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D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 5. Nutrição

EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE CREATINA NA TOLERÂNCIA À GLICOSE E PERFIL LIPÍDICO EM HOMENS SAUDÁVEIS E SEDENTÁRIOS SUBMETIDOS A TREINAMENTO AERÓBIO

Bruno Gualano 1
Rafael Batista Novaes 1
Desire Coelho 1
Guilherme Artiolli 1
Carlos Ugrinowitsch 2
Antonio Herbert Lancha Junior 1
(1. Departamento de Biodinâmica - Escola de Educação Física e Esporte- USP; 2. Departamento de Esporte - Escola de Educação Física e Esporte- USP)
INTRODUÇÃO:

A creatina (ácido metil guanidino acético) é uma amina nitrogenada encontrada naturalmente em peixes e carnes. É sintetizada em nosso organismo pelo fígado, rins e pâncreas, a partir dos aminoácidos arginina, glicina e ornitina.         

Diversos estudos demonstram que a suplementação de creatina é capaz de elevar os conteúdos intracelulares de creatina e fosfocreatina nos músculos esqueléticos, o que promoveria melhora de rendimento em atividades intermitentes de alta intensidade e curta duração. Paralelamente à esfera esportiva, dados recentes sugerem alterações no metabolismo glico-lipídico em decorrência da suplementação de creatina. Tendo em vista o consensual efeito do treinamento aeróbio nesse parâmetro, especulamos que a suplementação de creatina acompanhada de treinamento aeróbio poderia atuar beneficamente sobre a tolerância à glicose e o perfil lipídico, o que seria de grande relevância para diabéticos e/ou portadores de doenças cardiovasculares. 

METODOLOGIA:

Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em 2 grupos: suplementado com creatina (n=12 - CR: 0,3g/dia/Kg durante os 7 primeiros dias + 0,15 g/kg/dia por mais 3 meses) e placebo (n=10 - PL:  dextrose, mesma dosagem). Os suplementos foram providenciados conforme o modelo duplo-cego. Ambos os grupos foram submetidos a treinamento aeróbio a 70% do consumo máximo de oxigênio (previamente estabelecido por teste ergoespirométrico máximo), 3 vezes por semana, 40 minutos por dia, durante 3 meses.

A metodologia  incluiu teste oral de tolerância à glicose (OGTT) e insulinemia de jejum, a partir dos quais se calculou o Homeostasis Model Assessment (HOMA); perfil lipídico (HDL, LDL, VLDL, TAG, colesterol total), dosados por kits enzimáticos colorimétricos. Os testes foram realizados no período basal (PRE), após 4 (Pos 4), 8 (Pos 8) e 12 (Pos 12) semanas.

Os resultados são expressos em média ± desvio-padrão. Um modelo randomizado de coeficiente de curva de crescimento foi  empregado aos dados com o intuito de determinar se os grupos experimental e controle apresentavam tolerância à glicose similares. Além disso, esse modelo testou se houve tendências de decréscimo na tolerância à glicose em função do tempo e tratamento. HOMA, insulina de jejum e perfil lipídico foram avaliados por análise de variância para dois fatores (ANOVA two-way). O teste de post-hoc de Tukey foi utilizado para localizar as diferenças significativas. O nível de significância adotado foi de  p<0.05.

RESULTADOS:

A análise não revelou diferenças estatísticas significativas nos valores iniciais de tolerância à glicose entre os grupos (p=0,37). A área de glicemia abaixo da curva, no entanto, diminuiu significativamente em ambos os grupos no decorrer do período experimental (CR: PRE- 15400 ± 2186; POS1- 13757.3 ± 2664.4; POS2 - 12129.9 ± 1569.2; POS3 - 12781.2 ± 1552.1; PL: PRE - 14617.1 ± 2018.9; POS1 - 14058.3 ± 1741.2; POS2 - 13451.2 ± 2080.9; POS3 - 14285.4 ± 1708.2) (p=0.005). Contudo, a taxa de diminuição foi maior no grupo CR (p= 0.034). A diferença na diminuição das áreas abaixo da curva entre os grupos foi de -814.3 mg•dl-1•min a cada 4 semanas.

Homa, insulinemia de jejum e perfil lipídico não apresentaram alterações em função do tempo e tratamento.

CONCLUSÕES:

 

Os resultados indicam que, em homens sedentários e saudáveis, a suplementação de creatina acompanhada de treinamento aeróbio alterou a tolerância à glicose, ao passo que HOMA e insulina de jejum não sofreram alterações significativas.

A literatura científica apresenta resultados divergentes acerca dos efeitos da creatina no metabolismo de glico-lipídico.  Vários fatores contribuem para tanto, tais como a quantidade administrada de creatina, o período experimental, o modelo experimental utilizado (humanos vs. ratos) e as características da amostra (sedentários vs. treinados, idosos vs. jovens, homem vs. mulheres, saudáveis vs. hipertrigliceridêmicos). No entanto, acreditamos que a principal variável responsável pelos resultados contraditórios seja o treinamento aeróbio, que parece ter um efeito aditivo à creatina. Segundo nossa revisão de literatura,  esse é o primeiro estudo a demonstrar que a suplementação de creatina acompanhada de treinamento aeróbio pode melhorar a tolerância à glicose em homens saudáveis, razão pela qual tornam-se relevantes, também, futuras investigações com diabéticos e/ou intolerantes à glicose, bem como os eventuais mecanismos responsáveis por tais alterações.

Instituição de fomento: FAPESP e CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: carboidratos; lipídios; metabolismo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006