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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação | ||
HUMOR COMO FORMA DE CRÍTICA SOCIAL NO FILME O GRANDE DITADOR | ||
Camila Leite de Araujo 1 (milaaraujo@yahoo.com.br), Georgea Veras 1 e Márcio Acselrad 1 | ||
(1. Depto.Comunicação Social-Jornalismo,Universidade de Fortaleza-Unifor) | ||
INTRODUÇÃO:
Desde Aristóteles, estudiosos dedicam-se a pesquisar o riso e o humor. Estudam e analisam causas, efeitos, funções, características intelectuais e culturais. O humor nos auxilia a viver meio a injustiças, medos, revoltas e dores. É um instrumento de comunicação, que transpõe as barreiras triviais entre emissor, mensagem e receptor. É capaz de quebrar o silêncio repressor, de exaltar e de rebaixar um ideal. Serve de escape mas também como forma de repressão e de humilhação. Deixa a um passo da insanidade ou leva ao céu. Pode exibir pura alegria, maldade, orgulho ou simpatia e dar-se de forma física, psíquica, individual ou social. Através do humor pode-se, até, obter alívio para dores. Gilles Lipovestsky, em A Era do Vazio (1983), diz que vivemos uma sociedade humorística, com meios de comunicação exibindo modelos descontraídos de relacionamentos. Georges Minois, em A História do Riso e do Escárnio (2003), afirma que apesar de estar tão em voga e de ser tão pesquisado, o humor esconde seu mistério. É multiforme, ambivalente e ambíguo. O mundo hoje parece gritar o lema de não se levar tudo tão a sério. As publicidades, os jornais e os demais meios de comunicação são cheios de humor. Uma das formas artísticas utilizadas para representá-lo são os filmes e pela sua análise pode-se determinar a sua utilização. Buscando demonstrar esta relação, objetiva-se, analisar as diferentes formas de expressão do humor no filme ,O Grande Ditador , de Charles Chaplin. |
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METODOLOGIA:
O estudo se insere no Grupo de Pesquisa Científica “O humor como estratégia de comunicação”, iniciado em 2002 e formado por alunos de graduação orientados pelo Professor Márcio Acselrad, que direciona a escolha de materiais para as discussões, entre eles vídeos e textos teóricos. Teve inicio em outubro de 2004 e faz parte da monografia de conclusão do curso de Comunicação da Universidade de Fortaleza. Depois de delimitado o objeto de pesquisa, buscamos livros e textos selecionados sobre a teoria do humor e do riso. Esses livros serviram de embasamento teórico para analisar a utilização do humor para se fazer a crítica social no filme de Charles Chaplin, O Grande Ditador, que foi o seu primeiro filme falado. Chaplin, durante alguns anos, lutou contra os diálogos falados. Porém não foi por acaso que procurou fazer uso desse recurso justamente neste filme. Fez isso porque sabia o peso que a palavra tinha e sabia como poderia ser utilizada para contribuir em um humor contestador e de caráter revolucionário. No filme, Chaplin atua em dois papeis opostos, o de um barbeiro judeu (que enfrenta tropas de choque e perseguição religiosa), e o do ditador Adenoyd Hynkel, sátira ao líder nazista. Após assistir ao filme, foram selecionadas cenas que mostram a relação do homem com o riso; a relação de quem ri e do objeto de que se ri; a estreita relação entre humor e poder; a crítica social através do humor; a pretensão de mudança social. |
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RESULTADOS:
A relação do homem com o riso aparece na diferença entre o ditador e o barbeiro. Hynkel vive sério, com ideologias e crenças postas como verdade absoluta a ser aceita por todos. Não ri, e poucas vezes se mostra satisfeito. O barbeiro é humilde, distraído e usa o humor em vários momentos: pensando que vai morrer, fazendo amigos, provocando inimigos, tendo medo ou coragem. A relação de quem ri com o objeto do riso é exemplificada pelos personagens que carregam algo de sério e de triste, mas com o humor impedindo que se percam na seriedade e nos problemas. A relação entre humor e poder aparece nos discursos de Hynkel. São extremante engraçados, pois no fanatismo da sua seriedade, fala e fala, em uma língua que ninguém compreende, e o tradutor reduz o discurso de dois minutos a duas frases. Fala muito, diz pouco, engasga, tosse e tem grandes espasmos. Entre as cenas que demonstram crítica social através do humor estão aquelas em que a população do gueto resiste à opressão. São momentos recheados de humor, apresentando de forma ridícula a ideologia do ditador. A possibilidade de mudança social aparece quando o barbeiro e o ditador são confundidos e trocados de lugar. Apesar de cômica, tem propósito, pois a partir dessa confusão o barbeiro faz o discurso, ápice do filme, visando mudanças no pensamento e na sociedade. E, para exemplificar a utilização do humor para criticar, foram analisadas as expressões corporais dos personagens, linguagem, cenário e roupas. |
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CONCLUSÕES:
Através do estudo pudemos compreender melhor mais uma das faces do humor. Chaplin, filho de um cantor com uma dançarina, e nascido em 1889, na Inglaterra, sabia do grande poder de contestação, de crítica e de superação que o humor carrega. Seu filme é um exemplo de um meio de comunicação que faz uso do humor em vários momentos e de modos diversos. Um humor que visa um futuro melhor, através da igualdade e da fraternidade; que respeita as diferenças, que acredita em uma mudança de atitude e consciência, tanto individual quanto coletiva; que se aproxima do objeto de estudo para que as pessoas possam se identificar com os personagens e, desta forma, ver a situação de um outro ponto de vista. As cenas selecionadas nos mostraram as cargas psicológicas e críticas do filme que não haviam sido percebidas por nós antes. No filme, o humor é usado como forma de crítica, de suportar a existência de tal repressão e egoísmo, expondo de forma séria e moralizadora como uma sociedade em determinada época pensava. Conclui-se que Chaplin conseguiu, por meio de uma comédia social, mostrar um humor resignado, zombeteiro, mesclado com raiva e intencionalidade cínica. Usando, para expor da melhor forma uma sociedade má, o medo ao ver certos líderes com excesso de patriotismo, a seriedade com que estes levavam as suas ideologias e a forma desinteressada e despreocupada com que a humanidade parecia encarar tal ameaça. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Humor; Cinema; Comunicação. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |