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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
ESTUDO SOBRE A FIDELIDADE A PALAVRA EMPENHADA:REPLICAÇÃO DA METODOLOGIA PIAGETIANA ACERCA DE SEUS ESTUDOS SOBRE A FORMAÇÃO DO JUIZO MORAL
JOSIANE MAGALHÃES 1 (josimag@ig.com.br)
(1. Departamento de Pedagogia, Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT)
INTRODUÇÃO:
A obra de Jean Piaget está permeada por uma preocupação com a compreensão do desenvolvimento humano como um todo. Apesar da relevância dada ao desenvolvimento cognitivo, há em Piaget um potencial maior, explicitado em sua obra “O juízo moral na criança”. Isto porque nela evidenciam-se propostas para o desenvolvimento de uma compreensão acerca da formação do indivíduo no que tange aos seus princípios de deveres e direitos na elaboração de um sistema social.A importância da obra piagetiana é indiscutível e sua metodologia tem sido base de inúmeras pesquisas na área da psicologia social e no desenvolvimento cognitivo infantil. É óbvio portanto, que busca na infância a fonte de observação e construção de seu modelo, uma vez que o ser humano ao atingir sua idade adulta, passou por processos importantes e vivenciou experiências fundamentais que se desenvolveram durante o período de crescimento que vai do nascimento até a idade adulta. Os processos de socialização que moldam o indivíduo e seu comportamento social foram então a base de reflexão para o desenvolvimento das conclusões expostas em “O juízo moral na criança”.
O presente estudo visa replicar a metodologia piagetiana e estabelecer novos dados e elementos que possam servir como parâmetros de avaliação acerca da formação do juízo moral da criança, mais especificamente no que tange a palavra empenhada e levantar indicativos de como se desenvolve a moralidade na região da cidade de Cáceres/MT.
METODOLOGIA:
Utilizou-se da entrevista gravada em que coletava-se as opiniões e julgamentos dos sujeitos envolvidos através de pequenas histórias envolvendo dilemas morais que colocavam o furto, a mentira e a solidariedade em oposição a palavra empenhada como objetos de análise pelos entrevistados. Os sujeitos envolvidos eram estudantes com as seguintes características:Ambos os sexos; idades que variaram entre cinco a dezenove anos; regularmente matriculados no ensino fundamental de duas escolas: uma escola pública e outra escola privada, ambas da cidade de Cáceres/MT. Os entrevistados foram selecionados mediante anuência da direção das escolas em participar da pesquisa que determinou o horário e o acesso aos alunos, bem como participou do sorteio dos nomes dos entrevistados.As entrevistas foram gravadas e transcritas. Após, a partir do conteúdo observado foram construidas as categorias de análise segundo a análise de conteúdo de Bardin. Concomitantemente foi estruturado um banco de dados através do SPSS para cruzamento dos dados coletados.
RESULTADOS:
Foram sorteados 94 (noventa e quatro) crianças e adolescentes. A amostra foi composta de dois meninos e duas meninas de cada sala de cada escola. As turmas envolvidas compreenderam desde a pré-escola, classe de alfabetização e de primeira à oitava séries. partir dos referenciais da análise de conteúdo identificamos 19 variáveis nas respostas recebidas das crianças entrevistadas em relação ao furto; em relação ao genero dos informantes: 47,3% de informantes masculinos e 52,7% de informantes femininos. Em relação a distribuição de informantes entre as escolas temos que 48,4% oriundos da escola pública e 51,6% da escola particular.
Em linhas gerais podemos observar que a amostra tem uma distribuição que sugere que os valores “manter a palavra empenhada” 40.9% e “não furtar” 51,6% e estabelece uma condição para manter a palavra ou não 6,5%.
Em relação a solidariedade, de acordo com a pesquisa realizada foi constatado que: 83,9% não mantém a palavra empenhada, enquanto que apenas 10,8% mantém. Em relação a mentira, as respostas mais freqüentes encontradas na amostra sugerem os valores “manter a palavra empenhada” (10,8%) e “não mentir” (52,7%).
CONCLUSÕES:
O presente estudo desenvolveu um levantamento acerca da formação do juízo moral da criança em relação ao furto na cidade de Cáceres,sendo que obtivemos 93 (noventa e três informantes) constituindo-se 10% aproximadamente do número de alunos de cada escola envolvida.
Procurou diagnosticar se a fidelidade a palavra empenhada seria um valor importante para as crianças e adolescentes, o que foi confirmado independentemente da faixa etária de acordo com os dados obtidos. Em relação a confirmação de uma psicogênese da fidelidade a palavra empenhada em relação ao furto, os dados obtidos não deixam transparecer uma relação direta dessa construção. Ainda que os dados obtidos acerca das categorias piagetianas de coação e realismo moral, os dados não podem mostrar a precisão necessária a esta afirmação. Quanto ao tópico proposto originariamente de fornecer informações que divulguem aspectos da moralidade com vistas a subisidiar os novos parâmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental (ética como tema transversal), pode-se dizer que em relação aos subsídios gerados para a discussão da ética como tema transversal, acreditamos que as categorias obtidas através da análise das respostas são de grande valia para educadores que pretendam utilizar da discussão sobre ética nas escolas cacerenses.
Instituição de fomento: Universidade do Estado do Mato Grosso UNEMAT
Palavras-chave:  juizo moral; Piaget; palavra empenhada.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005