Tivemos como resultado da pesquisa a constatação de que a música de Goiá era bem mais representativa de sua época do que podíamos imaginar. Retratando as transformações por que passavam as regiões do interior do Brasil naquele momento, criou-se um laço de identidade muito forte entre as canções e as milhares de pessoas que eram afetadas pelos projetos desenvolvimentistas. Tal identidade faz que ainda hoje o compositor seja cultuado por uma legião de fãs aficionados.

A poética musical de Goiá é entendida pelos ouvintes e fãs, como uma maneira de se representar um mundo ou experiências que não existem mais. Mesmo que seja um mundo idealizado, foi também um mundo de muitas dificuldades, marcada pelo trabalho duro e incertezas, de poucas técnicas e baixa produtividade, só possível pela sociabilidade e pela fé que, como únicas alternativas, possibilitaram a existência. Esse tempo transformado pelos financiamentos governamentais, pelas inovações tecnológicas, pelos equipamentos e máquinas agrícolas sofisticadas, pelas estradas construídas e asfaltadas, pelas supersafras agrícolas, pelas terras despossuídas e ampliadas, pelas novas relações estabelecidas com o mercado, bem como pela presença de novos atores sociais, pelo desemprego ou emprego, pelas novas formas de fazer e agir – em decorrência de tudo isso – remete para perdas, resignificadas em versos. E, numa atitude própria, ao recantá-las, questiona-se esse presente, para muitos ainda injusto e inadequado. As pessoas parecem estar se divertindo, porém elas cantam para não esquecer quem são.