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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 2. Artes Plásticas
QUEM INVENTOU A RENDA? HISTÓRIAS DE RENDEIRAS DO MORRO DA MARIANA - PI
ANA CLÁUDIA PIRES FONTENELE DE MENESES 1 (anacpfm@terra.com.br) e GILBERTO ANDRADE MACHADO 1
(1. CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO CEARÁ - CEFET-CE)
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa foi desenvolvida como Trabalho de Conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Artes plásticas, do CEFET-CE. A mulher rendeira faz parte do imaginário popular nordestino e é, desde muito, transmissora de um conhecimento que, mesmo não fazendo parte do que se considera educação formal, é real e tem sua importância social. Por outro lado, este conhecimento permeia a história de muitas famílias de mulheres que ainda tentam transmiti-lo para as novas gerações. Daí a necessidade de entendimento de um cotidiano que, além de tradicional, alinha-se e se insere às necessidades do mundo de mercado sendo, ao mesmo tempo, trabalho de mulheres e modo de produção de riqueza. Neste trabalho buscou-se observar a história oral de vida de uma mulher que produz renda no Morro da Mariana, município de Ilha Grande de Santa Isabel - Pi. Procurou-se resgatar memórias valendo-se do olhar feminino como norte para, num segundo momento, produzir um layout de livro onde esta história foi contada poeticamente e ilustrada com trabalhos de pintura, tendo como elemento imagético a renda de bilro.
METODOLOGIA:
Inicialmente optou-se por conversar informalmente com as rendeiras na Associação das Rendeiras do Morro da Mariana a fim de conhecer o grupo e escolher os sujeitos para as entrevistas. Durante duas visitas fez-se um registro fotográfico dos modelos de renda produzidos pelas rendeiras. Foram entrevistadas duas rendeiras da Associação, enfatizando aspectos de: infância, tempo de atividade como rendeira; tradição familiar; origem dos modelos, sazonalidade da produção, comercialização, etc. Pesquisou-se ainda sobre a origem da renda de bilro do Brasil, sobre a genealogia feminina (ALMEIDA, 2004), a relação arte/artesanato (Porto Alegre), aspectos da memória e do tempo (Santo Agostinho). Na segunda etapa da pesquisa, com base nos dados coletados, criou-se um texto poético sobre a história de uma rendeira, que foi dividido em onze fragmentos e para cada um desses fragmentos criou-se uma ilustração. Para a pesquisa plástica utilizou-se como técnicas pintura, colagem e gravura. Materializou-se assim, no conjunto de texto e imagens uma proposta livro ilustrado.
RESULTADOS:
Como resultado pesquisa tem-se o livro ilustrado, conforme disposto nos objetivos do trabalho. Assim a produção do texto e das imagens desse livro é o resultado desta pesquisa em artes.
CONCLUSÕES:
O principal objetivo da pesquisa foi cumprido com o desenvolvimento de um objeto plástico, com texto e imagens produzidos pela pesquisadora. Durante o processo de criação do “livro” o aprofundamento do conhecimento do ofício de rendeira proporcionou uma viagem ao imaginário feminino e, em particular, da própria pesquisadora. O tema abordado trouxe consigo toda uma carga genealógica dessas mulheres que teimam em tecer com finos fios o seu dia a dia. A força que emana da tradição de tramar as linhas é real. E o fio que conecta essas mulheres, entre gerações de uma mesma família, é que parece torná-las o que são: mulheres que lutam bravamente e que, ao mesmo tempo, desempenham um ofício minucioso e delicado. Com paciência e maestria seguem fazendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua família já faziam, mas revisitam e atualizam as formas e os pontos que fazem hoje. De modo que estão, ao mesmo tempo, com um pé no passado e outro no presente. Presenciar esta dinâmica extrapola os objetivos desta pesquisa, e desemboca em outras questões, que direcionam para novas pesquisas futuras.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Memória; Genealogia feminina; Renda de bilro.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005