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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística | ||
A COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA DE UNIVERSITÁRIOS E O GRAU DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS : A MARCAÇÃO SOCIOLÓGICA | ||
Gilda Maria Lins de Araújo 1 (edufpe@ufpe.br), Mary Francisca do Careno 2, Maria José Matos Luna 1 e Maria Virgínia Leal 1 | ||
(1. Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; 2. Depe, Pedagogia, Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP) | ||
INTRODUÇÃO:
A expectativa que se tem em relação à escrita de estudantes universitários é a de que, após doze anos de estudos de língua portuguesa, ele tenha introjetado pelo menos as regras menos complexas sobre coesão e coerência e outras questões normativas como acentuação, ortografia, pontuação e concordância. Qual não foi o nosso espanto ao constatarmos que isso está longe de acontecer. Indagações surgiram: Quais seriam as causas que interferem para a ocorrência de tal situação? Em que situação de desvantagem se encontram esses alunos, falantes de dialetos estigmatizados, no processo de ensino/aprendizagem superior? E quais as regras que governam as diglossias apresentadas em suas comunidades de origem e que, reconhecidamente, promovem sua assimilação lingüística? Qual trabalho vem sendo feito para atenuar o problema existente? Este trabalho de pesquisa objetiva levantar como escrevem estudantes do período noturno e em situação específica: todos oriundos de escolas oficiais e atuais alunos da UNAERP/SP e da UFPE do Curso Leitura/Produção de Texto, oferecido às diversas áreas do conhecimento. Pretende também levantar algumas competências lingüísticas de universitários e para tanto, recorre às metarregras de coerência de Charolles ( Charolles, 1978), aplicadas em seus textos escritos. O objetivo é fazer um levantamento de como escrevem esses estudantes e o estudo serve para descrever a dimensão variável da linguagem usada por eles. |
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METODOLOGIA:
Trabalhamos com a metodologia pertinente à Sociolingüística, à Dialetologia e à Lingüística Textual, recorrendo ao uso de entrevistas, aplicação de questionários e análise de textos elaborados por alunos de ambos os sexos, pertencentes a três faixas etárias (de 17-25 anos; de 26-40; de 41-55 anos). Para a análise, recorremos às concepções de Charolles ( 1978) quando busca explicitar o sistema de regras de coerência e propõe algumas orientações a respeito da boa formação textual da coerência, inspirado em trabalhos de gramática de texto nos quais podem se encontrar os elementos de teorização mais avançados e mais conseqüentes. Ao apresentar algumas regras de boa formação textual, o autor limita-se “a enunciar e discutir quatro metarregras de coerência, remetendo a uma apreensão geral e, ainda, pré- teórica da questão.” São as chamadas:- metarregra de repetição; metarregra de progressão; metarregra de não- contradição e a metarregra de relação. Há dois níveis de organização textual estabelecidos pelas gramáticas de texto: Microestrutural ( relações de coerência que se dão entre as frases de uma seqüência – nível local); Macroestrutural ( relações que se estabelecem entre seqüências consecutivas- nível global). As macroestruturas (ME) de uma seqüência são " proposição (ou proposições) de superfície obtida(s) . Ao proceder a análise, elaboramos as seguintes etapas: 1ª) Levantamento das microestruturas; 2ª) criação de macroproposições; 3ª) determinação da macroestrutura; 4ª) verificação do cumprimento das metarregras. |
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RESULTADOS:
Os resultados iniciais demonstram que o ensino produtivo apregoado nas propostas curriculares atuais ainda não tem sido satisfatoriamente colocado em prática pelos professores, o que torna relevante a discussão sobre o uso da língua como atividade sociointerativa, histórica e cognitiva. A- No levantamento das microestruturas, foi aplicada a MRI- metarregra de repetição que se refere aos elementos de recorrência estrita que contribuem para o estabelecimentos de unidade e permanência de elementos constantes. Assim, existem elementos recorrentes a mostrar que as representações de mundo do aluno (violência constante, analfabetismo, desemprego, a inércia do governo) refere-se ao universo de convicções que ele pressupõe que todo brasileiro saiba, ou seja, as informações passadas são de senso comum a qualquer um. M8 Todos sabemos que o governo é culpado, e aí? B- problemas de ortografia de vocábulos e de enunciados ( 1 ) o pirigrino; ( 2 ) feichando, ( 3 ) abto de ler ( 4 ) umilhação ( 5 ) (A população) o relegeio e o relegiorará novamente se necessário C- uso de frases inacabadas, truncadas, ou com rupturas de construção ( anacolutos): a frase desvia-se de sua trajetória e o complemento esperado não aparece: a frase parte para outra direção. Exemplo: (05 ) Então a conclusão que chegamos e que é melhor pessoas sem conhecimento do que as que tem cultura pois é ela que nos trata a diferença para isso é só prestar atenção em nossos políticos o que é interessante a “eles”. |
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CONCLUSÕES:
Observa-se um conhecimento intuitivo e uma prática imediata das restrições mais gerais da língua. Instados a escrever, a espontaneidade expressa na situação oral desaparece. A leitura ingênua feita até chegarem à faculdade leva à ausência de espírito crítico e à ineficiência na contra- argumentação. Surgem ou expressões- clichês, ( textos repletos de chavões e gírias) ou imprecisão ortográfica ( expressa, muitas vezes, por meio dos borrões na escrita de palavras), ou frases truncadas, ou mesmo na má utilização do espaço da folha de papel. O estudo serve não só para descrever a dimensão variável da linguagem usada por esses alunos, mas também, e a partir dela, contribuir para o debate sobre quatro questões fundamentais: em que situação de desvantagem se encontram esses universitários falantes de dialetos estigmatizados, no processo de ensino/ aprendizagem superior? quais as regras que governam a competência lingüística das duas classes de alunos? 3. Qual o grau de compreensão e produção de textos com título adequado decorrente do tema? 4. Haveria diferenças entre esses alunos? |
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Palavras-chave: competência lingüística; regras combinatórias; coerência textual. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |