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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística
O status DO DP PRÉ-VERBAL EM CONSTRUÇÕES PASSIVAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Cláudia Roberta Tavares Silva 1 (claudinharoberta@ig.com.br) e Jair Gomes de Farias 2
(1. Pesquisadora da Pós-Graduação em Letras e Lingüística, Universidade Federal de Alagoas – UFAL; 2. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, Universidade Federal de Alagoas – U)
INTRODUÇÃO:
É assumido para a gramática do português que as passivas podem ser classificadas, pelo menos, de duas maneiras: a) passivas canônicas que são formadas pela perífrase verbal do verbo auxiliar ser com o verbo principal na forma participial e b) passivas de –se, nas quais o clítico -se recebe função-θ externa (cf. Mateus et al, 2003). Em ambos os casos, o DP, quando ocupa a posição pré-verbal, recebe Caso nominativo por possuir relação gramatical de sujeito em decorrência de ele estabelecer concordância morfologicamente visível com a flexão verbal. Ao contrário dessa perspectiva, defenderemos que a configuração sintática estabelecida entre o DP sujeito e a flexão verbal (Spec-Head) independe da concordância morfologicamente visível. Sob o enfoque teórico do modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky, 1986,1993), temos por objetivo analisar o status do DP pré-verbal em construções passivas de –se e passivas canônicas, apresentando evidências de que as primeiras possuem um comportamento similar ao das construções de –se nominativo. Para tanto, serão levadas em conta algumas condições necessárias para a boa formação das frases, dentre elas: o critério-θ e o Filtro do Caso. Ademais, apresentaremos evidências de que os DPs em posição pré-verbal não estão numa posição-A nas passivas de –se e discutiremos sobre como e que Caso é atribuído ao DP selecionado pelo predicador verbal, visando, por sua vez, contribuir para os estudos realizados no âmbito da sintaxe.
METODOLOGIA:
Para a realização desta pesquisa, foram analisadas frases declarativas finitas, frutos de nossas intuições como falantes nativos do português brasileiro. E ainda, utilizamos como método de abordagem o hipotético-dedutivo e como método de procedimento o comparativo, este último, mais especificamente, quando comparamos as frases passivas do português brasileiro com as passivas de línguas como o português europeu e o italiano. Vale dizer que, além das nossas intuições, foi necessário recorrermos aos juízos de gramaticalidade dos falantes frente a algumas estruturas frásicas. A fim de diagnosticarmos se os DP pré-verbais têm relação gramatical de sujeito e se estão em posição-A ou não-A, aplicamos alguns testes clássicos, dentre eles: a pronominalização do DP e efeitos de ligação-A.
RESULTADOS:
A partir da análise comparativa entre as passivas canônicas e as passivas de –se no português brasileiro, chegamos aos seguintes resultados: a) nas passivas canônicas o agente da passiva é representado por um PP argumento, ao contrário da passiva de –se, em que a função agentiva é absorvida pelo clítico -se, em satisfação ao Critério-θ; b) nas passivas canônicas, os sujeitos pré-verbais ocupam a posição-A, Spec, AgrP, conforme atestam os efeitos de ligação-A, por exemplo. Nas passivas de –se, ao contrário, os sujeitos pré-verbais são tópicos marcados; c) a concordância morfologicamente visível entre o DP sujeito e a flexão verbal não é um critério satisfatório para identificar o constituinte com relação gramatical de sujeito, o que implica assumir que o Caso nominativo atribuído a esse constituinte é resultado da configuração estrutural Spec-Head; d) os DPs não são movidos, obrigatoriamente, para a posição pré-verbal nas frases passivas para aceder ao Caso nominativo no português brasileiro, ao contrário do inglês. Não obstante algumas diferenças atestadas entre as passivas canônicas e as passivas de –se, elas compartilham algumas propriedades: a posição pré-verbal é não-θ e não pode haver pronominalização do argumento interno.
CONCLUSÕES:
As evidências apresentadas nesta pesquisa vêm corroborar resultados de alguns estudos já realizados sobre a concordância em particular (cf. Costa; Figueiredo Silva, 2003 e Silva, 2004). De fato, a concordância que garante ao DP o status de sujeito de uma frase é a estrutural e não a morfologicamente visível estabelecida entre o DP e o núcleo funcional, conforme atestam as frases do PB analisadas. E ainda, as passivas de –se, ao contrário das passivas canônicas, compartilham algumas propriedades com as construções de –se nominativo, dentre elas: a presença do clítico que recebe função-θ Agente e bloqueia, por sua vez, a presença de outro argumento com traço de agentividade, a leitura referencial arbitrária a esse clítico e a impossibilidade de o argumento interno ocupar a posição-A pré-verbal de sujeito.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Frases passivas; Ordem de palavras; Concordância.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005