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C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 5. Genética Vegetal
AVALIAÇÃO DE ETNOVARIEDADES DE BATATA-DOCE (Ipomoea batatas (L.) LAM.) DO VALE DO RIBEIRA UTILIZANDO MICROSSATÉLITES (SSR)
Aline Borges 1
Mariana Silva Rosa 1
Jurema Rosa de Queiroz Silva  1
Eduardo de Andrade Bressan 1
Fernanda de Andrade Scopin Spironello 1
Elizabeth Ann Veasey 1
(1. Departamento de Genética, ESALQ/USP)
INTRODUÇÃO:

A batata-doce pertence à família Convolvulaceae e gênero Ipomoea, no qual é constituído de espécies cujos níveis de ploidia podem variar (2x, 4x, 6x), sendo basicamente x=15. A espécie cultivada, batata doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.), apresenta tipos tetraplóides e hexaplóides, com 2n=90 cromossomos nas hexaplóides (Sinha & Sharma, 1992). Com relação ao sistema reprodutivo, a batata-doce é uma espécie alógama que é vegetativamente propagada, sendo que cada cultivar é um clone. As flores apresentam auto-incompatibilidade, o que resulta em alogamia e aumenta a heterozigosidade genética (Thompson et al., 1997).

O objetivo deste trabalho é constatar a presença de variação genética entre etnovariedades de batata-doce (I. batatas) provenientes de roças de agricultura tradicional do Vale do Ribeira, SP, assim como avaliar o grau de diversidade genética entre as unidades evolutivas (entre e dentro de roças e comunidades) usando microssatélites.  As etnovariedades de batata-doce provenientes de roças de agricultura tradicional representam uma variabilidade gênica que deve ser preservada e estudada, de forma a contribuir para possíveis programas de melhoramento genético e conservação in situ da espécie.
METODOLOGIA:

Extraiu-se DNA de 85 amostras de batata-doce (I. batatas), originária de agricultura tradicional do Vale do Ribeira, através do protocolo de Doyle & Doyle (1987), com modificações. O

DNA foi quantificado em gel de poliacrilamida (4%), corado com nitrato de prata. Assim, foi possível obter mesma quantidade de DNA para todas as amostras. Estas foram então submetidas à reação de amplificação (PCR) dos microssatélites com a utilização do seguinte programa: 3 min a 95ºC; 5 ciclos de 45 seg a 94ºC, 15 seg (51ºC a 62ºC), 45 seg a 72ºC; e 20 ciclos de 1 min a 90ºC, 1 min (51ºC a 62ºC), 1 min a 72ºC; e 7min a 72ºC. Foram utilizados 8 primers previamente selecionados (Ib-316, Ib-318, Ib-255F1, Ib-255, Ib-286, Ib-297, Ib-242, Ib-248) do protocolo de Buteler et al. (1999). Após a amplificação, separação em gel de poliacrilamida (6%) e coloração com nitrato de prata pôde-se visualizar os locos de microssatélite.

Como se trata de espécie hexaplóide, não foi possível interpretar os zimogramas considerando-se locos e alelos. Desta forma, os dados foram avaliados como presença ou ausência de bandas (fenótipo), como se fossem marcadores dominantes. Com os dados binários foi realizada uma análise de variância molecular para marcadores dominantes (AMOVA), utilizando o programa Arlequin (Schneider et al., 2004), assim como uma análise de agrupamento considerando o coeficiente de similaridade de Jaccard e o método aglomerativo UPGMA, utilizando-se o programa NTSYSpc (Rohlf, 1992).
RESULTADOS:

Pela análise de agrupamento observou-se que não houve formação de grupos bem definidos, de acordo com a origem das amostras, provavelmente em função da troca de materiais entre vizinhos e parentes.  Observa-se ainda grande diversidade genética, com o coeficiente de similaridade de Jaccard variando de 0,28 a 1,00.

Por ocasião das coletas, foram amostradas ramas da mesma variedade, cuja hipótese é que fossem possíveis clones.  No entanto, muitas dessas plantas mostraram padrões de bandas divergentes entre si, verificando-se assim a existência de polimorfismo intravarietal, fato que viria a confirmar a grande variação na cultura de batata-doce.

A AMOVA detectou que a maior parte da variabilidade genética encontra-se distribuída dentro de roças (60,44%), seguida pelas diferenças entre roças dentro de comunidades (25,14%), e, finalmente, pela variação entre comunidades (14,42%). Este resultado é condizente tanto com o sistema reprodutivo por alogamia apresentado pela cultura da batata-doce como pelo amplo sistema de trocas de materiais entre os agricultores tradicionais e pelo interesse desses agricultores em manterem diferentes variedades em suas roças.
CONCLUSÕES:
Os dados confirmaram a existência de grande variabilidade genética mantida pelos agricultores tradicionais do Vale do Ribeira para a cultura da batata-doce, principalmente dentro de roças, em decorrência de fatores como o sistema reprodutivo e tipo de manejo dos agricultores tradicionais.
Instituição de fomento: FAPESP, CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Batata-doce; Agricultura tradicional; Microssatélite (SSR).
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006