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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
O SER ÍNDIO E O BEM-VIVER NA CULTURA DOS ÍNDIOS PITAGUARYS
Annatália Meneses de Amorim Gomes 1 (annataliagomes@secrel.com.br) e Francisco Silva Cavalcante Junior 2
(1. Mestrado de Educação em Saúde, Universidade de Fortaleza; 2. Mestrado de Psicologia, Universidade de Fortaleza)
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa teve por objetivo descrever, através de um estudo de caso etnográfico, como vive um índio cearense em sua comunidade. No Ceará existem 9.622 índios cadastrados pela FUNASA, divididos em quatro etnias: Jenipapo/Kanindés, localizados no município de Aquiraz; Tapebas, moradores do município de Caucaia; Tremembés, divididos entre os municípios de Itarema e Acaraú e os Pitaguarys, situados nos municípios de Maracanaú e Pacatuba. Alguns desses povos nativos sobrevivem em luta constante pela demarcação de suas terras, pelo reconhecimento de seus direitos e, principalmente, pela manutenção de sua cultura. Tornou-se relevante, portanto, neste contexto, pesquisar as diversas manifestações culturais destes povos referentes à manutenção de sua qualidade de vida. Empreendemos um estudo de caso etnográfico objetivando compreender o sentido do bem-viver para a comunidade indígena Pitaguary residente no município de Munguba (Ceará), assim como as principais estratégias adotadas por essa comunidade para obter qualidade de vida. Os cuidados éticos de consentimento e privacidade foram adotados.
METODOLOGIA:
Fundamentados nos pressupostos da etnografia centrada na pessoa, fizemos uma imersão completa no contexto estudado, através do acompanhamento de um componente do grupo indígena, aqui denominado de colaborador, visando entender os significados atribuídos por ele ao bem viver na sua cultura. Neste caso, a “cena cultural” foi filtrada através da experiência pessoal do sujeito-colaborador, uma mulher de 44 anos, integrante da comunidade desde a idade de 7 anos, sendo escolhida de maneira espontânea, após sucessivas visitas à aldeia. O trabalho utilizou-se de pesquisa documental em livros, trabalhos escritos e documentos da comunidade, observações participantes na aldeia descrevendo o modo de vida deste grupo indígena, seu comportamento, tradições, rituais, mitos, crenças, dogmas, posturas, artefatos, enfim, seu estilo de vida. Outro recurso de coleta de dados foram as entrevistas etnográficas, visando captar as significações culturais do bem viver presente no discurso, que consistiram em conversas nas quais a colaboradora manifestava livremente suas idéias.
RESULTADOS:
As imposições da cultura dominante, desde a colonização até hoje em toda a história do índio, com relação à terra, à alimentação e seus rituais sagrados têm ocasionado um desgaste da identidade indígena. Além de ter levado esta comunidade a vestir roupas, morar em casas de tijolos, falar a língua portuguesa, estudar em escolas regulares, e se submeter à imposição de crenças religiosas. O sentido de ser índio é revelado pela colaboradora como estando presente no trabalho artesanal e na dança. A comunidade queixa-se do homem branco, de sua discriminação com o índio. As condições de pobreza e dureza da vida de trabalho intenso faz com que não repasse a herança cultural indígena do artesanato a seus filhos, preferindo que estudem para trabalhar em outra ocupação. A colaboradora não faz uso de rezas para cura das doenças.
CONCLUSÕES:
Este estudo nos permitiu compreender que os índios Pitaguarys de Munguba apresentam muitas carências para um bem-viver no tocante, principalmente, às oportunidades de emprego, escolarização e atendimento à saúde. Por outro lado, a luta pelo reconhecimento de suas terras e pela manutenção das tradições, sobretudo do artesanato e da dança do Toré, entra em conflito com os valores e modos de vida introjetados da cultura urbana. Consideramos, portanto, fundamental que novos estudos possam ser desenvolvidos no sentido de aprofundar meios de valorização cultural e desenvolvimento de estratégias adequadas de sobrevivência que, respeitando seus valores e modo de viver, ofereçam oportunidades de uma melhor qualidade de vida.
Instituição de fomento: FUNCAP
Palavras-chave:  antropologia; qualidade de vida; índio.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005