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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
“RETALHOS DE FOME NUMA TARDE DE G.C.”: NARRATIVA OU POESIA?
Jane Christina Pereira 1 (janechrisp@yahoo.com.br)
(1. Depto. de Literatura, Universidade Estadual Paulista - UNESP.)
INTRODUÇÃO:
A partir do fenômeno da hibridização dos gêneros no texto literário moderno, abre-se a possibilidade de se investigar o lirismo na narrativa “Retalhos de Fomes numa Tarde de G.C.”, presente na obra Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antônio. O objetivo é mostrar que a confluência entre poesia e prosa, produz uma rarefação dos elementos narrativos em favor de um lirismo que se concretiza no modo como a linguagem do texto organiza os elementos sonoros, rítmicos e imagéticos, além de apontar para o mundo.
METODOLOGIA:
Com a produção literária moderna, a noção de "gêneros literários" adquiriu um dinamismo que não possuía; os modelos homogêneos e classificáveis em esquemas gerais estão, todo o tempo, sendo desconstruídos. O que interessa, portanto, é a realidade de cada produção literária como um "fato de linguagem", sem negligenciar a função histórica dos gêneros. Para essa abordagem, definiu-se como base teórica as obras Le Recit Poétique, de Jean Yves Tadié, único teórico que tratou com propriedade a questão da narrativa poética; Introdução à Estilística, de Nilce Sant’anna Martins; Conceitos Fundamentais da Poética, de Emil Staiger e O Arco e a Lira, de Otávio Paz.
RESULTADOS:
À medida que a análise desvela a poesia em “Retalhos de Fome numa Tarde de G.C.”, como o principal alicerce da força simbiótica entre forma e conteúdo, mais visíveis ficam as malhas do texto, porém, padoxalmente, mais abismais elas se tornam, pois a condensação do significado conseguido pelo escritor oferece mil caminhos e uma dificuldade (positiva) de análise que só os grandes escritores propiciam. Os recursos estilísticos, por exemplo, desbancam quem quer ver na obra de João Antônio uma mera transposição da linguagem oral para a narrativa, ela é ao contrário muito trabalhada, intuída, numa escolha lexical e numa sintaxe que dão organicidade ao texto e põe a vida a pulsar em cada construção estilística.
CONCLUSÕES:
Assim, a poesia da narrativa joãoantoniana não aparece, como um recurso trazido de fora para dentro, sua poesia não vem descolada da sua visão de mundo, por isso pode ser lida como um “traduzir-se”. Através do intenso lirismo que impulsiona a narrativa, João Antônio fala de si ao falar dos marginalizados, pois é a partir de uma profunda vivência, que a plasticidade do seu texto deixa entrever tal processo. Dessa forma, analisar “Retalhos de Fome numa Tarde de G.C.”, sob tal perspectiva, é desvendar um trabalho artístico, que não admite rótulos, é refratário a qualquer classificação.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Literatura Brasileira; João Antônio; narrativa poética.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005