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G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História | ||
1763: A pilhagem da vila de Rio Grande | ||
Vinicius Retamoso Mayer 1 (professor.vinicius@correios.net.br) e Luís Augusto Ebling Farinatti 2 | ||
(1. Curso de História, Universidade do Estado do Amazonas; 2. Curso de História, Centro Universitário Franciscano) | ||
INTRODUÇÃO:
Nosso trabalho foi motivado pela lacuna na história sul-rio-grandense sobre a participação dos grupos sociais na invasão da Vila de Rio Grande, em 1763, e sobre motivos que levaram os soldados portugueses à pilhagem da Vila, antes da sua ocupação pelas tropas castelhanas. As narrativas mais específicas permitem definir o episódio como o início do período da Dominação Espanhola do Rio Grande (1763 - 1776). O inquérito militar levado a efeito pelas autoridades após a Invasão - conhecido como A Devassa sobre a entrega do Rio Grande às tropas castelhanas (1764) -, tinha por objetivo revelar os motivos que impediram a resistência e levaram à rendição incondicional do Comandante do Forte de Santa Tereza, Thomaz Luiz Ozório, e à fuga do Governador da Vila, Eloy de Madureyra. Composto por quinze perguntas feitas a cinqüenta e oito depoentes, a Devassa determinou a prisão de alguns soldados portugueses e a execução do Comandante do Forte em 21 de abril de 1768. Assim nos propomos a suprir estudos sobre este episódio da História do Rio Grande do Sul demonstrando que a ausência do Estado, referenciado pelas autoridades locais, fez com que os habitantes agissem de acordo com seus costumes: a deserção e a pilhagem. |
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METODOLOGIA:
Entende-se por costume o comportamento regular, mantido dentro dos limites tradicionais unicamente por seu caráter “habitual” e pela “imitação” irrefletida, cuja continuação ninguém exige do indivíduo (WEBER, 1994, p. 215). A pilhagem é o ato de extrair algo de alguém com violência devastadora, mediante grande ameaça, impossibilitando qualquer reação da vítima. Deserção é o ato de abandonar o serviço militar sem licença. Pode-se ainda considerar deserção o despovoamento, o abandono, a renúncia, a desistência, a ausência. Considerando esses conceitos analisamos a fonte priorizando os relatos do atores dos eventos ou testemunhas oculares que declaram nos depoimentos: “Saber pelo ver”. “Nossas hipóteses serão apresentadas para explicar essa formação social particular no passado." (Thompson, 1981, p. 49 e 50). |
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RESULTADOS:
A leitura do documento nos mostrou que, antes da chegada das tropas castelhanas, a Vila foi pilhada por desertores portugueses oriundos do Forte de Santa Tereza. Esses também hostilizaram os moradores portugueses da Vila. À deserção, recorreram militares e civis. No caso dos militares, deserção significou passar para o lado do inimigo, ou permanecer dentro do raio de atuação da Coroa Portuguesa mas sob a proteção de estancieiros, que se serviam da experiência militar dos desertores para aumentar o próprio patrimônio. A deserção civil ocorreu passiva e ativamente. A passiva acorreu quando os indivíduos rejeitaram a fuga perante a aproximação das tropas inimigas. Nessas circunstâncias, os habitantes aceitavam as condições dos novos governantes. A deserção ativa ocorreu quando os indivíduos procuraram a autoridade, solicitando proteção e meios de subsistência. Em ambos os casos esses desertores eram deslocados da área de fronteira e subsidiados para produzir. |
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CONCLUSÕES:
BARTH (1998) afirma que apesar do fluxo que possa ocorrer entre grupos étnicos, as diferenças que os separam sempre existirão. O que os distingue não poderá ser superado pela simples inserção no grupo ou pelo contato esporádico: "as diferenças culturais podem permanecer apesar do contato interétnico e da interdependência dos grupos."(BARTH, 1998, p. 188). Considerando esse argumento é possível entender a diferença latente entre os soldados e os demais grupos. Também é possível entender o motivo das agressões que esses soldados empreenderam contra os moradores da Vila. Foram eles os protagonistas e os que mais proveito tiraram da tomada da Vila. Por mais paradoxal que possa parecer, foram os indivíduos que possuíam um maior vínculo com a instituição, portanto, com maior interesse em protegê-la, que se locupletaram com a situação. Deserção e Pilhagem eram fatos comuns na fronteira platina no século XVIII. Incentivada pelas autoridades locais - lusas e castelhanas - no período colonial a pilhagem era considerada lícita durante a guerra; em tempos de paz, condenada como contrabando. Pilhar foi a estratégia de sobrevivência utilizada por toda a população na região platina, constituindo-se em um hábito, uma adaptação às regularidades; enfim, em um elemento de sua cultura. Adotada pela Coroa, a pilhagem tornou-se institucional, sendo aperfeiçoada no exército com o objetivo de preservar e ampliar as suas possessões territoriais. |
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Palavras-chave: Pilhagem; Deserção; Devassa. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |