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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

A DRAMATIZAÇÃO E A PROBLEMÁTICA DO ENSINO DE LITERATURA BRASILEIRA NO NÍVEL MÉDIO: UMA ANÁLISE DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS.

Tiago Cavalcante da Silva 1
Vitor Campos 1
(1. Universidade Federal do Rio de Janeiro)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa buscou verificar de que forma o uso da Dramatização, no trabalho com textos literários por parte de alunos de Ensino Médio do município do Rio de Janeiro, poderia concorrer para o estreitamento dos laços afetivos e intelectuais dos discentes com a Literatura Brasileira. Na presente etapa, empreendeu-se estudar se existia alguma distinção entre instituições públicas e privadas no tocante ao ensino da Arte Literária e ao uso da Dramatização como estímulo ao interesse do aluno pela literatura produzida no país.

Como é de domínio público, nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (1999), incorporou-se o ensino da referida disciplina ao de Língua Portuguesa, o que fez com que muitos professores, despreparados, passassem a usar o texto literário para ensinar gramática, levando, inconscientemente, muitos alunos a pensarem que a literatura só se destina ao aprendizado de regras gramaticais e que o seu estudo é, por isso, sobremodo fastidioso.

Nesse sentido, este projeto objetivou responder ao seguinte questionamento: o uso da Dramatização, nas aulas de Literatura brasileira do Nível Médio, pode constituir um meio para que muitos docentes deixem de utilizar a disciplina como ferramenta para o ensino de Português, fazendo com que os alunos a enxerguem como uma manifestação artística propriamente dita, capaz de lhes conferir valores culturais, estéticos e humanos, além de torná-los leitores mais críticos e proficientes?

Para o desenvolvimento deste trabalho, acompanharam-se as aulas de Literatura de uma instituição pública e uma privada, nas quais, através de uma metodologia de pesquisa colaborativa, observaram-se tanto a atuação dos docentes, quanto a receptividade dos alunos.

METODOLOGIA:

          A fim de se respaldar esta pesquisa com um adequado arcabouço metodológico, elegeu-se a Metodologia etnográfica. Segundo Lehay-Dios (2004: 14-5), a Etnografia ou “Observação participante”, como muitos a chamam, é: “[...] um método de pesquisa social que conta com vasto repertório de fontes de informação. Exige, por exemplo, que o etnógrafo participe das atividades diárias de uma classe, por um certo período de tempo, observando, ouvindo e perguntando, utilizando tudo o que estiver disponível para esclarecer os problemas que analisa. É fundamental nesse método de produção e análise de dados o caráter reflexivo da pesquisa social”.

Portanto, este tipo de metodologia exige do pesquisador um engajamento maior com a realidade analisada, com vistas à sua modificação. Nesse caso, os investigadores não registram apenas os problemas encontrados em seu objeto de estudo, mas também atuam factualmente sobre ele, em prol de uma mudança social.

            Com base nesta metodologia, realizaram-se as seguintes atividades: (a) Entrevistas por escrito com 28 discentes e, em áudio, com 8; (b) Atividade de leitura com a turma – canção “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, e uma reportagem sobre a Ditadura Militar, publicada em 11/04/2004, no Jornal do Brasil; (c) Gravações em áudio de entrevista com o docente; e (d) Dramatização de textos literários.

     

RESULTADOS:

A) Entrevistas com os alunos – Inst. pub: 1) 74,9% afirmaram, no questionário escrito, terem lido algum livro em 2005, enquanto que, no oral, apenas 65% deram tal resposta; 2) Na entrevista escrita, 78,5% responderam possuir até 40 livros em casa; na oral, 100% afirmaram ter, no máximo, 10 obras. Inst. priv.: 1)  Na entrevista escrita, 39% afirmaram preferir os livros, enquanto que, na oral, somente 16% ratificaram tal assertiva; 2) No questionário, 83% disseram ter uma média de 40 livros; na entrevista discursiva, 75% responderam ter, no máximo, 25 obras. a

B)  Atividade de leitura – Inst. pub.: 1) Imposição de leitura por parte do professor; 2) Trabalho com o texto à luz de estéreis aspectos formais; 3) Análise superficial dos aspectos sócio-históricos. Inst. priv.: 1) Interesse maior de alunos indisciplinados; 2) Não-abordagem de aspectos formais irrelevantes; 3) Estabelecimento de um vínculo entre sua mensagem e a atualidade.

C) Entrevista em áudio com os docentes – Inst. pub.: 1) Privilégio dos aspectos formais do texto; 2) Preferência pelo trabalho com história literária; 3) A gramática é um fator de maior importância no ensino de Língua. Inst. priv.: 1) Privilégio à interpretação global do texto em detrimento da gramática; 2) Trabalho com história literária, incluindo-se o texto, porém.

D) Dramatização – Inst. pub.: 1) Peças: Eu, pretinha (paradidático homônimo de Emílio Braz); "O vírus não discrimina ninguém" (autoria do docente, sem trabalho com nenhum texto); 2) Os alunos não leram Eu, pretinha, apenas receberam as falas do professor. Inst. priv.: 1) Peça baseada na Carta de Pero Vaz de Caminha; 2) Deu-se liberdade aos alunos para lerem o texto. A turma conseguiu criar idéias novas sobre a Carta.  

CONCLUSÕES:

Embora os resultados obtidos com a instituição privada tenham sido mais satisfatórios, deve-se levar em conta que a diferença no profícuo uso da dramatização não é devida a questões sócio-econômicas, mas sim ao grau de engajamento do professor a uma nova concepção de ensino. Tal postulado se corrobora, uma vez que, na primeira etapa (2004/2), foram alcançados resultados sobremodo positivos nas turmas da professora Kátia Cristina de Almeida, da Escola Técnica Estadual Juscelino Kubitschek – uma instituição pública.

Em resumo, advoga-se, com esta pesquisa, que o uso da Dramatização como meio de despertar o interesse dos alunos de Ensino Médio pela Literatura Brasileira só apresentará êxito se empreendido por professores capacitados e conscientes de seu papel como com educadores literários.

           

             

 

 

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ensino médio; Literatura; Dramatização.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006