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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 9. Artes
TRAJETÓRIA ARTÍSTICA DE PAULO FOGAÇA
Rosane Andrade de Carvalho  1
Luís Edegar de Oliveira Costa 1
(1. Faculdade de Artes Visuais (FAV)- Universidade Federal de Goiás (UFG))
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa buscou reconstituir e analisar a trajetória do artista goiano Paulo Fogaça com o intuito de colaborar para o resgate da memória visual goiana, particularmente no campo das artes plásticas. A expectativa inicial é que esse trabalho contribua para uma melhor compreensão e maior valorização da produção do artista, ainda não completamente assimilada pelo circuito cultural goiano. E ainda, colabore com o desenvolvimento das pesquisas relacionadas à produção em artes plásticas do Centro-Oeste, especificamente em Goiás, cuja situação de carência de estudos e publicações dificulta a compreensão do percurso histórico da arte nessa região do país.

Paulo Fogaça (Morrinhos, Goiás, 1936 - ) viveu na cidade do Rio de Janeiro entre 1965 e 1975 onde iniciou e desenvolveu parte de sua produção artística. No Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro entrou em contato com as discussões e práticas presentes no meio artístico brasileiro, realizando trabalhos em linguagens tidas na época como experimentais – objeto, fotografia, audiovisual e filmes em super-8. Ainda nesse período participou de eventos significativos como o I Salão da Bússola em 1969 no Rio de Janeiro, EXPO-PROJEÇÃO 73: Som, Audiovisual, Super-8 e 16mm, XII Bienal de São Paulo e VIII Bienal dos Jovens de Paris, todos em 1973, dentre outros.

METODOLOGIA:

A metodologia utilizada nesta pesquisa pautou-se na análise bibliográfica de textos referentes à arte goiana e brasileira, especificamente aquela que contempla o período de produção do artista, anos 60 e 70; análises de jornais, catálogos, revistas e correspondências pessoais de Fogaça. Visitas aos acervos das instituições que possuem obras do artista – Museu de Arte de Goiânia, Museu de Arte Contemporânea de Goiás e Faculdade de Artes Visuais – UFG. E ainda, em encontros com o artista para realização de entrevistas. Estas basearam-se na metodologia sugerida por George Gaskell (2002) - entrevistas individuais e grupais.

As leituras, fichamentos e resenhas foram iniciadas a partir de textos de Aline Figueiredo (1979) que abordam a trajetória das artes plásticas no Centro-Oeste. Estas leituras iniciais proporcionaram uma contextualização histórica e social das artes plásticas na região Centro-Oeste e apontaram algumas causas do isolamento da arte goiana em relação aos grandes centros artísticos brasileiros. Em seguidas foram pesquisados textos específicos sobre as décadas de 60 e 70. Os livros de Marília Andrés Ribeiro (1998), Daisy Piccinini (1999), Frederico Morais (1975), Aracy Amaral (1973;1987), dentre outros,  serviram como fontes para a análise das questões que permearam o contexto sócio-cultural e artístico daquele período.

O levantamento da produção do artista ocorreu nos acervos das instituições públicas investigadas e no acervo particular do artista, local onde se encontra a maior parte de sua produção. Nessa fase da pesquisa foram confeccionadas fichas de catalogação de obras e de documentos com base nos cadernos de André Porto Ancora (2002) e o registro imagético dos mesmos. As imagens das obras compõem as fichas catalográficas.

A partir das fichas de catalogação realizou-se a análise pré-iconográfica das obras. Essas análises foram acrescidas, confrontadas com os estudos de autores que descrevem o momento histórico das artes brasileira e goiana quando Fogaça produziu a sua obra. O resultado desse processo possibilitou a elaboração da cronologia comentada dessa produção em que se buscou identificar fases ou períodos no processo artístico de Paulo Fogaça.

RESULTADOS:

O levantamento e catalogação das obras e da bibliografia realizados nessa pesquisa proporcionaram a elaboração de um texto sobre a produção de Paulo Fogaça e sua relevância para a História da Arte Brasileira, sobretudo goiana, que foi apresentado no II Encontro de Reflexões sobre o Ensino de Arte promovido pela Faculdade de Artes Visuais – UFG, em novembro de 2004. Ainda nesse evento foi apresentado o resultado parcial da pesquisa que gerou a elaboração de um CD-ROM educativo intitulado “Proposta de Percurso Educativo na Obra de Paulo Fogaça”. Este material foi finalizado e apresentado dentro do Trabalho de Conclusão do Curso de Artes Visuais – Licenciatura de 2005.

“Proposta de Percurso Educativo na Obra de Paulo Fogaça” constitui-se como um recurso educativo multimídia composto por informações sobre a trajetória artística de Fogaça, contendo a relação das suas exposições individuais e coletivas, biografia resumida, contexto histórico-cultural e político em que a sua produção está inserida. E ainda, relação da produção do artista organizada cronologicamente e por linguagens, propostas de atividades pedagógicas a partir de imagens das obras catalogadas, glossário e sugestões bibliográficas.

Esta pesquisa gerou também uma apresentação e publicação no VI Seminário de Pesquisa - Visualidades contemporâneas: transpondo fronteiras, realizado na Faculdade de Artes Visuais em dezembro de 2005. E ainda, a produção de um texto que será parte do livro a ser publicado pela UFG contendo os projetos contemplados no III Prêmio de Iniciação Cientifica da Universidade no ano de 2004-2005.

CONCLUSÕES:

A reconstituição da trajetória de Paulo Fogaça revelou o seu posicionamento enquanto artista-pesquisador, bem como, a sua atuação pioneira na inserção das questões da arte contemporânea em Goiás e das novas mídias e linguagens na arte brasileira. O trabalho de Fogaça representou uma possibilidade de deslocamento da estética vigente em Goiás nas décadas de 60 e 70, que se pautava na tradição pictórica e expressionista. 

Utilizando-se de diferentes linguagens o artista comenta a condição do indivíduo frente à atmosfera cerceadora dos anos 1960 e 1970, promovida pela ditadura militar, e ainda as problemáticas existentes no meio rural. Fogaça revela a sua visão crítica diante da situação social e política brasileira, bem como, a consonância de sua pesquisa plástica com as discussões existentes no meio artístico daquele período. Trata-se, portanto, de uma produção apoiada nas relações mantidas entre a realidade sócio-política e cultural existente no Brasil nas décadas de 60 e 70, e nas imagens existentes em seu local de origem. Sua produção reflete e denuncia o estado de censura, violência e cerceamento, vivido pela sociedade brasileira durante o arrocho político e aponta para aspectos de identificação da cultura goiana. Esses índices de identidade aparecem na escolha dos elementos que compõem seus objetos escultóricos e nas imagens que ele utiliza em suas serigrafias. Em Hieróglifos, uma série de trabalhos em serigrafia, desenho e audiovisual, a farpa e o arame farpado – elemento pertencente ao mundo rural – são tomados como signo da violência existente no país. Em Bichomorto, audiovisual de 1973, Fogaça delata a violência da cidade e do campo deixando desvelar a fragilidade do homem frente a esta realidade.

Nesse sentido, podemos afirmar que se trata de uma produção que guarda relações iconográficas e simbólicas com o tempo e espaço em que foi realizada.

 

 

 

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Paulo Fogaça; Arte brasileira; Cultura goiana.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006