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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DE UM BAIRRO POPULAR EM SALVADOR: O CASO DE PARIPE, NO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO.
Flávia Silva de Souza 1
Angelo Szaniecki Perret Serpa 1
(1. UFBA)
INTRODUÇÃO:
Trabalhar com a dinâmica de bairros periféricos em Salvador é algo relevante para o contexto da cidade. Esta pesquisa constitui-se em uma tentativa de ampliar os conhecimentos sobre essa escala de análise tão próxima da realidade cotidiana das pessoas: o bairro. O objeto central do presente trabalho é o bairro de Paripe, situado no Subúrbio Ferroviário de Salvador, no trecho final da Avenida Afrânio Peixoto. Um bairro extenso, que abriga uma população de baixa renda, possuindo relevância histórica para os seus habitantes e também para a cidade. Para a operacionalização desta análise, foi feito um levantamento da infra-estrutura urbana, avaliando a distribuição do comércio e dos serviços e dos espaços públicos, assim como dos meios de transportes existentes no bairro, observando também o processo de formação de possíveis centralidades e verificando seus espaços mais integrados/segregados. Este trabalho pretende também compreender o “bairro”, a partir do ponto de vista de seus moradores, já que, segundo Relph (1979), o individuo estabelece relações com determinados lugares, através dos sentidos, da linguagem e dos símbolos. Desse modo, o espaço é vivido de maneira individual e intersubjetiva.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi dividida em duas etapas: a primeira etapa constituiu-se num diagnóstico das condições estruturais e sócio-econômicas da área. Esta etapa baseou-se no Método da Sintaxe Espacial, que facilitou a investigação precisa sobre a interação entre as configurações espaciais e as relações sociais que ocorrem nestes espaços. Foi dividida em quatro partes: A primeira se refere à delimitação da área, realizada a partir de conhecimentos prévios sobre a mesma. Como Salvador não possui delimitação oficial de bairros, verificamos em campo, através dos depoimentos, se esses limites coincidiam ou não com os estipulados pela pesquisa; a segunda levou em consideração a análise dos espaços públicos, para os quais foram estabelecidos critérios de caracterização e hierarquização; a terceira parte constituiu-se do levantamento e do mapeamento do comércio e dos serviços, examinando os núcleos centrais e os núcleos mais segregados; por fim, procedeu-se à caracterização da situação do transporte público. A segunda etapa diz respeito ao espaço vivido pelos moradores, buscando-se o resgate histórico-cultural da área, através da percepção de seus habitantes. Foram feitas 40 entrevistas considerando o sexo, a faixa etária, o tempo e o local de moradia, bem como a participação em alguma mobilização no lugar. Os entrevistados foram solicitados a desenhar mapas mentais, identificando os referencias de Paripe. O cruzamento destas variáveis permitiu a construção de uma imagem coletiva do bairro.
RESULTADOS:
Os resultados apontam para um bairro marcado pela escassez de espaços livres públicos, fato comprovado através da aplicação do método da sintaxe espacial, elaborado a partir das pesquisas de Holanda & Gobi (1988). Foram escolhidos quatro espaços para uma análise mais aprofundada: dois nos eixos mais integrados – Praças João Martins e Oscar Marback – e dois nos eixos mais segregados – Praças Professor Raimundo Varella Freire e “Ilha Quadrada”, basicamente utilizados como ponto de encontro de amigos. O crescimento populacional ao longo dos anos transformou Paripe em um bairro essencialmente residencial e comercial. A concentração comercial favoreceu o surgimento de centralidades com maior diversificação dos produtos e serviços, que atendem usuários do bairro e arredores. O sistema de transporte público facilita a acessibilidade dos usuários aos núcleos comerciais, já que tanto o transporte rodoviário quanto o ferroviário são capazes de atender as necessidades da população do bairro e seu entorno. Os referenciais que marcam o cotidiano do bairro estão atrelados ao seu desenvolvimento, destacando-se: a melhoria da infra-estrutura; a criação do Centro de Abastecimento; e a Praça João Martins. Em relação às manifestações culturais os moradores dão unânimes na afirmação de que estas são incipientes na atualidade. No passado, se restringiam às festas de São João, ao bumba-meu-boi e às festas religiosas.
CONCLUSÕES:
Paripe passou por um processo gradativo de desenvolvimento e hoje apresenta problemas peculiares à maioria dos bairros da periferia de Salvador. Os principais problemas se expressam nas invasões, que ocupam o solo de maneira desordenada, não recebendo a devida assistência por parte dos poderes públicos. As obras de saneamento básico e pavimentação se dão com mais freqüência nos eixos mais centrais do bairro, onde se concentram o comércio, os serviços e os fluxos do transporte urbano. Paripe é um lugar de forte significação para os seus moradores, justamente porque possui um comercio amplo, bom serviço de transporte e um espaço central de lazer bem visitado, sobretudo se comparado aos bairros próximos, como Fazenda Coutos e São Tomé de Paripe. Grande parte dos moradores acredita no potencial do bairro, todavia a organização dos moradores é ainda incipiente, talvez por falta de informação ou de oportunidade. Acredita-se que a atuação de alguns grupos ativistas no bairro é uma tentativa de exercer uma participação mais efetiva, na busca de melhorias e de uma organização que consolide uma identidade comum. Apostar no planejamento participativo é aguçar a vontade desses grupos em definir conteúdos concretos, pois de acordo com Souza (2003, p. 321) “os instrumentos do planejamento por mais criativos que sejam só possuem devida importância se tiverem a implementação e a operacionalização influenciadas e monitoradas pelos cidadãos”, tornando-os também responsáveis pelos resultados.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Infra-estrutura; Bairro popular; Paripe.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006