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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
FILHAS DE ANASTÁCIA - TRABALHO DE MULHERES AFRO-DESCENDENTES NA REGIÃO DO ABC (1950-1960)
Robson Conceição da Silva 1
Vilma Lemos  1
(1. INSTITUTO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE SÃO CAETANO DO SUL )
INTRODUÇÃO:
Discriminada, analfabeta e pobre, a mulher afro-descente luta para inserir-se no mercado de trabalho e na sociedade. Sua condição de marginalizada constitui-se, também, por reminiscências do passado ancestral da escravidão, que gerou sua exclusão social. Esta pesquisa analisa a relação negros e trabalho, tematizando as mulheres negras na região do ABC, partindo da questão: como ocorre a inserção da mulher negra no mercado de trabalho na região do ABC?  Observando a herança escrava, objetiva-se dar destaque às mulheres negras no período de 1950 a 1960, dimensionando sua atuação no mercado de trabalho, as profissões a que se dedicaram, as dificuldades enfrentadas num mundo de brancos, as oportunidades de escolarização e sua evolução dentro deste contexto discriminatório e de desigualdade social. Com isso, será possível ter um panorama da atuação das afro-descendentes no chamado “país das oportunidades”, o que possibilitará uma apreciação social do papel dessas mulheres na região. Os depoimentos orais de história de vida fornecerão suporte para responder às perguntas desta pesquisa e constituirão referência sobre a figura de mulher negra trabalhadora. A pertinência desta pesquisa se dará pela relevância dada à voz das que não tiveram espaço para contar suas histórias. A recuperação dessas vozes que não fizeram parte das vozes oficiais, mas também formam o contexto histórico de uma coletividade significativa para a região do ABC, justifica a expressividade desse projeto.
METODOLOGIA:

Memória é concebida no seu sentido tanto individual quanto coletivo HALBWACHS, (1990), relacionada às lembranças dos indivíduos. A memória não é um fenômeno individual, mas sim uma construção social. O ato de rememoração requer um comportamento narrativo, pois trata-se de “comunicação a outrem de uma informação, na ausência do acontecimento ou do objeto que constitui seu motivo” (LE GOFF, 2003, p.421). A técnica da história oral utilizada compreende os depoimentos de histórias de vida, gravados em meio magnético e digital. Para tanto, foram feitas entrevistas com mulheres afro-descendentes, moradoras da região do ABC, a partir de 1950 gravadas no ABC em 2005 nos estúdios de TV do IMES - Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Os depoimentos foram transcritos. Seguiu-se pesquisa documental em material guardado pelos depoentes. Esses materiais foram digitalizados e constituíram o acervo de um banco de dados (Hipermemo), do Grupo de Pesquisa do Memórias do ABC da Universidade.

RESULTADOS:

A mulher afro-descendente do ABC vem do interior do estado de São Paulo. Seu primeiro emprego ocorre em casas de famílias, onde trabalhava como empregada doméstica, sem carteira assinada. Passa a trabalhar em fábricas, na linha de produção, quando busca por trabalho com carteira assinada. Trabalha também em casa como costureira, a partir do nascimento de seus filhos, para conseguir complementar a rendar familiar. A escolarização é baixa, pois deixavam os estudos para trabalhar, ou por decisão dos pais.

CONCLUSÕES:

A mulher afro-descendente tem uma educação deficiente devido ao machismo por parte do pai que ou evita que a mulher afro-descendente vá à escola ou as retiras prematuramente do ciclo da educação considerando que aprenderam o suficiente, ou seja, ler e escreve ou muitas vezes nem isso. Outro fator é a condição social dessas mulheres negras que deixaram a escola para trabalharem e complementando a renda da família. Deixa o campo onde vivia para ir viver na cidade em busca de melhores condições de vida e trabalho, primeiros vão alguns familiares ou o marido e depois que o restante da família muda-se. As dificuldades na adaptação ao espaço urbano são diversas, desde ao clima mais frio da cidade até a falta de espaço físico em suas novas habitações. Os primeiros empregos como domésticas é a opção mais fácil de trabalho, pois só buscaram trabalho em fábricas quando buscam trabalho com carteira assinada. A sua entrada no mercado de trabalho se da de maneira simples por indicação de amigos ou pessoas próximas. Como afirmam as depoentes do Memórias do ABC, que serviram como fonte para esta pesquisa: “naquela época era mais fácil arrumar trabalho”.Considerando que neste período (1950-1960) ocorre no país a expansão do mercado de trabalho no setor das indústrias, gerando ampla fonte de postos de trabalho.

Instituição de fomento: IMES – Universidade Municipal de São Caetano do Sul
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: história oral; regionalidade; afro-descendentes.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006