IMPRIMIR VOLTAR
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras
LEITURA E NOVAS TECNOLOGIAS: QUAIS OS DESAFIOS DO LEITOR-NAVEGADOR?
Ivanda Maria Martins Silva 1 (ivanda@fir.br)
(1. Faculdade Integrada do Recife - FIR)
INTRODUÇÃO:
Muitas discussões existem sobre as práticas de leitura dentro e fora do contexto escolar. Atualmente, discute-se sobre a escolarização do ato de ler, na medida em que os alunos vinculam a leitura às atividades puramente escolarizadas, ou seja, lêem, na maior parte das vezes, quando são obrigados a fazer provas, exercícios, apresentar trabalhos, entre outras tarefas requisitadas em sala de aula. Com a revolução tecnológica e a influência dos meios eletrônicos, além da interatividade dos recursos da era hipermídia, as discussões sobre as práticas de leitura são retomadas, considerando-se a mudança de paradigmas nas relações entre autores, textos e leitores. Da idéia do leitor convencional, passa-se para a noção de navegador (Marinho, 2001) ou hiperleitor (Koch, 2002), aquele indivíduo que, diante da infinidade de links disponibilizados na web, percorre caminhos diversos no “mar de informações da internet”. O leitor passa a assumir novos papéis, tendo que se adaptar rapidamente às exigências da era cibernética. Nesse sentido, a presente pesquisa buscou analisar os impactos da revolução tecnológica sobre as práticas de leitura de alunos universitários, considerando-se, principalmente, o papel da leitura literária no mundo digital.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada em duas etapas: uma fase teórica e outra de natureza mais pragmática. A primeira etapa correspondeu à leitura crítica do referencial teórico, a fim de sistematizar discussões sobre o tema em foco. Na etapa de cunho pragmático, foram aplicados questionários com o objetivo de avaliar as práticas de leitura realizadas pelo público-alvo no contexto da revolução tecnológica. Como público-alvo da investigação, foram selecionados alunos universitários do curso de Sistemas de Informação de uma faculdade particular, partindo-se da hipótese de que esse público manteria um contato mais freqüente com os meios eletrônicos. O público-alvo tem idade entre 16 e 40 anos, sendo 90% do sexo masculino. Foram aplicados 200 questionários com perguntas fechadas e semi-abertas, visando à análise qualitativa e quantitativa dos dados obtidos. Foram considerados alguns aspectos importantes na organização dos questionários, tais como: referência sobre gênero textual favorito, ferramenta mais utilizada na internet, diferenças entre a leitura do texto impresso e a leitura do texto eletrônico, entre outros. A preocupação principal era analisar como esses alunos estavam desenvolvendo suas práticas de leitura, a partir do advento da internet, do e-book e de outras ferramentas muito utilizadas na era da cibercultura.
RESULTADOS:
Os dados revelam que, apesar de familiarizados com os recursos das novas tecnologias, como o e-book, por exemplo, os alunos ainda preferem ler o material impresso à leitura de textos eletrônicos. Além disso, o público-alvo não pratica intensamente a leitura literária, já que esta visa ao prazer estético e os alunos articulam as práticas de leitura, prioritariamente, ao estudo e ao contexto profissional. Notou-se uma tendência à leitura literária ocupar um espaço pouco privilegiado, já que se trata de um acervo de pouca informação técnica para o perfil do público-alvo. Com relação ao gênero textual preferido, a opção notícias/jornais obteve 52%, e livros técnicos científicos 35%. Apenas 1% afirmou gostar da leitura de poemas.O gênero textual mais lido na tela do computador foi a opção notícias/jornais, com 69%. Livros técnicos/científicos ficou com 24%, poesia e romance não obtiveram nenhuma resposta. Com base nos resultados, percebeu-se que a leitura literária não é privilegiada, prevalecendo a leitura de notícias e textos técnicos da área de informática. Apenas 36% leram um e-book (livro eletrônico) na tela do computador. 51% dos entrevistados responderam que dão preferência à leitura de textos/livros impressos ou publicados, demonstrando que, apesar de ser um público-alvo voltado a um ambiente de informações em formato eletrônico, o material impresso tem sido usado com bastante freqüência.
CONCLUSÕES:
É preciso reavaliar as concepções de leitura que circulam dentro e fora do contexto escolar, visando à formação de leitores críticos, capazes de articular a leitura do mundo à leitura dos textos produzidos, seja convencionalmente, seja por meio eletrônico. Na era da cibercultura, nos termos de Lévy, os indivíduos dedicam-se à leitura de modo superficial, sem conseguir compreender o ato de ler em sua função político-social, ou seja, a leitura deve ser repensada como ação de transformação social (Silva, 1998) e não simplesmente como decodificação de sinais gráficos. Nesse contexto, a leitura literária precisa se adaptar ao dinamismo das novas tecnologias, senão correrá o risco de ficar confinada a um grupo elitizado e restrito de leitores, sendo discutida apenas nas academias e nas faculdades de Letras. Os dados da pesquisa já apontaram para o futuro da leitura literária na era digital, em que o leitor contemporâneo não encontra mais tempo para dedicar-se à leitura por prazer, ou seja, à leitura estética do texto literário, uma vez que o ato de ler vincula-se às necessidades práticas do contexto de trabalho ou das exigências das tarefas escolares.
Palavras-chave:  Leitura; Literatura; Cibercultura.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005