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G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica

Análise Tecno-Tipológica da Indústria lítica do Sítio SC-FS-01

Daniela da Costa Claudino 1
Deivid Felipe Mauricio  1
Deisi Scunderlick Eloy de Farias  1
(1. GRUPEP-Arqueologia – UNISUL – Campus Sul)
INTRODUÇÃO:

O levantamento arqueológico realizado em 2003 no Extremo Oeste catarinense, ocorreu em função da construção da PCH Flor do Sertão. A área definida para a implantação do empreendimento abrange um dos trechos do rio das Antas e envolve os municípios de São Miguel d’ Oeste, Flor do Sertão, Romêlandia e Descanso. Durante a prospeção arqueológica realizada nesses municípios foram identificados dois sítios líticos: o SC-FS-01 e o SC-FS-02, ambos em Flor do Sertão, situado na microrregião de Chapecó, a 647 km de Florianópolis. O primeiro sítio a ser escavado foi o SC-FS-01. Localizado numa área de várzea às margens do rio das Antas (parte da Bacia Hidrográfica do rio Uruguai), apresenta uma zona de contato entre a vegetação da Floresta Estacional Subcaducifólia e a Floresta Ombrófila mista. A geologia local é representada por basaltos da formação Serra Geral e arenitos Botucatu. Resgatamos do sítio uma pequena quantidade de cerâmica, escassa e incipiente, e quantidade considerável de material lítico, representante de uma indústria de lascas. Foram analisadas 3.280 peças líticas, utilizando os seguintes itens: forma básica das peças, matéria-prima utilizada pelo grupo e técnicas para a confecção de artefatos. Constatamos que as técnicas mais utilizadas para a confecção de artefatos são o lascamento e o polimento. A área de captação da matéria-prima utilizada pelo artesão estaria localizada próximo ao local de ocupação do grupo, isto é, as margens do rio das Antas.

METODOLOGIA:

O material lítico resgatado passou por três etapas em laboratório: higienização, catalogação e análise tecno-tipológica. A análise tecno-tipologica tem por objetivo compreender a cadeia operatória das indústrias líticas dos grupos pré-coloniais. Este tipo de análise está diretamente relacionado à tecnologia utilizada pelo artesão para a confecção dos artefatos. Utilizamos como referencial teórico COLLINS (1929); DIAS (1994,1995); FARIAS (2005); HAMEISTER (1998); HOELTZ (1995, 2000, 2003); LAMING-EMPERAIRE (1967); MILLER JR (1969); MORAIS (1983, 986); PROUS (1986/1990, 1992, 2004); e VIALOU (1980). Para fazer a análise atribuímos uma lista de tipos que caracterizam tecnologicamente os artefatos líticos de Flor do Sertão. Procuramos avaliar na pesquisa: a forma básica; a matéria-prima; o estado de preservação; as medidas (que incluem comprimento, largura e espessura), a quantidade de superfície natural, a origem da matéria-prima, os tipos de lascas e de plano de percussão (direto e indireto); os tipos de núcleo e de plataformas; a forma dos artefatos unifaciais e bifaciais; a base de redução inicial; a posição das cicatrizes; os tipos de artefatos brutos e polidos; e o tipo de modificação e sua respectiva localização. Para obtenção dos resultados utilizamos um banco de dados, montado a partir da plataforma do Excel onde desenvolvemos um aplicativo que nos possibilitou o cruzamento dos dados; utilizamos métodos quantitativos demonstrando semelhanças e diferenças tipológicas entre os materiais analisados e qualitativos onde avaliamos o material resgatado numa perspectiva antropológica e etnográfica.

RESULTADOS:

Na região de Flor do Sertão ocorrem afloramentos de rochas vulcânicas associados à calcedônia e quartzo e de arenitos friáveis e silicificados. Esses também se encontram disponíveis às margens do rio das Antas. A matéria-prima mais utilizada para a produção dos artefatos líticos era o arenito silicificado (43,5%), seguido do basalto (22,9%), quartzo (18,8%), calcedônia (7,9%) e do arenito (6,9%). As formas básicas são representadas por lascas (50,4%), detritos (16%), núcleos (11,1%), fragmentos de lascas (3,8%), artefatos polidos (4,9%), blocos naturais (4,5%), termóferos (1,5%), artefatos brutos (4,7%), artefatos unifaciais e bifaciais (3,1%). A maioria das peças está sem a parte cortical; nas que encontramos, percebemos que 29,9% são provenientes de seixos e apenas 9,2% são confeccionadas a partir de blocos. O tipo de lasca que mais se destaca é a lasca de preparação (70%); o artefato polido foi representado pelos amoladores (22,3%); 63% dos artefatos brutos são multifuncionais e, em relação à forma de artefatos unifaciais e bifaciais, constatamos que 35% são triangulares. Através dos dados obtidos, percebemos que há uma combinação de lascamento unipolar com arenito silicificado e o lascamento com quartzo.

CONCLUSÕES:

O grupo pré-colonial que estava assentado próximo ao rio das Antas, possui características semelhantes à fase Guatambu (Piazza, 1968), considerada proto-ceramista pelo fato de terem inserido tardiamente a cerâmica em sua cultura. Com a análise lítica, vimos que o grupo utilizava fontes secundárias (seixos) para a produção artefatual. A ausência de lascas corticais indica que os artesãos estavam iniciando o lascamento em outro local, que não o sítio habitacional escavado. A indústria lítica é caracterizada pela predominância de lascas de preparação unipolares e por uma quantidade razoável de núcleos. Observamos uma relação entre os tipos de lascamento e a matéria-prima utilizada, por exemplo: arenito com o lascamento unipolar e quartzo com o lascamento bipolar. As peças polidas estão associadas a um basalto completamente oxidado. Entendemos que a disponibilidade de matéria-prima é uma das condições mais importantes na produção de artefatos. Assim, o local de assentamento torna-se um ambiente favorável para a ocupação mais estável desse grupo, uma vez que o rio das Antas disponibilizava água e alimento (peixes e moluscos) bem como matéria-prima em forma de seixos e geodos.

Instituição de fomento: UNISUL – PUIC – Programa UNISUL de Iniciação Científica
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: indústria lítica; SC-FS-01; lascamento .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006