|
||
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia | ||
RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE NA LUTA PELA TERRA DENTRO DO MST (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA) | ||
José Geraldo Alberto B. Poker 1 (jgpoker@marilia.unesp.br) | ||
(1. Depto. de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências-UNESP) | ||
INTRODUÇÃO:
Desde Augusto Comte, a religião e a religiosidade têm merecido na Sociologia um tratamento de destaque entre outros temas. Nas teorias sociológicas consideradas clássicas, tanto a religião como a religiosidade encontram-se vinculadas às formas de reprodução de uma sociedade qualquer, ou a instrumentos simbólicos de legitimação do poder dominante, por causa da força de mobilização nelas contida. É conhecida a alusão feita por Maquiavel à religião como forma eficiente de promoção da obediência em situações de dominação, da mesma forma como se conhece a célebre expressão de Marx de que a religião é o ópio do povo. Apesar disso, a religião e a religiosidade são também ingredientes do complexo cenário no qual se realiza historicamente a luta pela terra no Brasil. Isso significa que podem ser evocadas tanto para realçar o conformismo e a passividade, quanto para promover a indignação e as práticas de resistência diante das tentativas de exploração que têm no ambiente rural o seu lugar de concretização. Considerando como pressuposto que a religião e a religiosidade são elementos essenciais presentes na luta pela terra e nos conflitos rurais, teve-se como objetivo da pesquisa identificar a maneira pela qual a religião e a religiosidade podem ser encontradas na luta pela terra organizada e mediada pelo MST. |
||
METODOLOGIA:
A pesquisa ora relatada foi desenvolvida através da combinação de análise de documentos produzidos pela direção do Movimento, e da observação de momentos do cotidiano de acampamentos de luta pela terra, de assentamentos de reforma agrária, e das instituições de formação de quadros criados pelo MST. |
||
RESULTADOS:
O MST se proclama como um movimento social de natureza laica, mas mantém fortes laços com a Igreja Católica, sobretudo com aquela parte chamada progressista, vinculada às práticas da Teologia da Libertação, nas quais se insere a CPT (Comissão Pastoral da Terra), que é um organismo da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) dentro do qual foram formados seus principais integrantes. Na pesquisa, constatou-se que, mesmo não havendo vinculação institucional entre o MST e a Igreja Católica, há evidências da presença do catolicismo dentro do Movimento, que podem ser notadas na hierarquia, na forma de mobilização da massa, e nas atividades de educação e formação dos militantes. Notadamente quanto à religião e à religiosidade, elas são desenvolvidas sobretudo dentro das atividades que abrangem o que o Movimento chama de "mística", que consiste num momento estruturado e ritual de celebração da identidade e da ideologia do movimento social, geralmente realizado no início de um evento qualquer organizado pelo MST. Na mística, celebra-se personagens valorizados pelo MST, e venera-se as atitudes ideais que devem ser repetidas por todos os integrantes, como a indignação diante das injustiças, a lealdade aos companheiros, a cooperação, e a fidelidade à causa e à hierarquia do Movimento. |
||
CONCLUSÕES:
No MST, a religião e a religiosidade são componentes indispensáveis na mobilização e na efetivação da luta pela terra. No entanto, são elementos que se encontram camuflados dentro do Movimento: nas atividades da mística, não se menciona santos, não há sacerdotes, nem fiéis, nem deuses. Celebra-se atos de indignação, de solidariedade, de coragem, não importando se aqueles que os tiveram pertencem ou não ao catolicismo. O que interessa na mística, como em todo MST, é observar a presença e a utilização da religiosidade e da religião enquanto formas estruturadas e estruturantes de relações sociais, e não como conteúdos discursivos. Também é preciso notar que a religião e a religiosidade existentes e vividas no interior do MST, e da luta pela terra por ele mediada, não tocam no terreno do sobrenatural e do sagrado. Talvez seja por isso que tais elementos possam ser utilizados com sucesso pelo MST nas tentativas de mobilizar as pessoas e levá-las a agir em direção à transformação da realidade social, e não da sua conservação, fazendo ao contrário o que foi preconizado à religião e religiosidade pela teoria sociológica. |
||
Instituição de fomento: FUNDUNESP | ||
Palavras-chave: religião e religiosidade; MST; luta pela terra. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |