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A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 3. Oceanografia Geológica | ||
A PLANÍCIE COSTEIRA DE TIJUCAS, SANTA CATARINA, BRASIL: ESTUDO DA EVOLUÇÃO HOLOCÊNICA E A EXPERIÊNCIA DE COLABORAÇÃO MULTI-INSTITUCIONAL. | ||
Nils Edvin Asp Neto 1 (nils.asp@univali.br), Antonio H. da F. Klein 1, Eduardo Siegle 1, Ilya V. Buynevich 2, Duncan FitzGerald 3, William Cleary 4, Rodolfo José Angulo 5, Sérgio Rebello Dillenburg 6, Glaucio Vintém 1, 6 e João Thadeu de Menezes 1 | ||
(1. Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar/Universidade do Vale do Itajaí/CTTMar-UNIVALI; 2. Geology & Geophysics Department/Woods Hole Oceanographic Institution/WHOI; 3. Department of Earth Sciences/Boston University; 4. Center for Marine Science/The University of North Carolina at Wilmington/UNCW; 5. Departamento de Geologia/Universidade Federal do Paraná/UFPR; 6. Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica/Universidade Federal do Rio Gr. do Sul/CECO-UFRGS) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta resultados de um projeto envolvendo diversas instituições brasileiras e norte-americanas com o objetivo de estudar a evolução holocênica da planície costeira de Tijucas, Santa Catarina, Brasil. Paralelamente, pretende-se divulgar a experiência resultante da cooperação multi-institucional e internacional, no contexto do estudo em Tijucas, como exemplo na solução de dificuldades usuais em projetos de pesquisa no Brasil. A planície costeira associada ao rio Tijucas apresenta características de interesse comum dos pesquisadores envolvidos, entre as quais se destacam o estudo das extensas seqüências progradacionais bem preservadas, constituindo uma complexa planície de cordões litorâneos, envolvendo aspectos ligados a dinâmica de sedimentos coesivos e não-coesivos. Neste contexto destacam-se as características do rio Tijucas que, apesar de sua vazão média pequena (40 m3s-1), apresenta geralmente concentrações elevadas (70 mgl-1) de sedimentos em suspensão, as quais em períodos de chuva (e vazão) elevada podem atingir valores da ordem de 200 mgl-1 (Schettini et al., 1996). Nestes períodos o rio Tijucas também parece transportar grandes quantidades de sedimentos areno-cascalhosos. A estes fatores somam-se ainda tempestades e a “proteção” da região em relação à direção de ondas predominantes, resultando em um delicado balanço entre ondas e marés e na complexidade que a planície costeira em si apresenta. |
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METODOLOGIA:
Para estudar a planície costeira de Tijucas numa primeira fase foram utilizados diversos equipamentos das várias instituições envolvidas a fim de se mapear em superfície e sub-superfície a planície costeira. Foram utilizados um radar solo-penetrante (Ground Penetrating Radar-GPR) da WHOI, trados manuais da UFRGS e WHOI, testemunhador por vibração da UFPR, um sistema diferencial de posicionamento por satélite (DGPS) da UNIVALI, bem como a infra-estrutura desta última instituição. Usando-se da combinação de recursos humanos e materiais das instituições envolvidas foi possível obter em um curto período (20 a 27 de novembro de 2004), cerca de 35 km de perfis de GPR e DGPS, 9 testemunhos por vibração e diversas sondagens por trado manual. Mais além, com a cooperação de três instituições de pesquisa do sul do Brasil, foi possível reunir um extenso banco de dados das informações pré-existentes da área de Tijucas. Com o uso do DGPS foi mapeada a topografia da região. Com a combinação de GPR e sondagens se obteve um bom mapeamento geral das estruturas e camadas em sub-superfície. Atualmente estão sendo realizadas diversas análises do material coletado, onde se destacam o pós-processamento dos dados de GPR e datações junto ao WHOI, processamento de testemunhos junto a UFPR, análises granulométricas e de dados topográficos no CTTMar/UNIVALI, análises mineralógicas pela UNCW, assim como a interpretação dos resultados em cooperação. |
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RESULTADOS:
Os resultados revelam uma complexa planície de cordões litorâneos onde os tipos beach-ridges e cheniers coexistem. Observaram-se fases de progradação regular cíclica por acresção-erosão de sedimentos areno-cascalhosos formando feixes de cordões, mas também fases de progradação por deposição de sedimentos lamosos com eventuais deposições de sedimentos grossos, resultando em cordões do tipo chenier. O alto grau de complexidade dos processos deposicionais evidenciados pelos resultados mostram ainda que a formação da planície costeira em si não resultou simplesmente da lenta e gradual descida do nível do mar nos últimos 5 mil anos, mas reflete em muito a abundância de sedimentos e a complexidade dos padrões de transporte do rio e baía de Tijucas. Entre os resultados mais relevantes, salientamos a identificação e mapeamento da barreira transgressiva correspondente ao máximo transgressivo de 5,6 mil anos atrás (Martin et al., 2003), feição esta de grande importância para o entendimento da evolução de áreas costeiras em relação às variações do nível do mar e de difícil identificação de forma geral. Adjacente à barreira transgressiva holocênica, ainda pôde-se identificar a barreira arenosa formada em outra transgressão marinha mais antiga (provavelmente em torno de 120 mil anos atrás). |
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CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos até o presente demonstram uma complexidade impar nos processos deposicionais que acabaram por formar a planície costeira de Tijucas. Foram mapeados cordões do tipo chenier e do tipo beach-ridge que coexistem na mesma planície. Também, foi possível se identificar a barreira transgressiva holocênica na porção interna da planície costeira de Tijucas, feição esta que marca o início da seqüência progradante moderna e de grande importância para o estudo das variações do nível do mar e seus efeitos em zonas costeiras. O sucesso inicial deste trabalho de cooperação multi-institucional e internacional reforça a necessidade da formação de parcerias para a superação de dificuldades em termos de recursos financeiros e materiais das instituições de pesquisa do Brasil. Também ficou evidente nesta primeira fase a necessidade de prosseguimento das pesquisas na planície costeira de Tijucas e que nas próximas etapas será necessário se incluir a baía adjacente à planície assim como o canal fluvial propriamente dito para o entendimento dos complexos padrões hidro e morfodinâmicos que resultaram na formação da planície ímpar de Tijucas. |
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Instituição de fomento: CNPq, UNIVALI, WHOI | ||
Palavras-chave: Planície Costeira de Tijucas; Evolução Holocênica; Colaboração multi-institucional. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |