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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
EXPECTATIVAS E MOTIVAÇÕES PARA UMA MUDANÇA DE VIDA: A EXPERIÊNCIA DE ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM FORTALEZA/CE
Rodrigo Fernandes Meireles 1 (digohesed@edu.unifor.br)
(1. Centro de Ciências Humanas, Universidade de Fortaleza - UNIFOR)
INTRODUÇÃO:
Este estudo visou compreender quais são as expectativas e motivações de crianças e adolescentes em situação de risco que os levaram a aceitarem e permanecerem em uma instituição de abrigo, procurou identificar a visão do menor sobre o abrigo, e ainda analisar o contexto em que viviam os meninos e meninas abrigados antes de ir para a instituição. Dentro de um quadro social em que milhares de crianças e adolescentes encontram-se em situação de risco, isto é, marginalizados dos fatos do mundo contemporâneo e submissos a constrangimentos que os levam à delinqüência e ao trabalho infantil, os abrigos existem para prestar-lhes assistência integral e devolver-lhes uma suposta socialização perdida com a exclusão social e familiar. Nesse ínterim, procurou-se investigar a teia de relações que envolve as interações sociais vivenciadas por cada sujeito pesquisado segundo o pressuposto sistêmico da ecologia do desenvolvimento humano, proposta por BRONFENBRENNER (1996). A pertinência do tema verifica-se, sobretudo, na compreensão do contexto relacional e sistêmico em que as crianças e os adolescentes abrigados se encontram em instituições que funcionam como abrigos, dado que tal contexto auxilia diretamente em qualquer intervenção realizada sobre estes sujeitos.
METODOLOGIA:
Nesta pesquisa qualitativa, dado que propõe uma reflexão a respeito da problemática de menores abrigados, foram realizadas entrevistas com 15 meninos e meninas de 8 a 18 anos da Casa do Menor São Miguel Arcanjo, em Fortaleza/CE, procurando ressaltar as vivências significativas da história de vida de cada um e ainda como eles percebem a instituição de abrigo. Além das entrevistas, o abrigo citado foi visitado com freqüência para que pudesse ter seu contexto analisado considerando os três elementos que compõem o microssistema: atividades molares, papéis desenvolvidos e relações interpessoais. Essas observações, em consonância com as entrevistas realizadas, deveriam propiciar um estudo ecológico da instituição enquanto estudo do seu contexto dentro da tétrade ambiental casa-rua-abrigo-escola. Desse modo, as entrevistas continham questões acerca da história social de cada entrevistado e perguntavam sobre as suas vivências na família, na rua, na escola e, por fim, no abrigo, sempre procurando compreender o que cada um fazia em cada ambiente, as rotinas vivenciadas e as relações interpessoais desenvolvidas.
RESULTADOS:
Como resultado foi visto que, em síntese, a família foi relacionada como causa de sua saída para a rua ou abrigo em quase todas as entrevistas através de relatos de maus tratos por parte de algum pai ou responsável. Assim, muitas crianças foram encaminhadas ao abrigo por incentivo de algum outro membro da família, geralmente a mãe, ou saíam de suas casas para viver no mundo da rua. A maioria dos que tiveram experiências na rua, disseram que chegaram a dormir nela e tiveram contato com drogas ou álcool, tendo sido, nesse caso, encaminhados ao abrigo através do conselho tutelar ou de outras instituições de apoio ao menor. Sobre a escola, a maioria referiu estudos anteriores ao abrigo e disse a série que estudava, muitos dos que tiveram passagem na rua, porém, disseram que deixaram de estudar até a chegada a algum abrigo. Foi constatado que alguns dos abrigados da Casa do Menor São Miguel Arcanjo já tiveram passagem por outra instituição. Sobre o abrigo, todos disseram que gostam da instituição e de seus educadores e muitos faziam referência ao amor e carinho que recebem ali, falaram também das atividades que realizam diariamente e muitos mencionaram gostar de desenvolver, junto a alguns educadores, atividades domésticas como lavar pratos e limpar a casa, dizendo que com isso estariam aprendendo a ajudar os outros e que era melhor do que ficar na rua ou sofrer maus tratos. Quando perguntados sobre o futuro e a família, a maioria pretende retornar à sua casa de origem.
CONCLUSÕES:
Os resultados mostram que as motivações para a permanência no abrigo não provêm de um único lugar, mas são representadas pelo contexto histórico-social pertinente a cada ser em questão. Isso ocorre, sobretudo, devido ao ambiente relacional favorável, no qual cada criança/adolescente pode repensar sua vida através da sua própria história. Os menores também relacionaram que o abrigo é um lugar onde podem ter mais tranqüilidade para brincar e estudar e deixaram claro que existe ainda um vínculo muito forte com a família e com os ambientes que vivenciaram antes de sua chegada ao abrigo. Partindo do pressuposto ecológico de BRONFENBRENNER (1996), em que todas as relações fazem parte de um sistema e todos os ambientes estão intimamente relacionados entre si, devemos considerar a criança estudada como estabelecedora de vínculos, que está em constante interação com diversos ambientes. Desse modo, a criança desenvolve-se nas e através das relações que estabelece com o mundo em seu contexto particular. O menor abrigado deve ser considerado dentro de sua história social e os abrigos devem considerar como de grande relevância o fortalecimento das relações com a família, ambiente para o qual cada abrigado tende a voltar. Assim, o abrigo deve ser um ambiente complementar para esta problemática social e educativo no sentido de proporcionar um fortalecimento da importância da família no tecido social, havendo a necessidade de maior participação da família e responsáveis na vida do abrigo.
Palavras-chave:  menores em situação de risco; instituições de abrigo; motivações.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005