Muitos estudos sobre a família vêm sendo desenvolvidos, considerando-se que para compreender o indivíduo seja necessário focalizar a complexidade das relações familiares e sua influência na transmissão de valores sócio-culturais. A relação pai-criança representa um importante aspecto do contexto familiar, não ocorrendo desvinculada das demais relações familiares, em especial da relação pai-mãe e mãe-criança. A partir de um modelo sistêmico de família, pretende-se examinar o exercício da paternidade no contexto da rede de interações familiares. O presente estudo teve como objetivo investigar o ideal de pai vigente, a identidade e o lugar do pai na família atual.

Participaram da pesquisa cinco famílias constituídas por pai, mãe e, pelo menos, duas crianças com idade entre 6 e 10 anos. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com cada membro da família. As perguntas das entrevistas enfocaram a participação do pai em atividades relacionadas com a criança, tempo gasto com a família e qualidade da interação familiar. Além disso, foram utilizadas histórias semiprojetivas ilustradas com uma gravura, apresentando situações do cotidiano da vida da criança. As respostas foram analisadas qualitativamente.

Em relação ao ideal de paternidade, foi observado que pais e mães salientaram a importância do envolvimento afetivo entre pai e criança. No entanto, no relato das situações vividas no cotidiano, pais e mães destacam as qualidades que vinculam o exercício da paternidade a papéis tradicionais, tais como o de provedor e de autoridade moral, não obstante estes estejam sendo compartilhados com a mãe. Os relatos mostram que as mulheres ainda são responsáveis pela grande maioria dos trabalhos domésticos e dos cuidados com as crianças, enquanto os homens participam apenas como ajudantes. Uma função atribuía ao pai é a responsabilidade pelos estudos das crianças. O brincar aparece como um importante instrumento de intermediação da relação pai-criança. A partir dos relatos dos pais e dos/as filhos/as, percebe-se que a maneira de vivenciar a paternidade se diferencia de acordo com o sexo da criança.

É possível observar que o envolvimento paterno no contexto familiar vem sofrendo modificações de acordo com as transformações ocorridas na família. Apesar do ideal de paternidade apontar para um modelo mais tradicional, pautado nas funções de provedor e autoridade moral, podemos perceber que essas funções vêm sendo exercidas por ambos os genitores.O exercício da paternidade apresenta-se vinculado a uma maior preocupação com questões afetivas presentes na relação pai-criança. Observa-se uma maior inserção do pai no cotidiano e nos cuidados com as crianças. Embora, a relação pai e filho mostre-se diferenciada da relação pai e filha.