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G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
CASAMENTO DE ESCRAVOS - SÃO JOÃO DEL REI, SÉCULO XVIII E PRIMEIRA METADE DO XIX

 

Silvia Maria Jardim Brüggger 1
Denilson de Cássio Silva 1
(1. Universidade Federal de São João del Rei)
INTRODUÇÃO:

    

Esta pesquisa é fruto do projeto de iniciação científica, intitulado “Relações Familiares de Escravos (São João Del Rei; século XVIII e Primeira Metade do XIX)”, da professora doutora Silvia Maria Jardim Brügger (DECIS – UFSJ) e integra um projeto coletivo mais amplo, chamado “Sociabilidades e Identidades: Negros, Afro-descendentes e Mestiços em São João Del Rei – Séculos XVIII e XIX”, coordenado pela professora doutora Maria Teresa Cardoso e financiado pela FAPEMIG. O presente estudo é uma tentativa de desvendar os dispositivos sociais que regularam as relações escravistas em Minas Gerais e, mais, especificamente, em São João Del Rei, efervescente ponto cultural, social e econômico do Brasil escravista. Tendo por base registros paroquiais de casamento e batismo, além de inventário post-mortem, encetamos uma análise com ênfase nas experiências vividas por famílias escravas, ressaltando comportamentos refletidos em escolhas conjugais que se identificaram com tendências exogâmicas e endogâmicas.                    Entendemos, pois, os escravos como agentes históricos. Mais do que atribuir um caráter possivelmente ameno à relação senhor-escravo ou conferir um aspecto de simples mercadoria tomada pela violência, às pessoas escravizadas, desejamos apreender a complexidade das relações escravistas. Complexidade esta formada por revoltas e acordos, permuta de valores e culturas, equilíbrio entre rispidez e moderação, efetivação de alianças e enfrentamentos.  

METODOLOGIA:
Os procedimentos metodológicos consistiram na consulta a bancos de dados sobre casamento e batismo de escravos e na elaboração de fichas relativas à família cativa, nas quais foram reunidas as informações dos registros eclesiásticos. A quantificação dos tipos de arranjos matrimoniais efetivados e a leitura e sistematização dos conteúdos de inventários post-mortem e testamentos, a partir de buscas nominais, também integram a metodologia. Por último, cruzamos e problematizamos todas essas informações. No intuito de visualizar as teias sociais outrora construídas, embasados por leituras bibliográficas, empreendemos análises quantitativas e qualitativas, sobre o coletivo e o individual.
RESULTADOS:
Cerca de 2.000 fichas de casais de escravos montadas; números brutos e percentagens, calculados e organizados em quatro tabelas, relativas às origens e condição dos nubentes. Constatamos a existência de vínculos entre pessoas de diferente e de mesma condição, de uniões mistas, entre africanos e crioulos, e orientações endogâmicas e exogâmicas entre africanos.O perfil das escolhas conjugais dos escravos, em São João del Rei, apresentou o predomínio de enlaces entre pessoas de mesma condição, sendo menos freqüentes os enlaces entre cativos e forros. No universo de matrimônios de escravos, os africanos casaram-se mais que crioulos, ao longo de todo o período estudado, também ocorrendo, em menor número, uniões entre indivíduos dessas duas categorias. Entre os africanos, constatamos uma expressiva ocorrência de endogamia, acompanhada também por índices significativos de exogamia.No estudo de caso de uma escravaria de grande porte, aferimos a existência de cinco casais de escravos, com diferentes idades matrimoniais e crianças, na mesma unidade de produção.
CONCLUSÕES:
Embora menos freqüente, a união de escravos e forros era uma alternativa possível para o estabelecimento de vínculos matrimoniais. Por diversas razões sócio-culturais, os escravos casaram mais entre si. Por sua vez, africanos optaram, freqüentemente, por parceiros com os quais teriam possíveis afinidades étnicas, fato que reflete um comportamento endogâmico. Assim, ao verificar como o casamento de escravos apresenta características que denotam diferentes interesses e critérios de escolhas, conhecemos de modo melhor os vínculos de sociabilidade e identidade da população cativa, na Vila de São João del Rei e seus distritos, povoados e arraiais.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Escravidão; Sociabilidade; Casamento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006