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C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 2. Genética de Microorganismos

CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DA RESISTÊNCIA À METICILINA E RIBOTIPAGEM-PCR DE AMOSTRAS DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS ISOLADOS DE INFECÇÃO NOSOCOMIAL

Wagner Luis Mendes de Oliveira 1
Marinalda Anselmo Vilela 2
Tereza Cristina Leal-Balbino 1
Nilma Cintra Leal 1
(1. Dpto. Microbiologia, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/CPqAM-FIOCRUZ; 2. Instituto de Ciências Biológicas, Hospital Universitário Osvaldo Cruz/ ICB-HUOC)
INTRODUÇÃO:

A resistência de estafilococos à meticilina está associada com a aquisição do SCCmec (staphylococcal cassette chromosome mec), responsável por codificar uma PBP adicional, PBP 2’ou PBP 2a, a qual possui baixa afinidade à meticilina e outros beta-lactâmicos derivados (HIRAMATSU et al.,2001). A expressão do gene mecA resultando na produção de PBP 2’ é regulada pelos elementos mecR1 e mecI (SHARMA et al.,1998). Coadjuvante na expressão do gene mec, está o gene femB responsável pela incorporação das duas últimas glicinas na ponte de pentaglicina, presente na parede celular desses microrganismos (BERGER-BACHI et al.,2003).

Técnicas moleculares como fingerprints de DNA genômico e plasmidial, RFLP de fragmentos amplificados por PCR e RAPD estão sendo utilizados na diferenciação das cepas meticilina-resistente (NAWAS et al.,1998). A seqüência conservada da região espaçadora 16S-23S são indicadores diretos e estáveis da divergência evolucionária de cepas de Staphylococcus. Neste estudo nosso objetivo foi investigar em isolados do gênero Staphylococcus, associados à infecções nosocomiais, a presença do gene de resistência a meticilina, mecA e seus reguladores, mecI e mecRI, além da amplificação do gene femB, envolvido na síntese de parede celular (BEGER-BACHI,1994; PEREZ-ROTH et al.,2001) e determinar a inter-relação filogenética entre os isolados através da análise da região espaçadora do rDNA 16S-23S (KOSTMAM et al.,992).
METODOLOGIA:

Um total de 119 amostras do gênero Staphylococcus foram estudadas. Todas as amostras foram provenientes de um hospital universitário, da cidade do Recife/PE, caracterizadas como de infecção hospitalar segundo normas da ANVISA e sob aprovação do Comitê de Ética do hospital. O isolamento e identificação das culturas foram realizados no Laboratório de Bacteriologia do próprio hospital. O perfil de suscetibilidade à oxacilina foi realizado utilizando uma suspensão direta das colônias e testado em duas concentrações diferentes de oxacilina: difusão com disco de oxacilina-1mg e ágar Müeller Hinton suplementado com 4% de NaCl, contendo 6mg de oxacilina/mL, segundo normas do NCCLS (2003). Para análise molecular, colônias individuais foram crescidas em caldo BHI (Biobrás) por 24 horas a 37°C. A partir deste crescimento foi extraído o DNA total seguindo o protocolo de Maniatis et al. (1989). Através da técnica de multiplex-PCR com iniciadores específicos foi verificada a presença dos genes mecA e femB. As presenças dos genes reguladores e a amplificação da região espaçadora 16S-23S do rDNA foram confirmadas por PCR simples. Os produtos destas amplificações foram separados através de eletroforese em gel de agarose, corados com brometo de etidio, visualizados em transluminador UV, digitalizados e analisados. Para compreensão da inter-relação filogenética foi construída uma árvore utilizando o software NTSYSpc2, estimado o coeficiente DICE e agrupado pelo método UPGMA.

RESULTADOS:

Com base na identificação bioquímica das 119 amostras isoladas, 87 foram classificadas como S. aureus e 32 como Staph. Coagulase Negativo (SCN). O perfil de suscetibilidade in vitro à oxacilina mostrou um alto percentual de resistência entre os SCN (68,7%). Os genes de resistência, mecA e femB, foram amplificados com tamanho esperado de 310pb e 615pb, respectivamente. O gene mecA foi positivo em 68,1% (n=81) dos isolados, sendo que desse total 87,5% (n=28) eram SCN e 60,9% (n=53) eram S. aureus. Foram considerandos pré meticilina resistente (pré-MRS) 26 isolados do gênero (7 SCN e 19 S. aureus), por apresentarem um perfil fenotípico de sensibilidade nas duas concentrações de oxacilina, embora tenham amplificado o fragmento correspondente ao gene de resistência, mecA. Os genes reguladores foram detectados em parte desses isolados. O gene mecI de repressão da PBP2a estava presente em algumas cepas pré-MRS e nestas também foi identificados o gene mecR1 (promotor), esclarecendo a sensibilidade ao antibiótico. A técnica de ribotipagem foi estável e reprodutível. O perfil gerado apresentou de duas a cinco bandas variando entre 680 a 1100pb. Com base na análise desse resultado e utilizando o programa NTSYSpc2 foi possível agrupar as amostras em onze ribotipos.

CONCLUSÕES:

Foi detectada heterogeneidade genética entre os isolados estudados. Um alto número de amostras apresentou o gene mecA, sendo algumas destas consideradas pré-MRS por apresentarem sensibilidade às diferentes concentrações de oxacilina testadas. Esta característica se justifica com base em resultados de estudos preliminares no qual a presença do gene repressor da síntese de PBP2a, mecI, foi confirmada. Chama atenção a emergência de Staphylococcus Coagulase Negativo (SCN) resistente à meticilina naquele hospital, causando preocupação devido a esses microrganismos estarem relacionados com a microbiota normal de pele e serem capazes de colonizar cateteres intravasculares, levando pacientes em estado de comprometimento imunológico à situações patológicas mais severas.

Instituição de fomento: CNPQ, FIOCRUZ, FACEPE
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: MRS; Ribotipagem-PCR; SCCmec.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006