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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 9. Gestão e Administração | ||
A FALÊNCIA DE MAUÁ E CIA.: UMA ANÁLISE DA SUA “EXPOSIÇÃO AOS CREDORES” | ||
David Izecksohn Neto 1 (murphy@ajato.com.br) e Paulo Emílio Matos Martins 1 | ||
(1. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - EBAPE/FGV) | ||
INTRODUÇÃO:
Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, foi o maior empresário brasileiro do século XIX. Empreendedor de grandes e transformadores projetos e dirigente de diversas companhias, muitas das quais fundadas por ele mesmo, Mauá foi ainda um inovador em vários setores da economia do Segundo Reinado (1840-1889). Muito bem sucedido financeiramente, Mauá tornou-se o grande pioneiro de nosso processo de industrialização. Entretanto, em 1875, aos 62 anos de vida, suspendeu os pagamentos do Banco Mauá, por insolvência, tendo sido decretada sua falência em 1878. No mesmo ano publicou seu livro “Exposição do Visconde de Mauá aos Credores de Mauá & C e ao Publico” para justificar as causas que teriam determinado sua falência. De acordo com seus biógrafos, o que se pode inferir é que, tecnicamente, Mauá não poderia ter falido. A sua fortuna no Brasil e no exterior cobria perfeitamente o seu passivo. Talvez por isso, a maioria das biografias desse empreendedor aponta os atos e omissões do Governo como a razão das dificuldades que o empresário teria enfrentado. Esta investigação buscou analisar a autocrítica de Mauá na sua “Exposição aos Credores” para verificar se, no relato deste empreendedor, existem outras causas, tão ou mais relevantes que o Governo, para explicar a sua falência. |
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METODOLOGIA:
Análise bibliográfica e análise de conteúdo do livro “Exposição aos Credores”. Nesta última, por uma grade aberta surgiram dois conjuntos de categorias: forma de participação de Mauá nos empreendimentos e fatores explicativos de seu insucesso. No primeiro conjunto, verificamos que há três tipos de companhias, dentre os 25 empreendimentos analisados, os quais foram transformados em três categorias: companhias fundadas por Mauá (10 empreendimentos); companhias fundadas por terceiros, com posterior participação de Mauá (11 empreendimentos); e outras formas de participação (quatro outros projetos). Dentre estas distintas formas de participação, procuramos verificar a importância relativa das justificativas de Mauá em cada empreendimento com base na extensão dos capítulos sobre os mesmos. Assim, estabelecemos como unidade de análise a quantidade de parágrafos utilizados para descrever as causas da falência de cada empreendimento. No segundo conjunto de categorias, foram identificados três fatores explicativos, originando outras três categorias: problemas externos aos projetos - atribuídos pelo empreendedor, na sua totalidade, ao Governo -; problemas internos de administração dos empreendimentos; e falhas pessoais assumidas pelo próprio Mauá. A unidade de análise das razões apontadas por Mauá para os seus insucessos foi o objeto/referente, buscando um objeto em redor do qual o seu discurso se organizou, recortando-se à volta deste tudo o que foi exprimido a seu respeito. |
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RESULTADOS:
Mauá varia o relato de um único até 218 parágrafos, com uma média de 21,2 parágrafos por projeto. Descreve as companhias que fundou em 67,3% dos parágrafos. Aos empreendimentos que não fundou, dedica 14,4% e as outras participações são analisadas em 18,3% dos parágrafos. O maior capítulo refere-se ao Banco Mauá & Cia. - financiador de grande número dos seus projetos -, com 41,2% dos parágrafos. Mauá associa 58% dos problemas enfrentados nos seus negócios, às companhias que fundou. Para as companhias que não fundou, associa 32%. Finalmente, 10% desses problemas estão presentes na análise de seus outros projetos. Em geral, há uma única causa determinante do fracasso de cada projeto. Pelo cruzamento das categorias, verificamos que: 55% dos problemas que explicam a falência são de causa externa, atribuídos ao Governo; 32% têm origem nos problemas internos de administração; e 13% são atribuídos às falhas do próprio empreendedor. Contudo, separando as companhias que Mauá fundou daquelas em que ele não foi seu fundador, chegamos aos seguintes resultados: para as primeiras, 67% dos problemas são atribuídos ao Governo; 17% são relacionados a problemas internos e 17% às falhas do próprio Mauá. Entretanto, para as últimas, a principal causa de insucesso são os problemas internos de administração, sendo atribuído a estes 70% das causas de fracasso, enquanto que o Governo seria responsável por apenas 20% dessas dificuldades, sendo 10% das mesmas assumidas como erros do próprio empresário. |
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CONCLUSÕES:
Mauá atribui a maioria dos fatores que o levaram à falência a variáveis exógenas, mais particularmente, às mudanças nas políticas de Governo. Este fato é corroborado pelos seus biógrafos. Apesar disto, verificou-se que esta conclusão olvida o fato de que tal justificativa não se aplica aos empreendimentos em que Mauá participou na condição de não-fundador, situação em que 80% desses problemas não são imputados ao Governo. Assim, parece que havia, de fato, uma não sintonia entre as políticas de condução dos empreendimentos de Mauá com os atos do Governo, isto é, uma não integração entre as políticas públicas e as mais importantes iniciativas empresariais do Segundo Reinado, gerando barreiras intransponíveis para aquele empreendedor. A análise assim formulada sugere a possibilidade das políticas governamentais terem sido focadas muito mais contra a figura daquele empreendedor, do que propriamente contra os empreendimentos, já que aqueles que não o tiveram como fundador não sofreram tanto a influência maligna dos atos de Governo, segundo o próprio empreendedor. Cumpre, finalmente, destacar que o discurso de Mauá na sua “Exposição aos Credores” não é conclusivo no que concerne à afirmação de que o Governo, de fato, teria procurado prejudicá-lo pessoalmente. Certamente o cotejo das conclusões a que chegamos com as sugeridas por outros estudos, poderá trazer novas luzes sobre a vida e a obra desse extraordinário brasileiro. |
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Palavras-chave: Barão de Mauá; Empreendedorismo; Gestão e Administração. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |