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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística | ||
O MODO IMPERATIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO – REFLEXÕES ACERCA DA NORMA, DO USO E DO PAPEL DO PROFESSOR-PESQUISADOR | ||
Daisy Barbara Borges Cardoso 1 (dbarbara@brturbo.com.br) | ||
(1. Departamento de Lingüística, Línguas Clássicas e Vernácula - UnB) | ||
INTRODUÇÃO:
O trabalho apresenta uma análise de grupos de fatores lingüísticos que interferem na variação do modo imperativo em contextos de língua falada e escrita literária e de revistas em quadrinhos. O objetivo é discutir, por meio de análise comparativa, a dimensão e a extensão da variação desse fenômeno, que se evidencia tanto na língua falada como na escrita formal e informal. Para isso, serão apresentados resultados de análises quantitativas com dados de (i) língua escrita em textos de José J. Veiga (Cardoso, 2004), (ii) língua falada de Salvador e Rio de Janeiro (Sampaio, 2001) e (iii) língua escrita de histórias em quadrinhos da Turma da Mônica (Scherre, 2004). Com isso, pretendemos analisar os efeitos das variantes lingüísticas, nesses três contextos, e a inserção da forma variante na língua escrita. Além dessa abordagem, serão apresentadas algumas reflexões sobre a importância da divulgação da pesquisa lingüística não só nos meios acadêmicos, mas também na escola de ensino médio e fundamental com o objetivo principal de despertar no aluno a curiosidade pelo conhecimento científico como forma de compreender a norma e o uso de sua língua. |
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METODOLOGIA:
A investigação da variação na expressão do modo imperativo considerou os dados em função da seguinte variável dependente: uso do imperativo gramatical associado à forma indicativa e uso do imperativo gramatical associado à forma subjuntiva. A amostra de Sampaio (2201) é constituída de inquéritos de falantes de Salvador e do Rio de Janeiro e está sendo considerada, para a nossa análise comparativa, como representativa de língua falada com traço de (-) formalidade; os dados de Scherre (2004) são de histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, e estamos considerando como língua escrita com traço de (-) formalidade; os meus dados de língua escrita foram retirados de obras do escritor goiano José J. Veiga e foram considerados como língua escrita com traço de (+) formalidade. Os resultados estatísticos analisados foram gerados pelo programa Varbrul após sucessivos cruzamentos dos grupos de fatores codificados pelos pesquisadores. Para a análise, nos contextos propostos para esse trabalho, selecionamos três grupos de fatores lingüísticos – chamados de variáveis independentes: paradigma verbal, localização, pessoa e tipo de clítico e paralelismo formal. Será apresentada a abordagem teórica e prática que a gramática tradicional faz do modo imperativo para que possamos ilustrar a reflexão acerca do uso e da norma. |
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RESULTADOS:
Os resultados comprovam que a variação que ocorre na língua falada está se propagando para os textos escritos, refletindo, dessa forma um processo de mudança lingüística. A variável independente paralelismo formal apresenta percentuais que mostram um condicionamento lingüístico, no plano do discurso, motivado pelas formas precedentes, ou seja, o uso de forma associada ao indicativo para o imperativo gramatical numa seqüência discursiva favorece, de forma consistente, outra forma associada ao indicativo, assim como, formas associadas ao subjuntivo favorecem o subjuntivo. Também interfere na variação do fenômeno a variável independente paradigma verbal, em função do tipo de verbo: regular ou irregular. A variável presença/ausência de pronome revelou, nas três pesquisas, que clítico à direita do verbo tende a favorecer imperativo associado à forma subjuntiva; enquanto, a posição à esquerda apresenta uma distribuição em função da pessoa do pronome. Os percentuais mostram que, mesmo na escrita com traços de (+) formalidade, são evidentes os efeitos de fatores lingüísticos que influenciam o uso do modo imperativo na língua falada ou escrita com traços de (-) formalidade. |
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CONCLUSÕES:
Buscamos, com esse enfoque, mostrar o comportamento da variação no uso do modo imperativo gramatical em contextos diversos. A apresentação de resultados estatísticos da pesquisa visou, dessa forma, apresentar uma análise científica com o intuito de refletir sobre o uso e a norma de um fenômeno lingüístico no Português do Brasil. A forma como o tema tem sido tratado pela tradição gramatical confirma a necessidade de se repensar a prática do professor de Língua Portuguesa em sala de aula. Reafirmamos também a necessidade de o professor ser um pesquisador e divulgador desses resultados para que o aluno reconheça a importância da pesquisa e compreenda de forma científica os fenômenos lingüísticos. Desse modo, estaremos todos contribuindo para desfazer o mito do “eu não sei português”. |
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Palavras-chave: imperativo; variação; ensino. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |