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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA
Maristela Dalbello de Araujo 1 (dalbello@intervip.com.br) e Angela Nobre de Andrade 1
(1. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, UFES - ES)
INTRODUÇÃO:
Investigamos uma prática social desenvolvida no âmbito da Saúde Pública, o Programa de Saúde da Família, por meio da avaliação genealógica do trabalho de uma Equipe. Procuramos analisar as possibilidades de mudanças formuladas por essa nova estratégia de assistência, tais como: a criação de vínculos entre os profissionais e a comunidade e o incentivo à participação comunitária no planejamento e execução das ações. Estivemos atentos ao embate entre o saber científico e o saber popular. Assinalamos quais as circunstâncias em que as ações contribuíram para um aumento da autonomia por parte da comunidade, o que indica um aumento das formas de controle social da população sobre as ações de saúde, ou ao contrário, em quais ocasiões os movimentos indicaram um movimento de submissão aos saberes especialistas.
METODOLOGIA:
Para tal intento realizamos observação do trabalho cotidiano durante o período de janeiro a setembro de 2002, nove entrevistas individuais com os profissionais de saúde, sete entrevistas coletivas com os Agentes Comunitários de Saúde e oito entrevistas coletivas com a comunidade.
RESULTADOS:
Avaliamos que as possibilidades de ruptura com o modelo convencional de assistência e aproximação com a comunidade estão dadas. Existe um inegável esforço, por parte dos profissionais, na construção de vínculos e na realização das Ações Básicas de Saúde. Porém, as dificuldades para que a população efetivamente participe da promoção da saúde são inúmeras. Uma delas é a ênfase nas orientações de cunho behaviorista para modificação de comportamentos, tidos como de risco, sem que haja uma discussão dos aspectos ambientais e sociais subjacentes a sua construção social. Tal perspectiva contribui para despolitizar o conceito de saúde e dificulta a construção da autonomia por parte da comunidade. Existem também entraves de ordem organizacional. Dizem respeito a resistências por parte das corporações profissionais, especialmente da corporação médica; inadequação e alta rotatividade dos recursos humanos, devido, em grande parte, à formação profissional que não fornece subsídios para as exigências dessa tarefa; verticalização das prioridades, o que contribue para a despontencializar as inovações de caráter local; aumento dos mecanismos de controle sobre as tarefas e a pouca valorização dos espaços de troca e reflexão sobre o trabalho
CONCLUSÕES:
Oa aspectos organizacionais assinalados têm produzido sensação de impotência, frustração e sofrimento entre os profissionais. Tais arspectos, se não forem sanados, podem colocar a proposta em risco, tendo em vista que são suportados pelos profissionais como transitórios, próprios do momento de implantação.
Também assinalamos a necessidade de construir espaços de troca, reflexão e produção de sentido entre os profissionais e destes com a comunidade, de modo que este exercício possa instrumentalizar a todos para uma participação mais efetiva nas decisões que envolvem as mudanças pretendidas no modelo de assistência à saúde em nosso país.
Palavras-chave:  Psicologia da Saúde; Saúde e trabalho; Programa Saúde da Família.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005