Este estudo, que busca os fundamentos e a orientação da Análise do Discurso como referência teórica e metodológica, é baseado na pesquisa de campo qualitativa e quantitativa e acompanhado, em todas as suas fases, por estudos bibliográficos. Nessa investigação, que é uma continuidade da etapa anterior realizada no ano de 2003-2004, estudamos o espaço das Organizações Não-Governamentais (ONG’s), uma vez que o discurso dos empresários apontou para essa necessidade. Assim, para coletar os dados, foram realizadas, nessa fase da pesquisa, entrevistas com os representantes de 10 organizações, baseadas num roteiro previamente estabelecido. Tabulamos os dados e abordamos, no relatório, aspectos importantes para o desenvolvimento do nosso estudo, como, por exemplo, os projetos desenvolvidos, as dificuldades enfrentadas, os parceiros, as perspectivas futuras, entre outros. Diante do que foi apresentado, e levando em consideração a postura ética, as organizações entrevistadas foram classificadas de acordo com a área de atuação. Os resultados são apresentados através de tabelas, quadros e gráficos, facilitando, assim, a visualização dos dados obtidos.

A pesquisa nos permitiu identificar que grande parte das organizações entrevistadas é voltada para a área de atuação de crianças e adolescentes. Isso demonstra que a tendência de focalizar as ações em um determinado segmento populacional ainda está muito presente, pois são muitas as ONG’s que se preocupam somente com um público, deixando os outros (idosos, portadores de deficiência, negros, índios, etc.) para escanteio. Para fazer o atendimento, as ONG’s realizam as mais diversas atividades. São ofertados cursos de marcenaria, construção civil, pintura, etc. Os projetos desenvolvidos nessas organizações visam, de modo geral, contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos usuários e seus familiares. Nessa perspectiva, a parceria é um recurso utilizado para amenizar as dificuldades financeiras, materiais e/ou humanas, enfrentadas pelas ONG’s. Observamos, ainda, que além das dificuldades financeiras, as organizações possuem uma deficiência no número de funcionários, percebida claramente quando relacionada com o número de usuários atendidos. A estrutura física das ONG’s, também, foi apontada como uma questão que merece atenção, pois ela se torna inadequada para atender a enorme demanda. Enfim, as organizações realizam os seus trabalhos enfrentando diversas dificuldades, mas estão sempre buscando alternativas para melhor atingir os seus objetivos.

Os estudos realizados permitiram identificar que as ONG’s são instituições que expressam claramente o crescente processo de desresponsabilização do Estado no tocante à proteção social. Há um sucateamento das áreas da Seguridade Social, pela falta de investimentos do Estado e pela adotada política neoliberal, que insiste na não intervenção estatal. As ONG’s estão inseridas no chamado terceiro setor, que surge para preencher as lacunas deixadas pelo governo, quando este passa as suas responsabilidades à sociedade civil. Diante disso, essas organizações estão sempre em busca de parceiros, uma vez que a maioria apontou dificuldade financeira. Nesse cenário, os empresários desenvolvem ações sociais em conjunto com as ONG’s, através de contribuições em forma de funcionários voluntários, doações de roupas, alimentos, convênios, etc. O empresariado busca, assim como as ONG’s, atender os seus interesses. Eles procuram se adequar às novas exigências para a constituição de uma empresa socialmente responsável diante do mercado e da sociedade, através das ações de responsabilidade social, interna e/ou externa, conceito hoje muito difundido. A busca por selos e certificações também é uma constante, pois além de melhorar a imagem da empresa, aumenta os lucros com a atração de novos consumidores que se dizem preocupados com o social. Ficam claras, então, as razões pelas quais as ONG’s precisam buscar parceiros para o desenvolvimento de ações em benefício dos usuários.