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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social | ||
A BONECA DE PANO E O CAVALO DE PAU: RECORDANDO A INFÂNCIA NUMA INSTITUIÇÃO PARA IDOSOS DE FORTALEZA-CE | ||
Raimunda Eliana Cordeiro Barroso 1 (recb@bol.com.br) | ||
(1. Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará - UFC) | ||
INTRODUÇÃO:
A memória humana afigura-se como um importante recurso de que se pode dispor para a reconstrução do passado, dado o seu caráter social e cultural. A memória de velhos, em especial, como nos revelam os trabalhos de Ecléa Bosi em São Paulo-SP e, mais recentemente, de Gisafran Nazareno Mota Jucá em Fortaleza-CE, reúne melhores condições de recupe-rar fontes do passado, em razão desses sujeitos não se encontrarem comprometidos com atividades produtivas, como es-tão os adultos. A pesquisa realizada teve como objetivo conhecer aspectos sócio-culturais da infância no Ceará nas pri-meiras décadas do século XX, período em que se inscrevem diversas tentativas de mudanças na área educacional, desta-cando-se aqui a Reforma da Instrução Pública de 1922, que continha idéias que apontavam para uma nova forma de edu-car as crianças. |
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METODOLOGIA:
No trabalho foi empregada a metodologia da história oral. Utilizou-se como instrumento um roteiro de entrevista semi-estruturada contendo, inicialmente, os dados pessoais dos entrevistados e adotando, em seguida, as lembranças da infância como temas norteadores. Participaram da pesquisa 12 (doze) depoentes que residem numa das instituições de idosos mais antigas do Ceará, nascidos entre os anos de 1902 e 1935, possuindo em comum o fato de terem vivenciado sua infância nesse Estado. As entrevistas foram realizadas na própria instituição e durante as mesmas eram feitas as anotações dos depoimentos que, reunidas ao registro de observações pertinentes, compunham o texto do diário de campo. |
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RESULTADOS:
Conforme os relatos, os acontecimentos que cercavam a infância dos idosos entrevistados são descritos por eles a partir de um cenário rural. Metade dos depoentes lembra da infância como de uma época de muito trabalho em suas vidas. A maio-ria declara ter tido poucos anos de estudo. Metade dos entrevistados, por exemplo, não conseguiu ultrapassar o primeiro ano do curso primário regular. Tanto a família como a escola são recordadas pelos idosos depoentes como lugares nos quais as regras eram sempre muito rígidas, de modo que qualquer desobediência acarretava castigos severos aos infrato-res. As brincadeiras aconteciam ao ar livre e os brinquedos, em geral, eram fabricados pelas próprias crianças, sendo os mais lembrados a boneca de pano ou de sabugo de milho e o cavalo de pau. Embora os narradores tenham sido solicitados a falar de sua infância, eles demonstraram maior facilidade para rememorar acontecimentos referentes à sua juventude e idade adulta, períodos de maior produtividade em suas vidas. |
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CONCLUSÕES:
Na maior parte das entrevistas percebeu-se que as lembranças emergiam para o relato com um certo esforço do depoente, principalmente naqueles sujeitos que se distanciaram das relações de vínculo afetivo mais forte com pessoas do seu grupo de pertencimento, tendo perdido, por essa razão, a oportunidade de compartilhar lembranças de vivências comuns. A esse propósito, conjectura-se que a falta de hábito em relembrar desses idosos, uma vez que são pouco solicitados nessa tarefa, dificulta que “as lembranças se atualizem em percepção”, como diz Henri Bergson. A função de ser a memória do grupo, apontada por alguns estudiosos da memória de velhos, parece ser negada aos idosos que moram em instituições, e longe de suas comunidades de origem. As dimensões individual e social da memória parecem ser enfraquecidas pela convivên-cia com pessoas estranhas ao passado e à história desses idosos. A infância, então, precisa ser revisitada e narrada, servin-do tanto como fonte de conhecimento do passado, como exercício de fortalecimento da memória como função psicológica que nos ajuda todos os dias a nos reconhecer como parte e agente da história. |
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Instituição de fomento: CAPES | ||
Palavras-chave: memória; memória de velhos; Infância. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |