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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

dURAÇÃo vocálica e consonantal em monossílabos abertos NO pb: INFORMAÇÃO FONÉTICA OU FONOLÓGICa?

Luiz Carlos da Silva Souza 1
Vera Pacheco 1
(1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB)
INTRODUÇÃO:

Durante muito tempo, a Linguística estruturalista dedicou-se à catalogação dos sons que fossem distintivos em uma dada língua. Por essa razão, os estudos acerca da duração das sílabas e dos segmentos não eram realizados. Com os novos rumos da Linguística, sob uma visão não-linear, aspectos como a duração segmental tornaram-se foco dos estudos fonético-fonológicos.

Tendo em vista o caráter contínuo da fala, os segmentos são passíveis de serem influenciados entre si. House & Fairbanks (1953) apontaram, no Inglês, que o vozeamento das consoantes é um dos fatores que podem interferir na duração vocálica. Dados como esse confirmam que a duração dos segmentos, vocálicos ou consonantais, não constitui apenas informações fonéticas, mas pode auxiliar na compreensão do sistema fonológico.

Moraes e Wetzels (1992) realizaram estudos sobre a duração segmental no Português do Brasil (PB), com o objetivo de investigar a natureza mono ou bifonêmica das vogais nasais. Pacheco (2004) também investigou o caso num trabalho mais amplo. Ambos os trabalhos apresentam fortes indícios de que a duração segmental, no PB, não é arbitrária.

Por isso, com o objetivo de se ter um melhor entendimento acerca do sistema lingüístico do PB, estudando-se em que medida as durações segmentais são fonológicas, esse trabalho investiga a duração intrínseca dos segmentos vocálicos e consonantais do PB com o intuito de verificar se essas durações são de natureza somente fonética ou também fonológica.
METODOLOGIA:

Foi montado um corpus de palavras monossílabas, CV, com as vogais /a/, /i/ e /u/ ocupando a posição V e as consoantes oclusivas /p/, /b/, /t/, /d/ e /k/, /g/ e as fricativas /f/, /v/, /s/ e /z/ ocupando a posição C. Essas palavras foram impressas em papéis brancos e apresentadas ao informante de forma aleatória com um intervalo de tempo indeterminado entre uma palavra e outra.

As gravações foram efetuadas num estúdio com um aparelho digital em alta qualidade. Cada palavra foi gravada três vezes, aleatoriamente, em taxa de elocução normal, por um informante do sexo feminino com perfeita dicção. Os segmentos foram medidos através do programa Praat. Para medir a duração das oclusivas, considerou-se o VOT. A duração das fricativas foi obtida levando-se em conta o intervalo do ruído fricativo. As vogais, por fim, são medidas através da análise do intervalo de realização vocálica compreendida entre o início (onset) e o fim (offset), identificados, nas ondas, pelos picos relativamente homogêneos se comparados com as consoantes. O tempo de duração dos segmentos usado nas análises e submetido à análise estatística foi obtido a partir do resultado da razão entre a duração do segmento e a duração total da palavra em que esse segmento estava inserido.

Foi realizado o teste estatístico Anova-um critério, para certificar se as médias das três medidas de cada um dos segmentos apresentavam diferenças significativas entre si.  As médias foram consideradas diferentes para p<0,05.
RESULTADOS:

No Inglês, Fry (1979) observa que as vogais tendem a ser mais longas diante de oclusivas e fricativas sonoras do que quando essas consoantes são surdas. O autor diz, além disso, sobre a duração das consoantes oclusivas: as surdas têm uma oclusão maior que as sonoras. Krause (1982), discutindo acerca da influência da duração vocálica na sonorização das oclusivas pós-vocálicas nessa língua, indica o mesmo comportamento observado por Fry (1979) para as vogais. Pode-se dizer, portanto, que a duração vocálica e a caracterização de consoantes surdas e sonoras estão intrinsecamente relacionadas na língua inglesa.

Já no PB, essa pesquisa mostra que a duração das vogais se difere somente quando se compara o valor de sua duração diante de consoantes oclusivas surdas e sonoras; as vogais tendem a ser mais longas diante de oclusivas surdas do que diante de oclusivas sonoras; exceção para a vogal /u/, cuja duração é indiferente à consoante velar surda ou sonora. As vogais diante de fricativas surdas e sonoras não apresentam diferenças de duração significativas entre si.

Quanto aos segmentos consonantais, apenas as oclusivas apresentam duração diferenciada quanto à sonoridade: as oclusivas sonoras tendem a ser mais longas que as surdas correspondentes, independentemente da vogal que lhe segue. Somente diante de /u/, não há diferença significativa de duração entre surda e sonora. As fricativas, por sua vez, não apresentam diferenças significativas entre a duração de surdas e sonoras.
CONCLUSÕES:
Esses resultados evidenciam um comportamento duracional particular às oclusivas, já que essas consoantes apresentam duração de surdas e sonoras diferente independentemente da vogal que lhes segue, além de influenciarem a duração dessa vogal. Portanto, pelo que foi encontrado, a duração segmental no PB parece não contribuir, como acontece em muitas línguas, para uma informação fonológica, no caso, distinção entre consoantes surdas e sonoras, pelo menos em monossílabos abertos, contexto em que os segmentos foram analisados, pois somente as oclusivas mostraram duração diferente para as surdas e sonoras. Assim, os resultados encontrados acenam para a hipótese de que essa diferença duracional seja, na verdade, um aspecto de micro-prosódia, particular às oclusivas, e não uma informação fonológica.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia/FAPESB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: consoantes; micro-prosódia; vogais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006