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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada

MALHA RODOVIÁRIA E CONFLITOS DE CONSERVAÇÃO NO CERRADO

Rodrigo de Jesus Silva  1
Luis Mauricio Bini  1
José Alexandre Felizolla Diniz Filho  1, 2
Mirian Plaza Pinto  1
(1. Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Goiás, ICB-1; 2. Departamento de Biologia, Universidade Católica de Goiás, MCAS-PROPE)
INTRODUÇÃO:

Uma vez que as rodovias representam um fator de fragmentação do habitat, a prospecção do impacto rodoviário mais o direcionamento de medidas que visam a sua diminuição são tocantes para a criação de ferramentas de preservação como unidades de conservação.

As rodovias são promotoras artificiais de barreiras ecológicas às espécies. Devido ao fluxo de veículos e o barulho ocasionado pelos mesmos, as rodovias influenciam negativamente nas taxas de locomoção de mamíferos e nos períodos reprodutivos de aves e anfíbios, que são os dois principais grupos dependentes da comunicação sonora. Na Holanda, rodovias com tráfico intenso afetam negativamente a ocupação de lagoas por anfíbios.

Os conflitos entre, a malha rodoviária e conservação biológica podem ser minimizados quando os planos de seleção de unidades de conservação são baseados no conceito de complementaridade. Áreas com poucas espécies podem ter alto valor de complementaridade e a combinação de várias destas áreas pode perfazer um nível de representação das espécies mais efetivo (e.g. pelo menos uma população de todas as espécies de um determinado grupo taxonômico está “dentro” ou representada nas unidades de conservação).

Os objetivos específicos são: determinar a extensão da malha rodoviária no Cerrado; verificar a influência da malha rodoviária na restrição da escolha de áreas com elevada biodiversidade e, criar uma rede de complementaridade que maximize a biodiversidade ao passo minimiza os custos ou quantidade de rodovias.

METODOLOGIA:

A extensão da malha rodoviária foi determinada para 181 células que contemplam a área do Cerrado brasileiro, cada uma delas cobrindo uma área de 1o de latitude por 1o de longitude. Esses dados foram obtidos através de bases cartográficas disponíveis no site do IBGE e no Guia 4 Rodas. As diferentes categorias de rodovias e estradas foram mensuradas separadamente, sendo elas: tronco principal, em pavimentação e outras... As extensões de rodovias também foram determinadas por unidades da federação.

Extensões de ocorrência de 131 espécies de anfíbios anuros encontrados no Cerrado foram mapeadas sobre a mesma grade. A riqueza de espécies foi estimada através da sobreposição das distribuições geográficas das 131 espécies de anuros em cada uma das 181 células. O algoritmo simulated annealing, disponível no programa SITES e baseado no conceito de complementaridade, foi rodado 100 vezes para selecionar redes de áreas para representação de anuros.

O algoritmo simulated annealing, disponível no programa SITES (Andelman et al. 1999) e baseado no conceito de complementaridade, foi rodado 100 vezes para selecionar redes de áreas para representação de anuros. Dois cenários foram usados para selecionar as áreas: uma abordagem mais simples, onde a inclusão de cada quadrícula diferente tem o mesmo valor e  outra atribuindo custo às quadrículas em função da quantidade de rodovias. Assim, quadriculas com muitas rodovias ou alto custo não entram na rede de complementaridade.

RESULTADOS:

Dos 12 estados brasileiros cuja extensão territorial compreende áreas localizadas no bioma cerrado, Minas Gerais foi o que apresentou a célula com maior quantidade de estradas, já o estado de Goiás apresentou uma considerável concentração de estradas, sendo o terceiro estado em quantidade máxima de rodovias por célula.

Os dados de extensão da malha rodoviária sugerem que as células a serem evitadas para a implementação de unidades de conservação estão próximas ao Estado de São Paulo. Por outro lado, alguns estados (Rondônia, Tocantins, Piauí, Bahia e Maranhão) que deveriam apresentar um maior número de células selecionadas em função da baixa extensão da malha rodoviária destes, não corresponderam às expectativas após a análise com o algoritmo.

O número mínimo de células que abrigam todas as espécies de anfíbios ao menos uma vez é 17 em ambos os cenários (simples e atribuindo custo às quadrículas em função da quantidade de malha rodoviária). A despeito da possível correlação positiva existente entre diferentes indicadores de desenvolvimento socioeconômico e riqueza de espécies, os conflitos de conservação podem ser minimizados quando uma rede de unidades de conservação é selecionada com base no conceito de complementaridade. Em ambos os cenários foram selecionados 10 quadrículas que maximizavam o número de espécies em detrimento do número de rodovias, sendo que o cenário com custo teve uma menor variação rodoviária do que o sem custo (48 a 1577 Km).

CONCLUSÕES:

A existência de uma ampla malha rodoviária no cerrado pode causar restrições para a conservação da biodiversidade de anfíbios. No entanto, utilizando o conceito de complementaridade, este conflito pode ser evitado através da seleção de unidades que, ao mesmo tempo, maximizam a representação das espécies (as áreas selecionadas são coincidentes com as extensões de ocorrência das espécies) e minimizam a presença de rodovias ou a densidade populacional humana.

Quanto maior o número de restrições do modelo, maior é a eficácia do mesmo  para demonstrar regiões com melhor representatividade de espécies em relação aos fatores conflitantes.

Instituição de fomento: CNPQ
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cerrado; Otimização; Unidades de conservação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006