O município de Macaé e a Região Norte Fluminense têm se destacado nos últimos anos pelas transformações econômicas e  territoriais engendradas pela extração de petróleo e gás na Bacia de Campos. A economia da Região Norte Fluminense foi, historicamente, baseada na agroindústria sucroalcooleira que na década de 1980 entrou em profunda crise. A descoberta de petróleo na Bacia de Campos e a instalação da base de apoio da Petrobras em Macaé deu início a um novo ciclo de crescimento econômico que vem minorando os impactos negativos da decadência do setor sucroalcooleiro.

No caso específico de Macaé, a instalação da Petrobras criou condições para a formação de um aglomerado produtivo de empresas ligadas à indústria extrativa de petróleo e gás. Este aglomerado é o principal responsável pela pujança econômica e pelos novos processos espaciais que vêm ocorrendo em Macaé e sua região de entorno.

Destarte, os objetivos desta pesquisa são analisar os novos processos espaciais que vêm modificando a estrutura territorial da região de entorno de Macaé, descrever o padrão locacional das empresas da cadeia produtiva do petróleo e gás no espaço intraurbano de Macaé e analisar seus impactos na produção do espaço urbano. 

Estes objetivos são importantes para o estudo das transformações e contradições impostas ao território pela instalação de um setor de alto conteúdo tecnológico em regiões caracterizadas pelo subdesenvolvimento e  atraso, como é o caso da região em estudo.

A metodologia de pesquisa adotada se dividiu em três etapas: (i) pesquisa bibliográfica; (ii) elaboração de mapas temáticos; (iii) trabalhos de campo. A primeira etapa consistiu na leitura e análise do referencial teórico e da literatura que trata das problemáticas da Região Norte Fluminense e do município de Macaé. Na segunda etapa foram confeccionados mapas para representação cartográfica das novas dinâmicas espaciais regionais, do padrão locacional das empresas da cadeia produtiva do petróleo e gás em Macaé e do processo de expansão urbana desta cidade. No mapeamento da região foi utilizado como referencial a própria literatura que tratava dos processos espaciais regionais. No mapeamento do padrão locacional das empresas utilizou-se como referência uma relação de endereços das empresas da cadeia produtiva e as observações de campo. No mapeamento da expansão urbana utilizou-se uma série de aerofotogrametrias entre os anos de 1956 e 2001 que foram demarcadas e sobrepostas. Na terceira etapa foram realizadas observações de campo que contribuíram para identificar novas áreas de concentração de empresas que vêm se formando na cidade e que ajudaram no entendimento das práticas espaciais empresariais em processo. Os trabalhos de campo também contribuíram na identificação dos problemas urbanos que ocorrem em Macaé, como a segregação sócio-espacial e a degradação do meio físico local.

As atividades extrativas de petróleo criaram novas dinâmicas que transformaram o território regional. Novas polarizações demográficas foram criadas a partir da grande oferta de emprego em Macaé. Este município, juntamente com os vizinhos, passaram a atrair grandes levas de imigrantes, emergindo como um novo centro regional. Com o advento dos royalties um novo regionalismo foi criado suplantando o tradicional regionalismo Norte Fluminense. Através da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo, outros municípios da Baixada Litorânea também recebedores de royalties também foram incluídos no regionalismo do Norte Fluminense, enquanto outros desta região foram excluídos.

No caso particular de Macaé, observou-se que a indústria extrativa se concentrou na forma de enclave na cidade, dando origem a um aglomerado produtivo bastante importante para o setor em escala nacional. As empresas que compõem o aglomerado são ligadas principalmente às atividades de extração ou de serviços. Elas tendem a se localizar na área central de Macaé, próximo ao Porto de Imbetiba, pertencente à Petrobras. Mas algumas empresas de maior porte têm se deslocado para a periferia da cidade em busca de espaço.

Como conseqüência direta destas atividades, a população cresceu exponencialmente e a área urbana cresceu de igual forma, seguindo principalmente o eixo norte-sul. Como principais problemas deste crescimento estão a forte segregação sócio-espacial, a degradação ambiental e o inchamento da cidade.

As novas polarizações demográficas decorrentes da oferta de emprego de Macaé transformaram a tradicional estrutura da rede urbana regional, pois a tradicional centralidade de Campos dos Goytacazes foi minorada em virtude da recente ascensão de Macaé como centro regional e de municípios vizinhos, principalmente na faixa ao sul deste município. O novo regionalismo vem suplantando a tradicional divisão regional, denotando uma substituição do antigo ciclo sucroalcooleiro pelo novo ciclo petrolífero.

Em relação ao aglomerado produtivo macaense, nota-se que as empresas tenderam a se instalar na área central de Macaé, onde a melhor infra-estrutura urbana e a proximidade do Porto de Imbetiba foram fatores importantes. Mas as deseconomias criadas pelo inchamento da área central obrigaram algumas empresas, principalmente as de grande porte, a se instalarem na periferia onde há maior oferta de espaço. Esta nova localização criou novas demandas de infra-estruturas ao poder público local e influenciou no processo de urbanização.

O grande crescimento populacional elevou Macaé à condição de cidade média, mas se mostrou desde o início bastante dual, pois somente aqueles com qualificação técnica ou superior conseguiram se inserir na economia formal. Aqueles sem qualificação recorreram à informalidade e foram responsáveis pela expansão das favelas pela cidade. Estas contradições também se refletiram na enorme degradação ambiental criada pela ocupação ilegal, especulação imobiliária e poluição.