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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
EXPLORAÇÃO DAS DEFINIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE SEUS TEMAS, VARIÁVEIS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS E COMPROMISSO PRÓ-ECOLÓGICO.
Hugo Juliano Duarte Matias 1
José de Queiroz Pinheiro 1
(1. Departamento de Psicologia, UFRN)
INTRODUÇÃO:
Tendo em conta o efeito da atual crise ambiental sobre o modo de vida contemporâneo, expresso em dificuldades como escassez energética e de outros recursos naturais, problemas relativos ao controle da produção de resíduos e vários outros problemas ambientais, esse é um tema que, cada vez mais, interessa às Ciências Humanas e à sociedade de um modo geral. Não só por ter implicações sobre a forma como vivemos, mas principalmente por causa da relação intrínseca entre comportamento humano, suas crenças, valores e atitudes e a origem dessa crise ambiental: humano-ambiental, portanto. Mudanças de comportamento e mentalidade são apresentadas por cientistas, organizações de diversas naturezas e pela mídia, como única solução viável. Tal pensamento justifica o estudo do comportamento pró e anti-ambiental e da mentalidade a ele relacionada, manifesta por um discurso acerca da relação entre o homem e o meio ambiente. Este estudo é parte de uma pesquisa ampla, realizada em Natal/RN, com 355 estudantes universitários, 229 mulheres e 126 homens, com média de idade de 22,7 anos (DP = 5,05). Seu objetivo era a construção do conceito de conduta sustentável, através do estudo de variáveis disposicionais de comportamento pró-ambiental e do discurso dos participantes sobre temas ambientais como desenvolvimento sustentável.
METODOLOGIA:
Foi utilizado um questionário solicitando informações sócio-demográficas, auto-relato sobre a prática de cuidado pró-ambiental, forma de contato e disposição para participar de campanha pró-ecológica, e uma definição de desenvolvimento sustentável. Além disso, compunham esse questionário escalas de predisposição pró-ambiental e perspectiva temporal. Trata-se, aqui, dos resultados da análise dos textos produzidos pelos estudantes como definição de desenvolvimento sustentável, o que foi feito com base em dois referenciais de codificação, em duas etapas distintas. A primeira consistiu em buscar alusões, nas respostas, aos temas presentes em uma definição de desenvolvimento sustentável amplamente conhecida. Isso mostrou quais os temas mais recorrentes, as relações recíprocas entre eles e com outras variáveis estudadas na pesquisa. A segunda consistiu em uma busca pelas recorrências discursivas presentes nas definições (tomadas como bipolares) quanto às possibilidades de significado para a dimensão natureza/meio ambiente e para a relação entre essa dimensão e a dimensão desenvolvimento de desenvolvimento sustentável. Com isso foi possível a construção do referencial de codificação para a análise quantitativa. Em seguida, depois do estudo das freqüências dessas categorias, procedeu-se a reconstrução do sentido dos conjuntos de respostas, remetendo-as a matrizes semânticas de um discurso sobre a relação entre natureza/meio ambiente e desenvolvimento, nosso referencial analítico.
RESULTADOS:
Os resultados da primeira etapa do estudo revelaram que 28,7% respondentes não aludiu a nenhum dos temas esperados na definição de desenvolvimento sustentável, e 60,6% dos respondentes aludiu a apenas um dos temas. Este é um índice da pobreza dessas definições, tendência apontada na literatura. As categorias Sustentabilidade Ecológica, com 83,3% das ocorrências, e Preocupação com as Gerações Futuras, com 11,6%, foram as mais importantes para os respondentes. As ocorrências da categoria Preocupação com Gerações Futuras se associaram positivamente às ocorrências da categoria Sustentabilidade Ecológica, ao auto-relato de cuidado ambiental e à ocorrência de deixar uma forma de contado, o que interpretamos como indicadores de pró-ambientalismo. Como resultados da segunda, três matrizes semânticas se destacaram pela freqüência de suas ocorrências: uma em que a natureza é o conjunto de recursos naturais que serve aos propósitos do desenvolvimento e ao usufruto humano, e por isso deve ser preservado; outra em que é definida de modo inespecífico, e, mesmo assim, é objeto de preocupação, tendo em conta os efeitos do desenvolvimento; outra ainda em que também é definida de modo inespecífico e que, embora possa ser afetada por outro tipo de desenvolvimento, não é afetada em caso de desenvolvimento sustentável. Há uma tendência de associação da primeira das matrizes descritas e atitudes pró-ambientais e da terceira e atitudes anti-ambientais, embora nenhuma delas seja significativa.
CONCLUSÕES:
Considerando a dificuldade em aludir aos temas mais conhecidos que compõem a definição de desenvolvimento sustentável, é possível concluir que esse conceito não tem sido apreendido pelo discurso social, ainda que alguns de seus elementos já lhe estejam disponíveis. As definições são muito pobres e tratam geralmente do mais elementar desse conceito, e por isso mesmo, não se pode conferir correlações claras entre os conteúdos dessas definições e o comportamento pró-ambiental ou suas manifestações predisposicionais. Uma exploração mais qualitativa desses dados mostra uma escassez de recursos discursivos que possam mediar uma reflexão sobre a relação entre desenvolvimento econômico, social e político, e os seus efeitos sobre o meio ambiente. Isso porque os significados atribuídos à natureza/meio ambiente não dispõem essa possibilidade, por serem muito restritos – o que corrobora a literatura no Brasil–, e porque a própria representação da relação entre desenvolvimento e natureza/meio ambiente é apreendida como uma relação de não-afetação mútua. A possibilidade discursiva mais consistente de representação da natureza melhor definida foi como conjunto de recursos ou “bens” naturais, numa posição de servir ao desenvolvimento das potencialidades humanas, o que pode significar que essa é a modalidade de discurso mais disponível, entre os participantes, para a apreensão da relação entre natureza e desenvolvimento.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável; conduta sustentável; comportamento pró-ambiental.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006