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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
DE VAN GOGH A GIRASSÓIS: CRIANÇAS E ARTE PICTOGRÁFICA PELA SIGNIFICAÇÃO DE IMAGINÁRIO INFANTIL
Laysmara Carneiro Edoardo 1
(1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho trata-se do aprofundamento da pesquisa realizada com Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) que dedicava-se exclusivamente à comparação de estudos antropológicos com o objetivo de reconhecer nestes, aquilo que vem sendo chamado de Imaginário Infantil. Assim, este trabalho tem como objetivo – a partir de um estudo de caso – corroborar a noção de que o conceito infância – criado primeiramente para definir uma faixa etária – pouco tem se identificado com aqueles que são considerados infantes. Para tal, utilizamo-nos, sobretudo, de estudos realizados por Merleau-Ponty e suas críticas às pesquisas de Piaget para que a partir da linguagem pictórica de crianças entre 3 e 6 anos, reconheça-se o funcionamento de seu imaginário – baseado nas representações que a mesma realiza dia-a-dia do mundo à sua volta – podendo assim, conseqüentemente, dizer que o Imaginário Infantil funciona de maneira polimórfica e que apresenta um lógica, deixando de lado a perspectiva atomística e estigmatizadora da imaginação e inteligência das crianças.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada neste trabalho trata-se de uma repetição de um fato em atividade artística normal. Percebeu-se que as crianças davam sentido aos seus desenhos no momento em que o criavam, fazendo a transformação do sinal em símbolo e criando fantasias sobre figuras aparentemente nonsense. Cerca de uma semana depois, algumas crianças além de não recordarem de sua autoria dos desenhos, sequer lembravam da significação dada a esses. Assim, utilizamo-nos do que Earl Babbie chama de Survey Longitudinal com Estudos de Painel, ou seja, retomada de uma mesma amostra com diferenciação temporal. Objetivou-se aqui, comparar os resultados das significações procurando perceber peculiaridades e pontos fundamentais nas representações de cada criança. As análises pictográfica e comportamental foram fundamentadas a partir de levantamento e exame bibliográfico de autores, temas e títulos voltados à investigação. Os textos foram compilados, fichados e considerados com o procedimento de uma análise comparativa de dados e teorias aventadas procurando definir as características que baseassem uma construção reflexiva para o mesmo.
RESULTADOS:
O resultado essencial encontrado a partir de tal estudo foi a perspectiva de que as crianças aproximam experiências passadas para responder um questionamento interior e exterior. Apesar de serem condicionadas pela aculturação – como os adultos – possuem uma noção própria de seu relacionamento estrutural consigo e com o outro e expressam-na como uma construção objetiva e subjetiva de tal nos desenhos – induzidos ou não. Contudo, a partir deles dão significações que expressarão de forma aleatória, aquilo que há de fundamental na sua vivência no determinado momento da interpretação. Segundo Merleau-Ponty, em crítica à Piaget, o desenho não é simplesmente uma notação sobre o papel do que é visto num certo momento – sabendo-se que esta abordagem desconsidera o distanciamento pierceano de signo à símbolo – mas sim, uma mediação e uma introdução àquilo que tem caráter explicativo para a criança. O desenho, portanto, expressa uma atitude sintética que visa aglomerar os elementos que estão reunidos no objeto que a criança representa, ou seja, a representação “de mundo” desta – como comprovado – que está presente na sua significação, seja ela em caráter existencial ou estruturado de seu imaginário e a seguir de suas respostas para a construção de sua própria interpretação do mundo ao redor.
CONCLUSÕES:
Em qualquer estudo de Ciências Humanas é impossível se chegar à uma conclusão podendo-se apenas falar de considerações parciais, visto inclusive que este trabalho será ainda aprofundado na busca de novos pontos a serem analisados. Como consideração principal tem-se a perspectiva de Imaginário proposta inicialmente corroborada pela relativização do conceito e da abordagem, em detrimento da representação adulta sobre a terminologia infância. As crianças, portanto, podem, e com primazia, representar um mundo com lógica e hipóteses racionais sobretudo quando se trata da criação de possibilidades. Perguntas tais como e porquê são respondidas com base em comparações do objetivo e do subjetivo sem a intenção de reconhecer a construção do conhecimento, mas sim o conhecimento em si. Como nos fala Merleau-Ponty, o que possui valia realmente é a significação, pois o que a criança representa nos desenhos não é aquilo que vê, mas aquilo que sabe. As diferentes interpretações observadas no momento do ato pictográfico e na leitura posterior comprovam o caráter lógico e polimórfico do Imaginário Infantil e de uma relação fundamental a ser explorada ainda: Imaginação, sob a perspectiva de Philippe Malrieu, como uma superação da imitação passiva e da adesão automática às regras sociais. Pode-se então propor que as projeções caracterizam o caráter contraventivo da mesma contra superestruturas de domínio ideológico e de homogeneização.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Infância; Representação; Arte Pictográfica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006