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G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
CORPO E ALMA EM PLATÃO: UM PAR DE CONTRÁRIOS?
Saulo Machado Gomes 1 (saulomg@yahoo.com.br), Diana Maria Oliveira Silva 1 e Edevaldo Barbosa da Silva 1
(1. Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA)
INTRODUÇÃO:
O pensamento platônico tem como um de seus maiores vértices o seu entendimento de alma e, por conseqüência a sua relação com o corpo. Salienta Platão que: “o que é divino, imortal, inteligível, aquilo cuja forma é una, aquilo que é indissolúvel que permanece sempre invariavelmente idêntico a si mesmo é com que a alma mais se parece; ao contrário, o que é humano, mortal, não inteligível, aquilo cuja forma é múltipla e que é sujeito a dissolver-se, o que não permanece jamais idêntico a si mesmo é com que o corpo mais se parece” (Fédon, 80b). Não obstante, a alma para Platão encontra uma de suas marcantes conceituações no seu caráter de “movimento”. Narra Platão que: “(...) pois que o movimento é da natureza da alma. Se aquilo que a si mesmo se move não é outra coisa senão a alma (...)” (Fedro, 245e). Segundo Platão existe um princípio geral de toda geração que estabelece que “é das coisas contrárias que nascem as coisas que lhes são contrárias” (Fédon, 71a). Se é do prazer que nasce a dor e da dor o prazer; do pequeno que nasce o grande e do grande o pequeno; do morrer o reviver e do reviver o morrer. E se alma e corpo em Platão são contrários, logo poderíamos deduzir que por analogia a alma nasce do corpo e o corpo nasce da alma? E para mais além: desaparecendo o corpo desapareceria a alma? Perante tal problemática faremos uso da teoria das Idéias (anamnese) e da compreensão da díade corpo-alma., pedra angular no discurso platônico, interligando-os à doutrina dos contrários.
METODOLOGIA:
Podemos classificar o trabalho desenvolvido, de acordo com o seu fim, de “pesquisa teórica”, pois buscou conhecer conceitos puramente teoréticos. Quanto ao seu procedimento trata-se de uma pesquisa eminentemente bibliográfica, visto que procuramos adquirir conhecimentos sobre o objeto de pesquisa a partir da busca de informações advindas de materiais tanto gráficos como informatizados e, principalmente a partir da leitura dos diálogos de Platão e das obras dos seus comentadores. O método usado no decorrer no projeto foi o “dialético”. Entendendo que a dialética reside na contradição principal de cada fenômeno em estudo. O trabalho pode ser apresentado de diversas formas. No caso específico da SBPC o trabalho será apresentado em painéis onde constará a síntese da pesquisa, dando ênfase aos seus principais pontos.
RESULTADOS:
A guinada do pensamento platônico no tocante a alma (psiché) consiste justamente em Platão ter dado fundamento metafísico à reforma socrática fazendo da alma o lócus da inteligência, ao contrário do entendimento primeiro de Homero para quem o verdadeiro homem era tão-somente aquele composto de carne e osso. Notável é, não obstante, a influência órfica no conceito platônico de alma (psiché) através da introdução do divino (Alma-Daimon), ainda que não se refira o orfismo a consciência e a inteligência enquanto elementos fundantes da alma. Desse modo, Platão soma o caráter divino da alma ao seu caráter intelectível e nos propõe o argumento da reminiscência (anamnese). Diz Platão: “Saber com efeito consiste nisso: depois de haver adquirido o conhecimento de alguma coisa, conservá-lo e não perdê-lo. Desse modo o que se chama ‘esquecimento’ não é o abandono de um conhecimento” (Fédon, 75c-d). A partir daí o entendimento do argumento dos contrários se esboça perante o mundo sensível e ao mesmo tempo encontra o seu limite no mesmo, pois a doutrina dos contrários em Platão não os admite no mundo das Idéias, onde tudo é imortal e pleno em si mesmo. Com a doutrina do Fedro (da alma como princípio do movimento) e, sobretudo, com a doutrina do Timeu (da “alma do mundo”), a psiché se torna um princípio além de ontológico também cosmológico.
CONCLUSÕES:
Para comprovar a sua assertiva, herdada em grande parte da tradição pré-socrática, sobretudo dos pitagóricos, de que tudo tem um contrário de onde nasce, Platão argumenta que “quando uma coisa se torna maior é necessário que ela anteriormente tenha sido menor, para em seguida se tornar maior” (Fédon, 71e). Contudo, tal máxima deve se limitar ao mundo sensível, posto que o mundo transcendente não admite a transposição do argumento dos contrários para sua esfera, que é metafísica, ou seja, para além do físico, do sensível. É o próprio Platão que estabelece as diferenças em tudo entre os dois mundos, razão pela qual a alma em si não deverá aceitar as regras estabelecidas para as coisas mortais e sensíveis. Isso quer dizer que o oposto em si jamais poderá tornar-se seu oposto. A alma enquanto ser em si e para o qual todas as outras impuras e presas aos corpos tendem, não pode admitir o oposto a idéia que lhe é subjacente. Em uma palavra: o argumento dos contrários encontra sua aceitabilidade tão-somente do espaço mortal e que não permanece jamais idêntico a si mesmo (“mundo sensível”) não sendo possível o seu uso numa esfera divina, imortal e completa em si mesma (o “invisível verdadeiro”).
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  corpo-alma; contrários; Fédon.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005