desses recursos.
METODOLOGIA:
Inicialmente foi realizada pesquisa bibliográfica a fim de levantar dados sobre o sistema e infra-estrutura de irrigação. Em seguida, para reforçar os dados, foram realizadas entrevistas com os irrigantes e com o gerente do perímetro, no intuito de avaliar o dimensionamento dessa irrigação e verificar os dados em campo. Na etapa seguinte procurou-se avaliar a qualidade da água utilizada. No período de julho de 2004 a janeiro de 2005 foram realizadas coletas de água em 4 pontos considerados de maior relevância para o estudo, obedecendo uma periodicidade mensal, no início do período de irrigação e após seu término. A escolha desse período esta relacionada à ativação do sistema de irrigação devido a quadra de estiagem. A qualidade da água para irrigação foi determinada a partir dos valores de condutividade elétrica, pH e RAS (Razão de Adsorção de Sódio) e enquadradas na classificação proposta pelo U.S. Salinity Laboratory Staff - U.S.D.A. Agriculture Handbook N°60.
RESULTADOS:
A principal fonte de abastecimento de água são os canais de irrigação. O método de irrigação é feito quase que 100% por gravidade ou superfície, através do sistema de irrigação por sulcos. Observou-se que o principal problema é o desperdício de água, fator de grande relevância tendo em vista as condições de deficiência hídrica da área em estudo. Esse desperdício está diretamente ligado ao método de irrigação utilizado, que demanda uma grande quantidade de água, associa-se também às perdas ocasionadas pela infra-estrutura sucateada e, ainda, à falta de controle do volume de água utilizado. Ressalta-se que essa irrigação mal dimensionada, somada às condições ambientais locais pode levar à salinização dos solos. Em relação à qualidade da água de irrigação, os resultados mostraram que todos os pontos de monitoramento estão enquadrados nas classe C2 – S1, correspondendo à águas com salinidade média e com baixa concentração de sódio. As águas enquadradas nessa classe possuem poucas restrições de uso, são adequadas para quase todas os tipos de solo, porém exigem condições moderadas de lixiviação. Destaca-se que as condições ambientais do perímetro revelam que são áreas propícias à implementação da agricultura irrigada, mas que detêm limitações devido a drenagem imperfeita dos solos, o que pode ocasionar problemas relacionados a salinização destes. Os tipos de solos encontrados no perímetro são os neossolos flúvicos e associações de luvissolos e neossolos litólicos.
CONCLUSÕES:
Percebeu-se que a agricultura irrigada pode ocasionar danos ambientais consideráveis se os recursos água e solo não forem bem manejados. O desperdício de água é notório, realidade que deveria ser diferente, uma vez que o perímetro está submetido a condições de deficiência hídrica e, por isso, o recurso água deveria ser racionalmente utilizado. Em relação à qualidade da água os parâmetros de análises estão relacionados a uma utilização racional e adequada. Essa realidade não condiz com a área do perímetro, caracterizada por um mal dimensionamento da irrigação, condições climáticas desfavoráveis e de drenagem deficiente, de maneira que estas águas podem significar um alto risco à salinização. Diante do exposto, conclui-se, portanto, que não basta retirar de forma desordenada o que o meio ambiente oferece, deve sim, haver o compromisso com a utilização racional dos recursos naturais, no intuito de preservá-lo e garantir sua exploração pelas gerações futuras.
Palavras-chave:  irrigação; salinização do solo; impactos ambientais.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005