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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 4. Planejamento Urbano e Regional
A AÇÃO DOS INCORPORADORES IMOBILIÁRIOS COMO AGENTES DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NO RIO DE JANEIRO: O CASO DO RECREIO DOS BANDEIRANTES.
Marcelle Freitas da Silva 1 (cellefreitas@walla.com)
(1. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - IPPUR - UFRJ)
INTRODUÇÃO:
É impossível ao ser humano viver sem ocupar um lugar no espaço. Este pode adquirir lógicas e funções distintas. Sendo o espaço a expressão das relações sociais de produção, o homem, desenvolve um anseio natural em desvendá-lo, sendo assim, é mister estudá-lo, principalmente se for observado que este se encontra num processo de constante formação / transformação. Nesta busca pela compreensão do espaço inerente ao homem, que a cidade do Rio de Janeiro e mais especificamente o bairro do Recreio dos Bandeirantes, foram analisados.
A evolução do espaço urbano da cidade ocorreu do centro para as periferias, de acordo com os interesses do capital. A última área a ser anexada a malha urbana foi à zona oeste. O seu processo de incorporação ocorreu em dois vetores distintos. O vetor norte, que abriga as classes sociais de renda mais baixa e o sul com as classes mais abastadas, estando o Recreio neste vetor.
Para compreender a formação do espaço urbano, identificamos os seus agentes produtores, dando maior ênfase ao Estado e ao capital incorporador, por serem os mais atuantes no Recreio. A pesquisa é relevante, pois identificou aspectos estruturantes do espaço urbano, enfatizando a atuação das empresas de incorporação imobiliária e do Estado, sobretudo no Recreio dos Bandeirantes, bairro que por ser umas das fronteiras de expansão carioca, é desprovido de estudos.
METODOLOGIA:
Este estudo buscou investigar quem são e como atuam as empresas imobiliárias do bairro, observando como estas estão influindo na sua trans – formação. Aborda-se também, a segregação espacial do bairro, e os impactos ao meio ambiente, provenientes da sua urbanização.
No decorrer da pesquisa foi feito levantamento de material bibliográfico e de dados numéricos, junto agências públicas federais e municipais, como a Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente (FEEMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), entre outros.
Foram realizados monitoramentos de imagens de satélite, permitindo constatar a evolução do bairro, as reformas urbanísticas, os aterros, a ocupação de encostas e a redução do espelho d’água das suas principais lagoas e canais.
Além disso, os trabalhos de campo, possibilitaram uma melhor observação da atuação das empresas incorporadoras e do Estado no bairro. Feitas entrevistas com agentes imobiliários e com moradores, que vieram para a região em diferentes épocas, e principalmente, morando em condições distintas, comprovaram-se os processos evolutivos do bairro e as conseqüências que foram decorrentes deste.
RESULTADOS:
A ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial, que se faz através da incorporação de novas áreas, intensificação do uso do solo e deterioração de certas regiões, e renovação de outras. As incorporadoras têm influenciado bastante na transformação do Recreio, visto que este agente sempre balizou o seu uso, a sua função. Antes da década de 1990 o bairro era considerado como área de reserva fundiária, e após esta década, “chega à hora” do capital imobiliário transformá-lo em área de incorporação. A partir deste momento, ações públicas e privadas começam a se concretizar de forma a viabilizar o lucro dos incorporadores. Com isso, observa-se o quanto o Estado é influenciado por esses. O que é compreensível quando se observa que as pessoas que o compõe, pertencem as classes dominantes, detentoras do capital, e dos meios de produção do urbano. Paradoxalmente o Estado, pressionado pelos movimentos sociais, se vê “obrigado” a realizar ações que melhorem as condições de vida das classes sociais de mais baixa renda.
A transformação acelerada da região relaciona-se ao capital imobiliário através de dois fatores: o primeiro está ligado às estratégias de incorporação que careceram de grandes empreendimentos, e o segundo refere-se ao fato do bairro não ter passado por um processo de uso predial anterior, pulando para o que normalmente costuma ser a segunda fase do processo de adensamento dos bairros, a verticalização.
CONCLUSÕES:
Constata-se que a estrutura da cidade do Rio de Janeiro é delimitada segundo os interesses das classes dominantes. Na produção do espaço urbano por meio dos seus agentes, temos como representantes destas classes os que estão efetivamente no poder, o Estado, e os que o influenciam, os incorporadores imobiliários.
Os produtores não capitalistas do espaço urbano surgem então como opositores. Esta divergência de objetivos levam a ajustes na modelagem da cidade. É grande a força entre o “cabo de guerra” de se expurgar as favelas (pelo lado do capital incorporador) e de urbanizá-las (anseio de parte da sociedade). Em meio a isso entra a dialética da mão de obra, que fica mais barata próxima ao trabalho, mas que ao mesmo tempo não se deseja ter no bairro. Enquanto poucas ações são tomadas pelo Estado, se agravam os problemas sociais e ambientais. O que leva a concluir, que enquanto estes fatores não vierem a atrapalhar os lucros, não se reverterá esta situação. Sabe-se que os problemas do bairro não são casos isolados, mas pelo fato da área estar ainda se consolidando no cenário da cidade, fica a apreensão quanto ao fato dela ser mais bem assistida ou planejada. Ao mesmo tempo em que o processo de incorporação permanecer, ao menos melhorias de infra-estrutura serão realizadas. Todos os elementos apontados aqui neste trabalho buscaram contribuir para uma melhor compreensão do espaço inerente ao homem, através do estudo das suas relações sócio – espaciais.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Incorporação Imobiliária; Urbanização; Rio de Janeiro.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005