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E. Ciências Agrárias - 6. Zootecnia - 5. Zootecnia

Freqüência de alelos Bos indicus específicos em amostras de carne bovina

Aline Silva Mello Cesar 1
Paula Ripamonte 1
Fernando Henrique Biase 1
Viviane de Abreu Nunes 1
Albino Luchiari Filho 1
Flávio Vieira Meirelles 1
(1. Universidade de São Paulo - USP)
INTRODUÇÃO:

Após o aparecimento de doenças como a encefalite espongiforme bovina (vaca louca) e outros problemas sanitários, os países da comunidade européia e outras regiões do mundo passaram a exigir a "rastreabilidade" dos produtos de origem animal. Entende-se por rastreabilidade a capacidade de resgatar, com rapidez e confiabilidade, o histórico de um produto e de seu processo de produção. Para o Brasil, detentor do maior rebanho bovino comercial do mundo, com mais de 180 milhões de cabeças e índices crescentes de produtividade, é fundamental garantir a sustentabilidade do segmento. Assim, a rastreabilidade é um importante integrante da cadeia para que se possa alcançar e manter a competitividade neste mercado altamente exigente e concorrido (Victorelli Neto, 2004). No sistema de rastreamento, várias características são importantes como: o sexo, a idade, a subespécie e o grau de mestiçagem dos animais, além de dados da cadeia produtiva. Embora a empresa certificadora disponha das informações referentes ao animal que está sendo abatido, não se pode garantir a ausência de erros durante as etapas de processamento da carne até que esta chegue ao consumidor final. As raças de bovinos domésticos podem ser classificadas em dois grupos, o europeu (Bos taurus) e o zebuíno (Bos indicus). Embora a nomenclatura clássica de Lineu considere esses grupos como espécies distintas, diversos autores têm sugerido que são subespécies (Manwell & Baker, 1980). Recentemente, marcadores moleculares têm sido utilizados para uma identificação mais precisa entre esses grupos. Nesse sentido, já foram identificados polimorfismos na seqüência do DNA mitocondrial (mtDNA) entre as raças de B. taurus e B. indicus em regiões variáveis (Loftus et al., 1994), assim como em regiões menos variáveis, como RNAs transportadores (Pegoraro et al., 1995). Recentemente, foi observada uma variação em um DNA satélite da região centromérica que introduz um sítio de restrição em parte das seqüências de animais B. indicus (Ripamonte, 2001). Estas sequências, geralmente localizadas na heterocromatina dos cromossomos, estão associadas com as regiões próximas aos centrômeros. (Charlesworth et al.,1994).

Analisando o DNA satélite 1711b de Bos taurus, Bos indicus e seus híbridos, foi observado que espécies intimamente aparentados podem possuir sequências variáveis destes satélites, o que pode ser utilizado como marcador para estudos da introgressão de genes de zebuínos em animais Bos taurus (Ripamonte, 2002). Atualmente diversos marcadores são reconhecidamente polimórficos entre animais Bos taurus e Bos indicus. O gene do receptor do hormônio luteinizante (LHR) contém um destes polimorfismos. Uma mutação pontual na posição 1328, que leva a uma troca de bases nucleotídicas citosina (C) por timina (T), que foi porteriormente confirmada por digestão com a enzima de restrição HhaI. Com a utilização desta foram observados três genótipos TT, CT e CC, que em Nelore especificamente foi observada uma predominância do alelo T (0,755 para o T contra 0,245 para o C) (Milazzotto, 2001).

Com base nestas evidências, o objetivo desse trabalho foi avaliar a freqüência de cortes derivados de machos e fêmeas bem como a freqüência de alelos Bos indicus específicos em amostras de carne bovina distribuída no mercado da região do estudo (Pirassununga).

METODOLOGIA:

Foram coletadas amostras de cortes comerciais de carne bovina em dez diferentes estabelecimentos comerciais da cidade de Pirassununga e o DNA genômico e mitocondrial das amostras foram extraídos por precipitação salina Cerca de 0,2 g de músculo foram pesados e em almofariz de 80 mL foi macerado com a utilização de Nitrogênio líquido. As amostras foram adicionadas de solução tampão proteinase K (Tris – HCl (pH 8.0), EDTA, NaCl e água ultrafiltrada) e digeridas com proteinase K por 3 horas e as proteínas foram precipitadas com solução de NaCl 5M. O sobrenadante foi precipitado com adição de acetato de amônio 3M e lavado com 3 volumes de etanol absoluto e 70%, obtendo-se o pellet em banho-maria a 50oC ou no vácuo por aproximadamente 45 minutos (Biase et al., 2002). O pellet obtido foi adicionado de água ultrafiltrada e homogeneizado numa velocidade de 150 rpm a 37oC por 2 horas de acordo com o protocolo descrito por Biase et al. (2002). O sexo foi determinado por PCR multiplex com um par de primers de seqüência repetitiva específica do cromossomo Y e outro de cromossomos autossômicos. Regiões do mtDNA (Ripamonte, 2002), stDNA 1711b (Ripamonte, 2002) e o gene LHR (Milazotto, 2001) foram amplificados por PCR e digeridos pelas enzimas Hind III, Msp I e Hha I, respectivamente. Os produtos de PCR-RFLP foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 2,0% contendo brometo de etídeo.

RESULTADOS:

Foi possível a obtenção da amplificação dos fragmentos de mtDNA, alelos referentes a sexagem, stDNA e LHR . Todas as amostras apresentaram padrão de digestão do mtDNA característico de animais B. taurus. Um terço das amostras eram de fêmeas e 66% de machos. Em relação ao stDNA foi observada uma menor freqüência de alelos B. indicus específicos (A) comparados à animais Nelore, sugerindo presença de animais Bos taurus ou mestiços. O SNP no gene LHR, mostrou correlação com stDNA (maior freqüência do alelo C: 0,54 que é característico de animais B. taurus. Finalmente, foi observado uma menor freqüência de alelos Bos indicus nos cortes de carne bovina das fêmeas, indicando possível participação de animais de descarte de propriedades que exploram a bovinocultura de leite.

CONCLUSÕES:

Mediante os resultados obtidos foi possível observar que os animais comercializados no mercado de Pirassununga são oriundos predominantemente do sexo masculino e possuem a freqüência de alelo B. indicus específico 20% menor quando comparado a animais Zebu puro. A metodologia utilizada permitiu avaliar características (sexo, subespécie) de uma amostra bovina abatida, podendo ter aplicação na certificação da origem de produtos cárneos comercializados, considerando ser um recurso auxiliar para a "rastreabilidade" da carne bovina.

Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: stDNA; carne bovina; polimorfismo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006